DINHEIRO: MUDA OS VALORES?

“A maior desgraça de uma nação pobre é que em vez de produzir riqueza, produz ricos. Mas ricos sem riqueza. Na realidade, melhor seria chamá-los não de ricos, mas de endinheirados.” Mia Couto

As mudanças inspiram-se nas etapas de inflexão da história; não custa indagar: somos ricos ou endinheirados? O dinheiro muda os valores?

Quando chego a essa pergunta, quero salientar que o crescimento pessoal é particular e intransferível. A busca pela realização passa pela interação com os outros, mas é a busca particular que sinaliza a maneira como o profissional se orgulha de ser bem sucedido. E, talvez, seja bom comparar as diferenças e explicar que a riqueza pessoal é um bem maior do que o material. Também é preciso lembrar o quanto é desleal ostentar e ser arrogante. Importante é provar que lidar com o dinheiro é ter consciência de que ele não compra o ser, mas apenas o ter. Como diz a letra da canção de Sidney Miller: “... Eu vou perguntar / Joana o que aconteceu? / Dinheiro não faz você mais rica do que eu.”

O dinheiro muda os valores quando a pessoa vive apenas a fase de expansão material, em que a sua energia diminui e suas insatisfações vão se expressando em ter mais e mais... Assim, se vê que na essência a ordem continua a mesma, mudada apenas na forma com que são conduzidas as escolhas e os comportamentos.

Ser endinheirado reflete a realidade? Sim e não, porque longe de ser espelho, tem forte participação no definir o que a pessoa escolhe. Por exemplo, como no fato ocorrido em agosto de 1990, no centro de João Pessoa, onde uma moça, não identificada, jogou notas dinheiro de todos os valores do décimo-segundo andar de um prédio, gerando tumulto por conta da multidão que lá se formou tentando pegar as notas. Então, é possível que a pessoa se confunda em ter dinheiro com ser endinheirado. Segundo Mia Couto, “Endinheirado é quem simplesmente tem dinheiro, ou pensa que tem. Aquilo que tem não detém. Porque na realidade o dinheiro é que tem a ele.”

Reparo que os endinheirados não apresentam conhecimento cultural, sendo apenas ricos em dinheiro, com o que pensam poder comprar TUDO. Os endinheirados não percebem que seus dias são vazios; o dinheiro pode ser economizado, mas, respeito, caráter, educação e cultura são adquiridos através do crescimento pessoal, processo que não tem fim e através do qual podem se transformar em alguém com dinheiro: rico, com postura de amor ao próximo, descobrindo como pequenas atitudes podem fazer grandes diferenças em suas vidas. Através do valor do trabalho, sentir poder criar, ousar e deixar fluir o pensamento, levando o amor, a esperança, a mudança e a sabedoria como fonte; não o dinheiro, mas a intensidade de vivência e a medida dos sentimentos. Ao rever a postura, definir os objetivos, fazendo valer cada centavo ganho em benefícios definidos nos parâmetros e na correspondência da expectativa social e cultural. Segundo Mia Couto: “Rico é quem possui meios de produção. Rico é quem gera dinheiro e dá emprego.” Ricos somos nós, na medida em que nos manifestamos com honestidade, ética e não nos vendemos por dinheiro nenhum, apenas vivemos em descobertas, em liberdades de escolha e novas idéias. Thiago de Mello, no artigo XIII do seu Estatuto do Homem, faz constar que “Fica decretado que o dinheiro / não poderá nunca mais comprar / o sol das manhãs vindouras. / Expulso do grande baú do medo, / o dinheiro se transformará em uma espada fraternal / para defender o direito de cantar...”