PALAVRAS (mal) DITAS
Um mundo pontuado por informações instantâneas me faz pensar na articulação intelectual e oratória, e me remete ao valor da palavra (mal) dita das histórias narradas pela televisão. Pulando os canais de TV entre um jornal e outro, ouço descrições absurdas, como nessas frases: “Morreu o maior escritor português vivo”; “... vai ajudar a divulgação internacional, lá fora”; “Movimentos, balanços movimentados”; “Os médicos interessados devem ter registro médico”; “A bola saiu para fora”; “A notícia saiu no jornal local daqui”.
Palavras ditas! Palavras escritas! Palavras (mal) ditas! Como “A hora dos maus dizeres...”, de Nilma Gonçalves Lacerda.
O ato de escrever nem sempre comporta respostas. Muitas organizações têm por fonte de inspiração a mensagem que expressa forma de ação. A humanidade se singulariza em constante mudança na busca do contato verdadeiro com algo que a faça sentir-se realizada e completa. O importante é entender em profundidade algumas ideias e não chafurdar em erros.
A televisão em sua trajetória por vezes dá a oportunidade de conhecer um pouco mais sobre os fatos, desde que sejam desvendados com sabedoria e objetividade. O mágico (trágico?) mundo das notícias poderia facilitar a vida de quem dispõe de pouco tempo, mas o ideal seria que a elaboração fosse apresentada como obra de arte.
É o caso de Otto Lara Rezende, sempre lembrado como genial frasista, que ficou conhecido pelo espírito ágil e capaz de criações instantâneas. Foi o autor de frases que fizeram história, como: “O mineiro só é solidário no câncer”, a mais famosa das suas frases, celebrizada por Nelson Rodrigues, na peça “Bonitinha, mas ordinária”. Otto faz ironia com a sua terra natal, do que só os mineiros são capazes.
Frases são palavras ditas. Basta uma frase para conciliar a ordem, assumir um ato e dizer, como Letícia R. Ferreira que “A poesia faz de cada palavra um centro ao somar ao seu sentido frasal, ou, como Orides Fontela, para quem “... Fatos são palavras / ditas pelo mundo.”
Este simples e pequeno registro é para ir além, porque é importante trabalhar para alcançar a realização plena e deixar cada espectador viver momentos de sabedoria, aceitação e alegria, atendendo à necessidade básica de descobrir mais sobre os fatos.
As palavras ditas, vistas de várias maneiras, apresentam o que há de melhor sobre a vida, na possibilidade de serem mudadas todos os dias, atendendo aos dizeres de Lindolf Bell: “Palavras são seda, aço. / Cinza onde faço... me refaço.”