A IMAGEM DO NEGRO NA LITERATURA: PRÁTICA REFLEXIVA
Sirlane Santos Silva*
RESUMO
O presente artigo é composto por descrições acerca das observações e experiências vivenciadas no período de regência que baseou-se no projeto intitulado A imagem do negro na Literatura. Encontram - se descrito neste trabalho não só as observações a partir da sala de aula, como também, de todo o ambiente escolar o qual foi desenvolvido o projeto supracitado. No decorrer do desdobramento do Estágio Supervisionado de Língua Portuguesa e Literatura IV, busquei realizar um movimento de interação com o projeto desenvolvido na escola sobre Africanidade, o mesmo foi ministrado no período da IV unidade no Centro Educacional Deocleciano Barbosa de Castro, na turma da 2ª Série A do Ensino Médio modalidade normal. Tendo em vista realizar ações que promovessem a aprendizagem dos alunos, foquei na utilização no gênero poema, com o propósito de envolver os estudantes na leitura, interpretação e aprendizagem da gramática contextualizada, onde fomos construindo diversos significados. Para tanto, utilizei como base teórica textos de autores brasileiros que falam sobre a questão da representação do negro na literatura; leitura dos Parâmetros Curriculares Nacionais; textos referentes ao Naturalismo, Simbolismo e Parnasianismo, todos trabalhados em sala de aula “casados” com o projeto desenvolvido na escola. Autores como: Afrânio Coutinho; Aluísio de Azevedo; Evanildo Bechara; Olavo Bilac; Conceição Evaristo e Cruz e Sousa foram trabalhados de forma que, nos momentos das discussões, fossem ganhando significados, atribuindo no entanto, sentido ao texto literário, tudo isso, tomando o cuidado necessário para não transmitir aos alunos os mesmos juízos de valores, mesmo consciente de que os textos proviessem de contextos diversos. A aplicação metodológica utilizada partiu da utilização de mostra de filmes e imagens com intuito de envolver e instigar os alunos a participarem das aulas, tornando as mesmas mais significativas para a prática cotidiana de cada indivíduo. Dessa forma, obtive os seguintes resultados: os alunos começaram a enxergar a imagem como um texto; o texto poético passou a ser mais fácil de ser compreendido; a gramática deixou de ser vista como um amontoado regras obrigadas a serem decoradas e as aulas de literatura deixaram de serem densas e monótonas.
PALAVRAS- CHAVE: Literatura- Prática- Reflexão.
INTRODUÇÃO
A formação do profissional de Letras requer muita dinâmica no quesito ensino/ aprendizagem. Para tanto, busco por meio de estudos teóricos e práticos contribuir de maneira efetiva na vida dos estudantes da 2ª Série A do Ensino Médio, atividades que desenvolva as habilidades dos alunos onde os estudantes possam estabelecer correlações entre os conteúdos
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*Bolsista de Iniciação a Docência pelo Programa Institucional de Bolsa de Iniciação a Docência (PIBID); Graduanda no curso de Letras Vernáculas pela Universidade do Estado da Bahia (UNEB), Campus IV. email: silva.sirlane@bol.com.br
estudados e o cotidiano. O trabalho em questão é o resultado da experiência do Estágio Supervisionado de Língua Portuguesa e Literatura IV, desenvolvido no Centro Educacional Deocleciano Barbosa de Castro, no turno noturno.
É no estágio que colocamos em prática o que aprendemos no espaço acadêmico. É o momento de reflexão sobre, onde e como desenvolvemos a verdadeira dinâmica do que chamamos ser professor (ordens do ofício). Considero o estágio como um instante ímpar na fase de decisão sobre a profissão de ser docente, pois cada vivência é diferenciada uma das outras. Os projetos que desenvolvi no decorrer dos estágios anteriores foram completamente diferente do que encontrei no Estágio Supervisionado IV. As angústias, o medo, ansiedade, cada sentimento foi sentido de forma diferenciada, cada um com suas peculiaridades.
Por meio das experiências é que comprovei que o aprendizado é muito mais eficaz se realizado por meio da vivência. Foi buscando me aprofundar no aspecto literário que foquei o estágio I, II e IV no eixo da Literatura, até por que, provavelmente, temos mais eficácia (resultados) na prática ao invés de resumirmos nosso aprendizado apenas no que ouvimos ou lemos. Vale ressaltar, que em todos os estágios em que trabalhei com o foco no texto literário, sempre desenvolvi os trabalhos utilizando como recurso/ suporte o texto imagético. No Estágio Supervisionado de Língua Portuguesa e Literatura III, escolhi um tema diferenciado dos demais, busquei trabalhar com o gênero Crônica, mas, sempre com o foco na crônica visual, pois acredito que a leitura de imagens é um grande aliado no que se refere à construção do conhecimento.
O estágio IV objetivou promover discussões que envolvessem os estudantes a aguçar o olhar em relação à representação do negro na Literatura. Para tal, nada melhor que trabalhar com escritores negros e defensores abolicionistas que discutissem em seus textos toda uma problemática social. Devido a essas questões é que a prática e as reflexões sobre todo o trabalho de atividades desenvolvidas se fazem de suma importância para o ensino/ aprendizagem de todos os futuros docentes.
Diante da experiência vivenciada, comprovei que para o futuro docente aprender os “macetes” da profissão, é necessário debruçarmos na teoria e na prática, pois ambas, devem caminhar juntas e não de maneira isolada. Em várias ocasiões na sala de aula, me questionava: Qual a finalidade e função do estágio? Por que o estágio era sempre um momento de angústia e exaustão? Como fazer os estudantes entenderem determinados conteúdos? De que maneira trabalhar os conteúdos, levantando discussões que fizessem relações com a realidade de cada um? Todos esses questionamentos foram ganhando sentido na medida em que eu como estagiária ia garantindo o meu espaço na sala de aula.
Ter desenvolvido o projeto A imagem do negro na Literatura, não só foi gratificante como recompensador, pois me surpreendi com a turma a qual atuei e pude colocar a prova à metodologia utilizada como professora- estagiária. Esse foi o grande desafio: fazer ligações do projeto trabalhado com os conteúdos programáticos juntamente com tema gerador da IV unidade (Africanidade), pré- estabelecido pela instituição de ensino desde a elaboração do Projeto Político Pedagógico (PPP).
1 ESTÁGIO SUPERVISIONADO: PESQUISA, PRÁTICA E REFLEXÃO
A partir do mês de outubro a dezembro do ano de dois mil e onze, apliquei o projeto de regência A imagem do negro na Literatura, por meio da utilização imagens, músicas e poemas, procurei realizar de maneira dinâmica os conteúdos da IV unidade de acordo com o plano de atividade da professora regente. Desde o primeiro contato com a turma, senti uma energia bastante positiva, acreditei e confiei que aquele espaço era o lugar de colocar em prática tudo o que aprendi na teoria diante de outros estudos para os antigos estágios realizados.
O trabalho desenvolvido no Estágio I (observação), voltado para o ensino da Literatura, foi elaborado e intitulado A dinâmica da Literatura em sala de aula, a ideia de organizar um projeto dessa natureza, partiu após realizar observações e perceber a falta de interesse que alguns estudantes demostraram pela Literatura. Algumas pessoas nem se quer ouviam com satisfação, nada que fosse ligado a essa área de estudo, alegando-se que as experiências que tiveram na vida escolar foram desagradáveis, por tal, preferiam evitar quaisquer leitura que se relacionassem com textos literários. A observação deste trabalho serviu para verificar como estavam sendo ministradas as aulas de Língua Portuguesa e Literatura na sala de aula.
Uma vez que a experiência do primeiro estágio se pautou exclusivamente na observação, o estágio II se mostrou de grande importância, como mencionei anteriormente, este foi o momento mais desafiador que vivenciei em minha vida acadêmica, pois, teria que colocar em prática as reflexões que realizei a partir do estágio anterior. O marco principal do projeto O ensino da Literatura através de imagens foi apresentar para os alunos participantes do minicurso, um olhar diferente sobre a literatura, uma tentativa de possibilitar aos estudantes a realização de leitura analítica de imagens introduzindo, então, uma proposta diferenciada no cenário da literatura.
A pesquisa realizada no primeiro estágio me impulsionou a realizar trabalhos em que utilizasse como recurso, o texto imagético. A partir do trabalho realizado e dos resultados alcançados na primeira experiência, fui adaptando os novos projetos para a mesma dinâmica de ensino, ministrando aulas de Língua Portuguesa explorando a criticidade e fazendo com que os conteúdos estudados pudessem estar aproximando-se da realidade dos alunos. Acredito que o trabalho com o texto imagético sempre foi, em minha opinião, um grande aliado no desenvolvimento das aulas de Língua Portuguesa (LP) e Literatura.
De certa forma, não somos nós que decidimos como devem ser ministradas as aulas, são os questionamentos que são realizados no decorrer do estágio, que nos mostra de que maneira e quais os instrumentos podemos utilizar, o que implica, necessariamente, a criação de novas técnicas. Segundo Pimenta (2001, p. 58)
A escola é uma instituição social cuja função específica é a produção e difusão do saber historicamente acumulado, como instrumentalização dos alunos para participarem das lutas sociais mais amplas, objetivamos a necessária transformação da sociedade, em uma sociedade justa. Reconhece-se que a escola [...] precisa traduzir nos seus mecanismos internos de trabalho as condições propiciadoras da aprendizagem.
O acesso ao conhecimento não é automático. Para que o aluno consiga alcançar algumas informações é preciso mediar o mesmo, para que o aprendizado não pareça estar distante. Daí o papel da escola e de nós como futuros docentes: fornecer suporte/ recursos para que o aprendizado seja dinâmico e não obrigatório.
Tomando como base a ideia da autora supracitada e a metodologia que utilizava na efetivação de minhas aulas na turma da 2ª Série A, observei que, da mesma maneira que não podemos utilizar o texto escrito como pretexto, não podemos “abusar” na utilização do texto imagético nas aulas. Cada texto, verbal ou não verbal, devemos explorar o máximo possível para que todos os questionamentos sejam transformados em conhecimento.
O trabalho com imagem sempre foi o meu foco nos Estágios Supervisionados de Língua Portuguesa e Literatura II, III e IV, independente do gênero trabalhado, a leitura imagética forneceu-me suporte para levantar inúmeras discussões. Cada momento com suas peculiaridades, porém, o texto imagético de qualquer forma estava presente.
A utilização de imagens na sala de aula nos proporciona um espaço onde, podemos fazer relações com os diversos eixos da LP. Ao intitular o projeto de regência da IV unidade, A imagem do negro na Literatura, levei em consideração a questão da representação do negro, visando o seu espaço social e cultural dentro da Literatura. Dessa maneira, os alunos vão entrando na dinâmica de ensino começando a fazer leituras críticas acerca da Literatura e de sua vida social, ou seja, fora do âmbito escolar.
Para desenvolver aulas que fossem de cunho crítico era necessário estar sempre realizando reflexões a partir das aulas aplicadas. Segundo Pimenta (2001,p. 55) “o ensino reflexivo [...], tem por objetivos: promover maiores oportunidades de prática de ensino e oferecer feedback aos alunos- mestres sobre sua atuação, possibilitar a reflexão sobre as razões que contribuíram para seu relativo sucesso”. A autora nos fornece um subsídio para pensar em relação à prática. Tudo que era realizado em sala de aula, era necessário refletir sobre o que estávamos trabalhando, era uma maneira de tornar válido as discussões que eram realizados no espaço acadêmico (lugar de formação).
Entender nossa prática é compreender o desenvolvimento de nossas habilidades que vamos adquirindo com as experiências, como já havia mencionado o estágio é o momento crucial. Fazendo esse movimento de reflexão sobre o que estava sendo desenvolvido, o projeto que era apenas “folhas escritas” foi ganhando forma, e o ensino do conteúdo que parecia ser enfadonho, começava a ser mais claro tanto para eu (estagiária) quanto para os alunos.
Acredito que o trabalho com o gênero poema nas aulas de Língua Portuguesa serviu para desmistificar alguns conceitos estabelecidos de que o trabalho com poemas em sala de aula soa como ameaçador, sugerindo exercícios difíceis e de pouca compreensão. Pelo contrário, a utilização de textos poéticos serviu para que a compreensão dos alunos percorressem caminhos que vão além da linguagem verbal, oral ou escrita. Principalmente, realizando trabalhos com poemas dos Cadernos Negros, até o momento desconhecidos pelos alunos.
Podemos encontrar poesia em um gesto, filme, música, ou outro texto literário. Pensando dessa forma e fazendo com que os alunos buscassem no texto relações com histórias de suas vidas, favoreciam para o entendimento de maneira simples. Desenvolver aulas que pudesse estar ligando o projeto com conteúdos pré- estabelecidos pela professora regente da turma com certeza se fez desafiador, apesar de possuir experiências com estágios anteriores, cada turma possui uma dinâmica diferente, todavia, outras estratégias devem ser reelaboradas.
Acredito que é interessante considerar o texto imagético como um grande percussor no quesito ensino/ aprendizagem, pois, a todo o momento somos “bombardeados” com imagens da televisão, computador, jornais, revistas, entre outros meios de comunicação. Observei que obteria um resultado melhor dos alunos se começasse a utilizar essas imagens no desenvolvimento do trabalho.
Todas as vezes que eu chegava à sala de aula os alunos estavam sempre com a televisão ligada, no início, isso foi um grande problema, mas como eu sempre acreditei que o texto imagético era um grande aliado nas aulas de LP apostei que seria uma boa oportunidade de colocar em prática essa proposta: fazer com que os alunos passassem de receptor para interlocutores.
1.1 O texto imagético na sala de aula
Trabalhar com a Literatura não significa dominar e aprender escolas literárias, que em alguns momentos, se mostram totalmente distantes do contexto em que vivemos. Quando relatei a minha gratificação de estagiar na turma da 2ª Série A, não foi apenas para apaziguar algum empecilho que veio ocorrer no decorrer da aplicação do projeto, e sim, devido à capacidade de expressão da turma que acabou me surpreendendo.
Antes de começar qualquer trabalho em sala de aula, tenho a preocupação de relatar para meus alunos como irá acontecer a aula, o que iremos ver; qual o conteúdo a ser trabalhado e como o projeto casa-se com o que iremos aprender... Por isso, acredito que seja indispensável realizar um teste de sondagem para identificar os pontos “fortes” e “fracos” dos estudantes, quais as suas maiores dificuldades e o que eles mais gostam de trabalhar nas aulas de LP. Como o foco do meu trabalho se pautava em discutir a imagem do negro na Literatura, em um determinado momento questionei a eles: o que vocês entendem ou acreditam ser Literatura? As mais diversas respostas apareceram:
“Literatura é arte, expressão, vida, comunicação, ir além”.
“Forma de vida”.
“Transportar pra outro mundo”.
As respostas que pareciam frases curtas ou palavras soltas, para os alunos, começavam a fazer sentido na medida em que as atividades eram desenvolvidas.
Tomando como exemplo o trabalho desenvolvido sobre o Naturalismo tentarei descrever a experiência da aula e a comprovação de como o texto imagético foi essencial para que o conteúdo fosse aplicado da melhor maneira possível. A partir de trechos da obra de Aluísio de Azevedo O Cortiço, a proposta foi ministrada na tentativa de apresentar características do Naturalismo, aproximando tais particularidades à decadência social em que vivemos atualmente.
A imagem desempenha um papel importantíssimo na contribuição da leitura crítica nas aulas de Língua Portuguesa, pois dispõe importantes estratégias para a troca de ideias. Em O Cortiço, analisamos a representação da mulher negra, no caso em questão, a personagem principal da obra Rita Baiana. O que vai caracterizar a personagem é justamente o traço da realidade contemporânea, a mulher sedutora, sensual e animalesca, características marcantes do Naturalismo. Para que os alunos pudessem encontrar traços da obra não só no texto escrito, apresentei aos alunos um vídeo com uma canção interpretada pela cantora Zezé Mota. No vídeo e na canção apresentada, os alunos encontraram sem nenhuma dificuldade marcas do movimento literário. Questionei aos estudantes se foi complicado estabelecer relações da escola literária com a música e o vídeo, os alunos reconheceram que não houve dificuldade e acrescentaram: “se as aulas forem todas assim, fica mais fácil”.
Segundo Guimarães (2008, p. 01), devemos considerar que
a imagem ocupa um espaço privilegiado de formação e informação na sociedade atual, compreende-se que cabe ao professor de Língua Portuguesa promover análise com discussão aprofundada sobre os processos de produção, distribuição e recepção da imagem. Tendo em vista que há uma carência deste trabalho nos livros didáticos e que tal metodologia mostra-se relevante para a construção da criticidade dos alunos, já que ao ler/ analisar uma imagem estará exigindo do aluno/ leitor/interlocutor um conhecimento maior dos recursos da Língua Portuguesa.
A imagem deve ser deixada de ser vista como um recurso ou apoio didático e sim como uma das linguagens envolvidas no desenvolvimento da reflexão crítica o qual almejamos levar os nossos alunos.
De acordo com Irandé Antunes (2005, p. 90), “não existe texto sem gramática nem existe gramática que não seja para que os textos sejam possíveis”. Pensando no ensino da língua materna e de como trabalhar a gramática de forma contextualizada, refletir sobre a questão colocada pela autora. Diante disso, trouxe para os alunos mais um texto imagético, uma charge, onde pude trabalhar com os alunos leitura, interpretação e conceituação de algumas classes gramaticais. Na aula que irei descrever, trabalhei com verbos e os seus respectivos tempos.
Ao preparar a sequência didática sobre o uso da língua materna, busquei dialogar o ensino gramatical não deixando de lado o objetivo do projeto. Ao realizar esta aula, utilizei não só o texto imagético como também a leitura de poemas dos Cadernos Negros que serviu como suporte para levantar questões e um leque de interpretações. De acordo com Koch & Travaglia (2001, p. 10)
Texto será entendido como uma unidade lingüística concreta (perceptível pela visão ou audição), que é tomada pelos usuários da língua (falante, escritor/ouvinte), em uma situação de interação comunicativa, como uma unidade de sentido e como preenchendo uma função comunicativa reconhecível e reconhecida, independentemente da sua extensão” (sic).
A meu ver, para que haja comunicação e diálogo entre os textos, devemos perceber cada unidade que o compõe. Observando cuidadosamente a charge encontrei elementos que me ajudaram no momento de construir uma definição para o trabalho com verbos. Analisando a imagem, levantei as seguintes questões aos alunos:
• O que o personagem que não está na torre esta fazendo?
• Qual a sua postura no segundo quadrinho?
• O que a mocinha da torre faz?
• O que sugere o último quadrinho?
A partir desse ponto, as respostas iam surgindo, logo, as mesmas iam sendo transformadas em conhecimento e a ideia que eu tinha de que o texto imagético era um recurso importante para o trabalho em sala de aula ia sendo confirmado. Em seguida, ao fazer esse percusso de observação, perguntas e respostas, partimos para a leitura do texto literário.
É no poema que encontramos a poesia (essência) esse é o momento em que o poema deixa de ser apenas uma forma literária e passa a ser “um encontro com o humano”, falo isso, no sentido de que, uma vez realizado a leitura de um texto, vamos descobrindo inúmeros aspectos presente nas entrelinhas, esses, vão aproximando-se do leitor com grande intenssidade, fazendo com que o mesmo transforme-se em um lugar de encontro com o sujeito.
O primeiro passo para procurar entender um poema, é a partir da obsevação, é o primeiro olhar no texto que vai conduzir o leitor à essência da escrita. Alguns alunos da turma da 2ª Série A, no início da unidade, haviam mencionado que gostavam de poesia, que acham bonitas, mas, tinham muita dificuldade de compreender... É nesse momento que vejo o quanto a figura do professor é importante, e nós (estagiários) devemos agir como mediadores, ajudando- os a desvendar os segredos do texto.
O trabalho com o gênero poema, foi importantíssimo para o decorrer do projeto: A imagem do negro na Literatura. Para o desenvolvimento das aulas de LP selecionei alguns poemas de defenssores do abolicionismo, tais como Olavo Bilac e Cruz e Sousa. Dentro dos textos desses autores, fui levantando inumeras discussões e as surpresas com os alunos vinham acontecendo aos poucos. Como nos diz Antônio Cândido (2000, p. 20)
Vendo a poesia, [...] como um tipo de linguagem, que manifesta o seu conteúdo na medida em que é forma, isto é, no momento em que se define a expressão. A palavra seria pois, ao mesmo tempo, forma e conteúdo, e neste sentido a estética não se separa da lingüística. Mas, justamente porque é uma comunicação expressiva, a arte pressupõe algo diferente e mais amplo do que as vivências.
O papel do poeta era questionar a sociedade, provocar e fazer com que a sua mensagem fosse levada de maneira sútil. Cada poema diferenciava-se de acordo com cada escola literária. Apresentar aos alunos as mais variadas poesias, ajudava-os a reconhecer e identificar características de cada movimento.
Ao trabalhar com o Parnasianismo, percebi a estranhesa dos alunos com a linguagem empregada no texto. Em meio a uma classe de 35 alunos, apenas um se manifestou falando que gostava e apreciava esse movimento. Outra coisa que me chamou atenção foi a resposta do mesmo em meio a uma situação decorrente na aula. Um aluno perguntou: “ Por que estudar literatura?Eu prefiro estudar outras coisas do Português”. Diante da resposta que um outro aluno deu ,eu nem precisei manifestar-me. - “ Professora, eu acho o seguinte, que literatura é importante, porque se queremos entender o que acotece nos dias de hoje, devemos ter conhecimento da origem, de onde tudo começou”. Daí a minha surpresa diante da resposta do aluno, eu não imaginava que pudesse ter alguém que tivesse apreciando e gostando das discussões que estavam sendo realizadas na sala de aula. É obvio que não podemos estar classificando os alunos em bons ou ruins, mas, devemos levar em condideração que nem todos possuem a mesma habilidade de expressão.
Entendo que o texto imagético em sala de aula é perfeitamente adequado em diversas situações, porém, o texto escrito sempre terá o seu espaço garantido, pois se a linguagem imagética é de fato uma maneira inovadora nas aulas, as interpretações que podemos levantar nos textos escritos segue a mesma dinâmica.
1.2 Produção textual: de que forma realizar?
Ao estar em sala de aula somos vuneráveis a cometer inumeros “erros”, esses, podem ser os mesmos que criticamos os professores no espaço acadêmico ou até mesmo os de nossos professores regentes do estágio. O trabalho com produção textual requer muita dinâmica, é necessário seguir um processo de escrita e reescrita (acompanhamento individual) para que possamos colher bons resultados no final de cada produção.
No estágio na turma da 2ª Série A, acredito que em relação ao trabalho de produção de texto em sala de aula, no momento de minha regência, teve uma grande falha. Tal afirmação, foi perceptível no momento em que solicitei da classe uma produção individual. Diante de tudo que estudamos e discutimos em relação a imagem e atuação do negro dentro da sociedade, solicitei dos alunos uma produção sobre: Como eles viam a questão da representação do negro, as conquistas, desafios, enfim, a construção da identidade do negro dentro da sociedade brasileira? Não posso ignorar que a decepção foi tamanha ao ver os resultados de alguns textos. De acordo com Ingedore Koch (2001, p. 21)
a coerência está diretamente ligada à possibilidade de se estabelecer um sentido para o texto, ou seja, ela é o que faz com que o texto faça sentido para os usuários, devendo, portanto, ser entendida como um princípio de interpretabilidade, ligada à inteligibilidade do texto numa situação de comunicação e à capacidade que o receptor tem para calcular o sentido deste texto.
No texto apresentado pelos alunos não só falta sentido, clareza, como também originalidade no texto. A maior surpresa foi descobrir cópias fieis retiradas da internet. Ou seja, não só faltou criatividade na criação como também na autoria. A partir desse instante, não fez nenhum sentido ter solicitado uma produção dos alunos sem ter havido um acompanhamento para que fosse evitado esse tipo de comportamento por parte deles.
O texto não deve ser utilizado apenas como um instrumento avaliativo devemos instigar os alunos a ler e escrever por prazer, deleite. Esse foi um “erro” que cometi durante o processo de realização do estágio IV. A questão do tempo foi um fator que influenciou nesse sentido, pois, no decorrer da regência aconteceram muitos impecílios que contribuiram para a não realização de algumas atividades. O período da IV unidade é mais curto que as anterores, portanto, fazer um trabalho desta natureza leva tempo, o que era um privilégio conseguir, devido as inumeras paralizações decorrentes no Centro Educacional o qual foi desnvolvido o projeto.
Devemos possuir um cuidado especial com nossos alunos, demonstrando preocupação com o seu aprendizado e fazendo com que eles entendam a importância da escrita em nossas vidas. Produzir é criar, é expor no papel as nossas opiniões, o nosso olhar sobre eterminado conteúdo, por tal, não há por que ter tanta averssão a escrita.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O esforço que empreendi no estágio foi o de captar os possíveis avanços na aplicação da metodologia aderida. O período do estágio foi de suma importância para minha formação acadêmica, é a comprovação da profissão que escolhi para a minha vida.
Os resultados que alcancei no decorrer do estágio foi um aprendizado incomensurável. Os alunos começaram a enxergar a imagem como um texto e não apenas como ilustração do texto escrito; o texto poético passou a ser mais fácil de ser compreendido, pois, era possível encontrar no poema traços que se aproximavam de história de suas vidas; a gramática deixou de ser vista como um amontoado regras obrigadas a serem decoradas, com o tempo, os alunos perceberam que por meio de textos poderiam construir significados para as classes de palavras, e por fim, as aulas de literatura deixaram de serem densas e monótonas, pois, a essência da história literária poderia ser encontrada nos mais variados gêneros.
Concretizar um trabalho diferenciado do qual os estudantes estavam acostumados a realizar tornou-se no mínimo desafiador, pois eu não sabia como os alunos iriam reagir diante de um novo método de ensino. Com o passar do tempo, as respostas foram surgindo, tal afirmação comprovei diante das respostas adquiridas na avaliação final do projeto. Os cartazes produzidos pelos alunos, as discussões realizadas em sala de aula, tudo foi gratificante, até os “erros” cometidos, serviu como recurso para avaliar minha postura docente e como deveria adaptar as aulas à realidade dos alunos.
Muita das vezes, o planejamento tinha que ser modificado e seguia outro caminho. Acredito que isso faz parte da profissão é a comprovação que o estágio é puro aprendizado e é nesse momento que aprendemos os “macetes” da carreira escolhida. As conversas, brincadeiras, tudo isso tiro como positivo, é uma maneira de deixar o ambiente de trabalho mais leve e tranquilo para a realização do trabalho.
Acredito que o interessante do estágio é a maneira como decidimos realizar o nosso trabalho. O diferencial é que faz com que os alunos gostem ou não de suas aulas, por isso, a criatividade, dinamismo, a avaliação, tudo isso deve ser claro e objetivo para que o nosso alunado entendam o objetivo de nosso trabalho.
REFERÊNCIAS
ANTUNES, I. Lutar com palavras: coesão e coerência. São Paulo: Parábola, 2005.
CANDIDO, Antônio. Literatura e sociedade. Ed. T. A Queiroz. -São Paulo, 2000, p. 16 a 35.
GUIMARÃES, Fernanda Couto. A Imagem em sala de aula: uma proposta com a capa de revista. PG_UEL, 2008.
KOCH, Ingedore Grunfeld Villaça. A coerência textual/ Luiz Carlos Travaglia. 13 ed. – São Paulo: Contexto, 2001. – (Repensando a Língua Portuguesa).
PIMENTA, Selma Garrido. – O estágio na formação de professores: unidade teoria e prática? – 4. Ed.- São Paulo: Cortez, 2001.