Tomas Tranströmer

Para Tomas Tranströmer, nascido no dia 15 de abril de 1931 em Estocolmo, Suécia, e ganhador do Prêmio Nobel de Literatura/2011, “o poema vai sempre depender da língua em que nasceu”.

Quando um leitor comum tem, pelo menos, um pouco de conhecimento de um idioma estrangeiro, poderá entender a pertinência e a profundidade de tal afirmação. Entende-a ainda mais se esse leitor é poeta. Por exemplo, um poeta de língua portuguesa que conhece a língua inglesa, alcança sentir e entender um texto poético originalmente produzido nesse idioma e, simultaneamente a esse entendimento, forma-se, em sua mente, a nuvem da angústia portadora da certeza da impossibilidade de passá-lo integralmente para a língua materna. Sofre, portanto, duas vezes o leitor poeta. Primeiro por internalizar o espírito do poema; e, segundo, por esta certeza de não vai conseguir mesmo traduzi-lo em sua essência.

Penso haver mais posições desfavoráveis do que favoráveis à tradução. Tudo bem, as opiniões são legítimas. Mas o mundo não seria o mesmo se não houvesse o trabalho do tradutor e nem o do intérprete da oralidade de idiomas estrangeiros. Ficaria cada povo em seu território, isolado e sem comunicação com os seus semelhantes de idiomas diferentes. Isto nada teria de engraçado. Bem ou mal, mediana ou quase perfeita, a tradução e a interpretação da oralidade são atividades indispensáveis ao convívio social. Seja qual for o tipo de texto, em prosa ou em verso. Seja qual for a circunstância em que os indivíduos estejam envolvidos.

Claro que alguns tradutores se especializam e conseguem nos aproximar o máximo do que foi escrito em outras línguas. E, ainda sobre o que disse o poeta sueco. No caso da poesia, há uma pendência insolúvel, pois diferenciada que é em sua forma de exteriorização, a poesia depende da língua em que foi sentida e anotada. Mas, torno a perguntar: como ficaríamos sem Shakespeare, sem Baudelaire, sem Garcia Márquez e tantos outros? Não! Melhor que tudo seja traduzido, interpretado, adaptado, recriado.

Foi ao El País que o poeta laureado declarou em entrevista: “Un poema no es otra cosa que un sueño que yo realizo en la vigilia. El sueño y el poema vienen de la misma persona. Tienen algunas leyes compartidas. Tengo una relación de mucho amor con el sueño. Me voy a la cama como si fuese a una fiesta. El despertar es casi siempre una desilusión”.

Tomas tem um dos seus poemas dedicados à cidade de Lisboa. O texto foi traduzido por Luís Costa, a partir da versão alemã de Hans Grössel:

LISBOA

No bairro de Alfama os eléctricos amarelos cantavam nas

subidas.

Havia duas prisões. Uma delas era para os gatunos.

Eles acenavam através das grades.

Eles gritavam. Eles queriam ser fotografados!

"Mas aqui", dizia o revisor e ria baixinho, maliciosamente,

“aqui sentam-se os políticos". Eu vi a fachada, a fachada, a fachada

e em cima, a uma janela, um homem, com um binóculo à frente dos olhos, espreitando

para além do mar.

A roupa pendia no azul. Os muros estavam quentes.

As moscas liam cartas microscópicas.

Seis anos mais tarde, perguntei a uma dama de Lisboa:

Isto é real, ou fui eu que sonhei?

Deste poema sublinho o tom coloquial do verso "Mas aqui’, dizia o revisor e ria baixinho, maliciosamente,” / e outro que equivale a um poema embriagador: “A roupa pendia no azul. Os muros estavam quentes”.

Para Luís Costa, Revista de Cultura 60 (2007), “ler Tomas Tranströmer é uma experiência única e maravilhosa“. Entre suas características de estilo, aponta o laconismo de profundo significado, a clareza, a objetividade e a produção de imagens que surgem milagrosamente das metáforas poderosas em versos preferencialmente livres.

“Tranströmer aposta, assim, sobretudo, na intensidade e, a partir desta linguagem de imagens concentradas, fulgurante, a qual não precisa de muitas palavras, provoca no leitor uma sensação de deslumbramento e surpresa, que, em muitos casos, pode ser considerada fantástica e até mágica”.

O poeta sueco é referência em sua terra e já foi traduzido em mais de trinta idiomas, ou mesmo cinquenta, como adiantou um noticiário televisivo. Entretanto, ainda praticamente não foi publicado integralmente no Brasil, tendo sido citada apenas a publicação de alguns dos seus poemas, em língua portuguesa, na obra composta de 11 estrofes, intitulada "Poemas haikai" (da coleção "Poesia Sempre"), da Fundação Biblioteca Nacional, lançada em 2006. A tradução é de Marta Manhães de Andrade:

"Os fios elétricos

estendidos por onde o frio reina

Ao norte de toda música.

O sol branco

treina correndo solitário para

a montanha azul da morte.

Temos que viver

com a relva pequena

e o riso dos porões

Agora o sol se deita.

sombras se levantam gigantescas.

Logo logo tudo é sombra.

As orquídeas.

Petroleiros passam deslizando.

É lua cheia.

Fortalezas medievais,

cidades desconhecidas, esfinges frias,

arenas vazias.

As folhas cochicham:

Um javali está tocando órgão.

E os sinos batem.

E a noite se desloca

de leste para oeste

na velocidade da lua.

Duas libélulas

agarradas uma na outra

passam e se vão

Presença de Deus.

No túnel do canto do pássaro

uma porta fechada se abre.

Carvalhos e a lua.

Luz e imagem de estrelas salientes.

O mar gelado."

Ainda estamos começando a conhecer o poeta e sua obra. Para quem gosta de poesia e a cultiva, bom é manter na mente o nome de Tomas Tranströmer e tomá-lo e à sua obra como objeto de rigoroso estudo. Este texto é só um incentivo.

Referências

http://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/986556-leia-poema-do-vencedor-do-nobel-tomas-transtromer.shtml

http://colunas.epoca.globo.com/ofiltro/2011/10/06/thomas-transtromer-o-poema-vai-sempre-depender-da-lingua-em-que-nasceu/

http://www.elpais.com/articulo/cultura/Transtromer/poema/cosa/sueno/vigilia/elpepucul/20111006elpepucul_4/Tes

http://www.revistazunai.com/traducoes/tomas_transtromer.htm

http://www.revista.agulha.nom.br/ag60transtromer.htm

taniameneses
Enviado por taniameneses em 07/10/2011
Reeditado em 07/10/2011
Código do texto: T3262298
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