DANUSA LEÃO, PORQUE “É TUDO MUITO SIMPLES”
Por Carlos Sena
Por Carlos Sena
Danusa Leão foi a primeira colunista que vi tratar o “colunismo social” diferente do “calunismo” social que imperou nesse estilo jornalístico de comunicação por muito tempo. Ainda hoje alguns jornais mantêm suas colunas sociais com tempero de fofoca, mexericos sociais ultrapassados, mas bem ao gosto de algumas famosidades e dondocas (igualmente ultrapassadas) que ainda insistem nessa bobagem. O colunismo de Danusa foi sempre sobre o bom senso das coisas, das pessoas e da vida. A etiqueta social, como ela diz, é uma “ética reduzida” e em cima disto deve ser vista. “Os princípios básicos, para ela, são sempre a educação, o respeito e o bom senso. "Etiqueta vem de ética, que não é regida por regras, mas só por você mesma, com a liberdade que tem - hoje, mais que nunca. (...) A ética se confunde com a boa educação, que não é luxo, mas artigo de primeira necessidade. Não é preciso ser rico para ser educado; basta ter respeito pelos direitos do outro, o que suaviza as relações", escreve Danusa.
Conhecida internacionalmente, principalmente porque foi modelo famosa, hoje tem vida discreta. Dedica-se ao seu trabalho e seu lazer é norteado no conjunto da sua própria vida – a simplicidade. O seu trabalho que mais me deixou fã foi “Na Sala com Danusa”. É um livro como já me referi, de bom senso. A etiqueta não é tratada como frescura de dondoca, mas no seu sentido prático. Em seu “É TUDO MUITO SIMPLES” (já nas livrarias) ela, mais que nunca consolida seu estilo de mulher elegante, simples, trabalhadora e feliz. Perguntada por Ana Maria Braga acerca do que almejava pra sua vida, disse que “não preciso de nada. Sou muito feliz como vivo”... Acerca de “você se casaria de novo com um mesmo marido?”, falou que sim e com Samuel Weiner, posto que era um homem inteligentíssimo e que deixava que ela fosse como é! Isto denota sua personalidade de mulher livre e que foge do romantismo piegas e da dependência afetiva que a maioria das mulheres adoram dispor.
Comecei a admirar Danusa quando ela, numa entrevista disse que detesta “flanelinha” (quem não detesta!) e que adorava quando eles vinham correndo e ela saia com o carro antes deles chegarem para abordar. Hoje ela não tem mais carro. Vendeu em nome da praticidade. Também não recebe ninguém em casa, nem se hospeda na casa de ninguém. “No dia em que eu não puder pagar um hotel, não viajo”, disse à Ana Maria Braga. À propósito do “È TUDO MUITO SIMPLES”, disse que seu laser preferido é acordar às sete da manhã, caminhar no calçadão de Copacabana. Na volta senta num quiosque e toma uma maravilhosa água de coco. Gosta desse horário porque não tem muita gente na rua, talvez porque o assédio lhe incomode um pouco, tirando-lhe o direito de ser livre consigo mesma. Revelou também que não sai mais a noite e que adora sua casa – um apartamento de um quarto. Nesse apartamento, ele teve que, aos poucos ir se desfazendo de coisas e objetos, talvez exercitando a vida simples como ela é. Deu muito trabalho se desligar de roupas e livros. As roupas vendeu a uma amiga, pois eram todas de costureiros internacionais famosos. Os livros separou em duas partes: numa os que mais gostava; noutra, aqueles que ela recebia de autores diversos e de editoras. Sem pensar muito, ficou apenas com os poucos livros que não quer se desfazer nunca. Confessou, contudo, que foi difícil vencer esse desprendimento das coisas que não precisava mais.
Pra quem acompanhou a sua vida de modelo (eu não a conheci modelo), deve ficar meio espantado com as marcas que o tempo fez em seu rosto. Soube que ela não foi bem sucedida em uma das suas plásticas, mas a sua alma permanece intacta. Com a maturidade de hoje, talvez não quisesse naquele tempo mexer com seu rosto, ou seja, assumir que a vida passa e que a gente não é jovem e lindo a vida toda. Hoje ela tem essa certeza, mas deve ter chegado a essa conclusão dentro de um processo de vida particular doloroso...
Independente de qualquer fato, Danusa hoje serve de espelho (ela não gosta disto) pra muitas mulheres e isto é bom. Enquanto houver mulheres se espelhando em Danusa há alvíssaras esperanças de que as mulheres, no geral, estão rompendo com a lógica da mulher CAMA E MESA. Ela é feliz sozinha e dá provas disto no que faz e escreve. Ser feliz ao lado de quem amamos é o ápice da vida, mas a vida pode ter outros ápices de amor, como o amor que a gente tem que ter por nós mesmos. Afinal não se chega aos outros se não se chegou a si mesmo. Ela é hoje um pouco disto e muito menos. Menos porque ela sempre tem o que preencher no seu dia a dia de jornalista que matem colunas diversas e, de quebra, publica livros maravilhosos.
Sem pretensão, sou muito parecido com Danuza na forma, talvez não no conteúdo porque ele é único, está no DNA. Diante da sua entrevista com Ana Maria Braga a gente percebe que ela é, ao mesmo tempo, feliz e triste. Há traços fortes em sua fisionomia que denunciam certos amargores, mas quem não os tem? O problema da vida não são as amarguras, mas as falsas doçuras que, muitas vezes a gente só descobre depois, suas reais formas amargas. Como não se faz omelete sem quebrar os ovos, ela demonstra muito bem que soube se recompor diante da vida e distante dos holofotes, dos mexericos, das passarelas e de gente babona que deve ter tido nos seus áureos tempos de glamour. Ela, finalmente, descobriu que na vida “É TUDO MUITO SIMPLES”... Amanhã vou correndo comprar o meu.
Pra encerrar mesmo: disse que vive de acordo com uma frase que não se lembra do autor, mas que diz mais ou menos assim: "As pessoas gastam o dinheiro que não têm, pra comprar coisas que não precisam e mostrar para pessoas que não conhece..."