Densas matizes
Do vício outrora adormecido, hoje a aflição não só com mais intensidade o ciclone da ilusão se enchumaça, como também de pesadelo o carcomido encéfalo de um marrom-glacê se embaça... Cerúlea fuligem que ao pálido olhar em forma de um nevoento caracol à atmosfera crescida o céu o dedo trêmulo toca. Flechas de infortúnios à pele penetram. Ferido pelas esvoaçantes farpas do destino à parede a carcaça encosta, pende e se estertora.
Consumido pelos felinos sentimentos a fronte convulsa segue o abstrato cotidiano com uma hercúlea e resignada força. Amor? Paixão? Agonia? Ou desespero? A si se esquadrinha... No vômito cadavérico de contrastes o chão de fétidas lavas tudo encobre e arrasta. Solta ao vento todo o pranto, todo o lamento... Não sabe mais por onde anda ou sequer por qual estrada se lhe mais desatina.
Umedece os lábios ao néctar da contrição... Escorre titubeante em filetes pelos leporinos cantos o licor em excesso, qual rio solitário entregue à própria sorte ao mar. À coação dos messiânicos versos o seu autêntico nome em hieróglifos nos anais das histórias dos amores incompreendidos entra. Aladas perturbações às arestas da angústia o espírito tenso concebe... Fantasmagórica imagem que à ionosfera uma resposta implausível em minúsculas partículas às frações atemporais hoje uma minuta sequer de volta as recebe...
Cambaleia pelos milimétricos espaços. Acervos diminutos fazem parte da então lôbrega seresta... Uma sonora dor lhe consente o coração: tensos martírios que os tristes ais ao rarefeito irradiam e ao peito, inda doentios, palpitam. Pulula a epiderme quase dormente às artérias convulsas. Mergulha-se em fúcsias. Olha para os lados... Um rigoroso inverno às retinas o quedar de si mesmo adivinha: - descorado sonho que às vestes da quimera às águas do presente há muito já se diluiu, qual lua no oceano da escuridão num rastro de uma burlada luz sumiu.
À sombra do intocável curva-se. Com as mãos palmeadas à reza o terço à mãe do Altíssimo eleva e invoca... Forças indeléveis do nada aos poucos se revigoram em estratosféricas bênçãos abrindo-lhe novas comportas... Recompõe-se ante aos obstáculos do coração e ganha a mais sóbria e simples de todas as versões: a de que a vida continua, apesar dos incompreendidos e inalteráveis ‘nãos’...
Uma cortina de fumaça se despe do telhado morbidamente sorrindo. Umedece o retorcido corpo à instabilidade do instante. A aurora à enovelada fuligem as pálpebras abre. Se desperta trêmulo em meio à gélida sudorese. Recobra-se à realidade e percebe, que do infausto pesadelo vivido, sobrá-lo tão somente o prenuncio de um vulcânico porvir a ser evidenciado e, por deveras ao final de todo este ultrajante cenário, temido...