maMãe e sua valise descolorida pelo tempo

“... Quantas vezes tenho de cobrir / o tempo com xales escuros, / para que a luz não fuja...” (Luiz de Miranda)

Diante da valise descolorida pelo tempo, lotada de lembranças, decidi descobrir sobre a mamãe. Encontro perguntas que ocupam espaço no coração e não podem se espremer na valise: sobre o que é o tempo...

- perto da grandiosidade do seu coração?

- perto da mãe incrível que distribui generosidades?

- perto do carinho e atenção que dedica?

- perto da escolha que faz para viver em paz?

- perto do acordar com alegria, iluminando a vida?

- perto da poesia de Pedro Du Bois: “... a mesma mala, o bilhete; o corpo

em sonhos; a sensação perfuma a casa...”

- perto da sua preocupação para com a família?

- perto do que acredita e repassa?

- perto da sua lealdade e honestidade?

- perto do poema de Chico Buarque: “mulher vou te dizer

o quanto te amo, cantando a flor / que nós plantamos”?

- perto dos seus escritores, Mário Quintana e Paul Auster?

O poeta Noélio A. de Mello diz, “o tempo nos conta o que não queremos esquecer”.

Brinco enquanto remexo em seus objetos que revelam as faces do tempo, porque o tempo significa a vida, o presente do passado na memória, o presente do presente no sentimento e o futuro na procriação.

Continuo remexendo na valise e encontro duas caixas desbotadas e logo penso em abri-las, mas Lindof Bell alerta que “Os cadeados / que o tempo carrega / carrego dentro de mim...” Tenho que abri-la para fazer valer o meu desejo: a caixa amarelada mostra que o melhor sobre o tempo é que ele acontece apenas uma vez, e nos diz que a mãe é a responsável pelas mudanças, é a alma do tempo. Ela faz refletir sobre a minha trajetória, lembrando o que sempre ouvi: não espere a mudança, seja a mudança. Na outra caixa avermelhada vejo e digo, mãe, seu tempo é hoje! E o meu recado é o que Cora Laus deixou, “O belo é sentir o hoje”. E estar com as mães é comemorar o amor, partilhar a sua sabedoria e experiência, realizar os nossos sonhos.