SEGREDOS DE LIQUIDIFICADOR

Lembro o som do liquidificador. É um som “barulhento”. Imagino o aparelho batendo as palavras e os pensamentos, viram segredos de liquidificador, com som de poesia, fazendo parte do meu cotidiano. Sim, porque letra e música se combinam e aparecem de forma perfeita para os interessados na cultura, ambas desfilam poesia, como cantava Cazuza “... pra poesia que a gente não vive / transformar o tédio / em melodia...” e, encontro em Ofélia T. Baldan, “A música é a poesia da alma / A poesia é a música no coração / nos mostra sutileza ao ouvi-la / emoção em sua composição.”

Posso sentir a poesia no dia a dia, mesmo quando ouço os segredos de liquidificador. Mas, não percebo que perco a capacidade de analisar, avaliar os poemas e as palavras do momento, quando acredito que a força do poema se torna onda universal, presente em minha vida, como em Ronaldo Monte de Almeida, ”Ao liquidificador // novo galo das manhãs //... de casa em casa / teu ronco prosaico / arranca //... do homem o melhor dos sonhos.”

A música e a poesia poderiam ter mais espaço e consideração como cultura e, ainda, fazer parte da história para aqueles que gostam e querem conhecer e sentir a paixão pelas artes, ou talvez pela magia da palavra, ou também pelo sentido do som na poesia, como traduz Jorge Luis Borges, “Música da palavra ou magia da palavra), do sentido e do som na poesia... de fato, contribuem para a singularidade e a beleza.”

A poesia trata a palavra em seu momento mais inspirado, no inteligente jogo de significado e significante. Segundo Milton Hatoum, “A função da literatura na vida cotidiana de cada um é alimentar a alma. Ela nos conduz ao conhecimento de nós mesmos e dos outros.” e, como cada um de nós ao ler um poema sente esse significado?

Se a poesia é instrumento da alma, não a posso deixar como o silêncio que grita por espaço na literatura. Aí, de fato, digo que depende do modo como leio a poesia ou ouço a música; participo vivencio momentos de emoção, despertando a atenção para se transformar em magia. Helena Kolody escreveu: “As palavras tem sentido / num código particular. / Cada qual é singular / em sua maneira de ler.” E Fernando Pessoa disse que “Quem não vê bem uma palavra, não pode ver bem uma alma.”

Muitas vezes me descubro moldada para escutar o som barulhento do dia a dia, onde leio o manual de sobrevivência e nada me acontece, sobrando apenas o o som do liquidificador, sem segredos.