COMÉRCIO DE ILUSÕES
Mário Quintana escreveu: “A poesia é dessas coisas que a gente faz e não diz. A poesia é um fato consumado, não se discute...”
É através da poesia que o homem expressa o seu espírito e justifica a sua natureza. Quanto mais independente for a poesia, mais estimulados são os sentidos, trazendo harmonia e valorizando o prazer de viver.
“Pero, há Vivas Memórias // Há mortos que nunca morrem / voz /
Imagem / eles ressurgem feito marés / ou límpidos cristais a esculpir /
as lágrimas que a curva do olho não apaga. // Há mortos que nunca apagam, / nos revivem em fotos, momentos e palavras...”
(Carmen Sílvia Presotto)
A poesia é importante porque é cultura, é bela, tem história e se reflete na música. A música ao se valer da poesia, além do gostar, quer ser cultura, ser bela, protestar sua história e estar além do gosto.
Segundo Jorge Luis Borges, “A poesia e a linguagem são uma expressão...”; mas, a poesia não atrai o interesse comercial, pouco vende. Como sair desse emaranhado?
A poesia é a encarregada de levar a linguagem de volta às fontes, mostrando-nos que as palavras começaram em certo sentido, como mágica, isto é, temos plena convicção de que sentimos a beleza de um poema antes mesmo de começarmos a pensar em um sentido. Talvez não para a razão, e sim, para a imaginação.
Na assertiva de Mário Quintana, “A poesia... entra pelo ouvido e fica no coração”.
Talvez não valha a pena iludir o leitor com propostas de novos livros, porque as expectativas de um mundo que se recusa a ler, a entrar para o mundo da imaginação, vem desenvolvendo fracassos e ilusões.
Para reafirmar o valor da leitura, e promover abertura significativa dos poetas, é preciso navegar num comércio de ilusões: “Onde a imaginação não perde o pé da realidade”, porque, em Quintana, a prosa se faz poesia.
“Felicidade publicada / livros fechados
felicidade cantada / mudas músicas...”
(Pedro Du Bois)
Antônio Carlos Secchin, em particular, anota: “... a poesia de tema explicitamente social, costuma ser criticada por dupla ineficácia: por não atingir o grande público e por precisar atingi-lo”, como nos mostra Lêdo Ivo:
“Poesia não se vende, / ninguém a entende! / - Suspira o editor. /
Poesia! Poesia! / Ninguém te entende. / És como a morte e o amor.”