A SONHADORA EMMA BOVARY: Uma análise do perfil da protagonista

A Sonhadora Emma Bovary

Madame Bovary, de autoria de Gustave Flaubert, é um romance realista bastante polêmico para a sua época (1856). É uma obra que trata de adultério e retrata uma sociedade provinciana bastante moralista, que não “combina” com a personalidade romântica de Emma Bovary, a protagonista da história. Este texto tratará de analisar com mais profundidade o seu perfil.

Emma Bovary é uma mulher que sonha muito, bastante romântica e um tanto ingênua em algumas ocasiões. Ela é uma ávida leitora de romances românticos e espera que sua vida seja repleta de amores tórridos e proibidos e muitas aventuras, as quais ela vivencia em suas leituras. É, pois, uma literatura de ilusão, que aflige sua alma e, até mesmo, perturba sua personalidade.

Emma, que casou com o médico Charles Bovary, demonstra sentir uma expectativa em relação ao seu casamento, uma expectativa idealizada pela leitora Emma. Antes mesmo de ter casado, ela fez brotar em si mesma sensações que foram frutos de sua imaginação com base nas leituras de romances.

Também é narrada sua história de vida, desde criança até chegar à vida de casada. Pode-se perceber o seu perfil de leitora e idealizadora. Percebe-se que Emma leu Paulo e Virgínia e deu vazão a sonhar com os personagens e cenários. Após, ela vai para o convento. Lá, ela vive afastada das pessoas e tem uma rotina na qual não acha graça. Então, ela vivencia uma rotina em sua mente paralela à vida que leva no convento. Lá, isolada, Emma se permitia tirar suas conclusões a partir das histórias que ela lia ou lhe eram contadas.

O convento, enfim, foi um lugar que fez aflorar uma pessoa sonhadora, pois vivia enclausurada e não tinha contato com o mundo lá fora, com exceção de uma senhora que, às vezes, levava algum romance às escondidas, levava recados, narrava histórias, entre outros.

Por viver isolada, aliada a leituras dos romances, ela aflorou em sua personalidade o lado sentimental e o idealismo. Emma sonhava acordada com as histórias que lia e se encantava com elas na tentativa de fugir da rotina de sua vida.

Depois, o romance retoma a vida dela como recém-casada. Ela visualiza no seu casamento com Charles a forma de realizar os sonhos e tudo o mais que vivenciou nos romances. Já, na lua-de-mel ela se angustia, pois percebe que a felicidade-modelo que ela leu nos livros não vem. Desejava o luxo e o encantamento da vida aristocrática. Sua angústia a leva a se tornar instável internamente a ponto de desejar encontrar outro homem que seja parecido com os esposos de suas heroínas.

Quando Emma e Charles são convidados para o baile do Marquês d’Andervilliers, ela percebe que “aquele mundo de luxo e ostentação” é o que ela realmente sempre sonhou para sua vida. Após esse baile, quando volta a sua casa, Emma não pôde se desligar do que ela viu e se maravilhou. A tal ponto que chega a pensar que “àquela era uma existência superior às outras”.

Esse pequeno trecho faz referência ao Romantismo, em que os personagens são seres superiores e perfeitos. Naturalmente, Emma era ingênua e lia muitos romances e, por conseqüência entrava em choque com sua realidade diferente. Então, ela entrava em crise ao perceber que o mundo de fantasia, alimentado pelos romances, era diferente do que imaginava.

Seu sofrimento devido a sua vida entediante a leva a adoecer e começa a ter crises nervosas. Então, ela e Charles mudam para outra cidade a fim de que “aquele quadro de tédio e doença dos nervos” termine.

Mais adiante, ela tem um envolvimento com León e pensa estar vivendo “um grande amor”. Depois o relacionamento é impossibilitado de continuar... Então, Emma volta a ser instável e a ter crises nervosas.

Mais tarde, Emma se envolve com Rodolphe, alimentando ainda mais seus desejos com base na literatura dos romances. Passada a fase de encantamento, Rodolphe torna-se indiferente. Então, Emma se aflige e se torna infeliz novamente.

Mais adiante, Charles Bovary tem uma oportunidade de fazer uma cirurgia, que pode levá-lo a ser um médico renomado. Emma, então, passa a considerá-lo, tendo em vista que seu marido pode ter um lugar de destaque na sociedade. No entanto, a cirurgia não teve êxito e Emma fica decepcionada com a mediocridade dele. Então, ela volta a se reencontrar com Rodolphe e passa a sentir desprezo por tudo que se relacione ao marido. Tentou fugir com seu amante, mas ele não quis assumi-la de fato. Então, Emma volta a adoecer com mais essa desilusão.

Após sua recuperação, ela vai ao teatro e se identifica com a personagem principal que foge ao casamento e mantém uma paixão por outro.

Emma havia mudado com suas frustrações amorosas. Ela tentou se parecer com as heroínas que lia nos romances e, percebeu que a vida é mais amarga do que ela pensava. Então reencontra Léon e volta a ser sua amante. Mas desta vez, ela não é mais aquela mulher apaixonada por repleto. Apenas deseja escapar da agonia que se tornou sua vida. Outra vez, o relacionamento entra na rotina...

Emma, não consegue mais resolver suas frustrações através dos seus relacionamentos, então vira uma consumista. Contrai dívidas altíssimas com o comerciante L’eurex que levam sua família à ruína.

Diante da ruína e da impossibilidade de se inspirar na literatura para se salvar, Emma consegue um pote de arsênico na farmácia de Homais e resolve acabar com sua vida.