Moacir de Almeida
Moacir de Almeida, poeta parnasiano ou neoparnasiano, como foi classificado pela crítica. Ele, o poeta, ao que se sabe, não se considerava pertencente à estética alguma. Nascido no Rio de Janeiro onde também faleceu aos 23 anos de idade, vitimado por hipertrofia cardíaca. Escreveu os primeiros versos aos nove anos de idade e legou à literatura brasileira apenas um livro, GRITOS BÁRBAROS, que inscreveu seu nome entre os maiores poetas brasileiros.
Moacir viveu uma época de confluência das tendências parnasianas com as do simbolismo e do romantismo. Um dos seus sonetos de supremo belo literário é este, a seguir, onde predomina a figura do poeta desesperado aos pés da amada. A veemência de seus versos chega a suscitar a descomunal força do oceano, em movimento gradiente, quebrando suave aos pés de uma deusa.
Domadora do oceano
Eis a teus pés o oceano... É teu o oceano!
Deusa do mar, teu vulto aclara os mares,
Esguio como um cíato romano,
Nervoso como a chama dos altares...
A alma das vagas, no ímpeto vesano,
Ajoelha ante os teus olhos estelares...
Eis a teus pés o oceano... É teu o oceano!
Cobre-o do verde sol dos teus olhares!
Sou o oceano... És a aurora! Eis-me de joelhos,
Ainda ferido nos tufões adversos,
Lacerado em relâmpagos vermelhos!
Sou teu, divina! E, em meus gritos medonhos,
Lanço a teus pés a espuma de meus versos
E as pérolas de fogo de meus sonhos!
“Moacir é o Patrono da cadeira nº 40 da Academia Belo-Horizontina de Letras, segundo Júlio Pinto Gualberto em seu O Gênio Poético de Moacir de Almeida, nasceu Moacir de Almeida no dia 22 de abril de 1902, tendo falecido em 30 de abril de 1925, muito jovem, como se pode notar. Gênio de qualidade singular teve pelo poeta parnasiano Alberto de Oliveira incluso um soneto seu em “Os cem melhores sonetos brasileiros”, tendo constada sua lira em muitas outras antologias. Louvado foi de Agripino Grieco à Catulo da Paixão Cearense, que lhe dedicou versos à beira do túmulo. Assim descreveu-o Agripino Grieco, que privou do contato íntimo com o poeta”:
“Pensando em Moacir de Almeida, revejo-o qual tantos anos o vi, com seu ar de eterno convalescente. Talvez houvesse nele certa inaptidão para a felicidade. Recitando, tinha a voz meio rouca, mas a beleza das cousas que ele celebrava conseguia embelezá-lo, e ele que era magro, comprido, deselegante, sem saúde, sem graça pessoal, sem eloqüência na conversação, transfigurava e prendia quem quer que o ouvisse. Sua face lanhada, torturada, de zigomas salientes, como que se iluminava à irradiação verbal de seu sonho. Ele que, palestrando, pouco entusiasmo patenteava pela vida e às vezes confessava ter medo de tudo e ver tudo envolto na luz de um dia de eclipse, enriquecia-se, ao dizer versos, de mil tesouros ignorados.”
Em outro soneto aponta mais uma vez o seu fascínio pelo mar como moldura de sua apaixonada verve. A riqueza das rimas, a colocação precisa da palavra no verso e o apuro formal do estilo de Moacir fazem o mar cantar nos ouvidos de quem o lê. Poesia luxuriante a inflamar beijos e paisagens.
Espumas e chamas
Flor que a rubra paixão do trópico incendeia,
Branca e virgem, no ardor dos sonhos causticantes:
A ânsia, em que te referve o sangue em cada veia,
Aflora em teu olhar num clarão de diamantes...
A volúpia do sol tua carne afogueia...
Há luxúrias de mar nos teus seios arfantes...
E, em teu corpo, que tem a brancura da areia,
Há curvas sensuais de praias fulgurantes...
Ah! Ter beijos de oceano e ardor de um sol de lavas,
Mar que afoga o horizonte em pérolas e brumas,
Sol que ensangüenta o céu e cresta as matas bravas!
E _ oceano e sol _ no sonho ardente em que te inflamas,
Com os meus beijos cobrir-te em borbotões de espumas,
Com a minha luz queimar-te em turbilhões de chamas!
Para finalizar esta nota que aqui aparece inscrita na seção de artigos, acrescento que é preciso divulgar e estudar mais a obra desse poeta que enriquece a nossa literatura. Pouco li sobre ele nos sites de pesquisa. E também só vi duas imagens dele no Google: uma na qual aparece fumando; e a outra, diferente, colocada na capa de sua obra poética Gritos bárbaros.
Lamento que vivamos sempre falando ou pesquisando sobre os mesmos autores e obras. Todos merecem respeito, atenção, divulgação e reconhecimento. Nos sites de publicações literárias, como este em que estamos, muitos são os escritores dignos de igual reverência quanto os nossos célebres imortais das belas letras.
REFERÊNCIAS ELETRÔNICAS
http://poesiaretro.blogspot.com/2010/11/moacir-de-almeida.html