MOSCA TONTA
Por escolha, Pedro Du Bois há muito tempo esvoaça para a sua poesia a imagem da vida que o cerca, com registro literário formado pelos tipos e situações vigentes; desenvolve uma arte que documenta os gestos e o distanciamento das pessoas, como mostra em seu poema Mosca Tonta:
“Quem algum dia disse
que a luz escura não tem brilho
não lembra de quem um dia lhe disse:
saia desse caminho, siga por outra estrada,
ao lado, ornada por grandes árvores,
verdes, verdejante e não pálidas.
Ele esquece, eu me lembro da hora
em que me foi dito com a maior seriedade;
fosse para ele, para mim, da maior seriedade.
Hoje, distante no tempo, no sentido
revejo a cena como nuvem sem brilho
e penso que tolo fui em não seguir o conselho.
Segui pela estrada errada, ontem, hoje, sempre e nada.
Sou como a mosca tonta, sem saber da tua chegada”.
Nem sempre me dou conta da ousadia do poeta ao bater com força as suas asas, atraindo a minha atenção pela beleza dos seus gestos e dos seus poemas.
Documenta seus pensamentos, provocando a musicalidade existente em mim. Em instantes, o poeta conquista a minha vida. Em suas páginas, desperta os sentidos para que eu reflita, respire fundo e reserve um tempo só para mim e a sua poesia. Linhas que me dão acesso a alguns dos meus melhores momentos e trazem para a minha leitura a sensação de ir a algum lugar sem saber o que vou encontrar - é estimulante e rejuvenescedor -, estonteante e esvoaçante como uma “Mosca tonta”.