HONRARIA DESCABIDA

No dia 11 de abril do corrente ano, a Academia Brasileira de Letras comemorou 110 anos do nascimento do escritor paraibano José Lins do Rego. Para marcar o evento, o Sr. Marcos Vilaça, presidente da ABL e seus pares, resolveram conceder ao jogador de futebol, Ronaldinho gaúcho, a maior comenda oferecida por aquela magna instituição literária, ou seja, a Medalha Machado de Assis. Segundo as palavras do Senhor presidente, a honraria entregue ao jogador, tinha como motivo, os relevantes serviços prestados por ele ao Brasil. Junto com a honraria, foi entregue um exemplar do livro escrito por José Lins do Rego: Flamengo Puro Amor. Ronaldinho disse no momento em que era agraciado, que ler não era seu passa tempo predileto. Em que pese a sabedoria dos acadêmicos e as qualidades do atleta homenageado, nós outros que labutamos diariamente, na prestação de serviços à sociedade, seja médico, economista, assistente social, enfermeiro, sociólogo, professor, engenheiro, jornalista, escritor e tantos outros profissionais, perguntamos por que a CBF - o fórum apropriado para reconhecer as qualidades e os serviços prestados por Ronaldinho ao Brasil, não o fez? Qual a relação profissional de Ronaldinho com as letras? Justificar a honraria simplesmente porque José Lins do Rego era um fanático torcedor do flamengo, parece-nos, no mínimo, uma ação descabida. Seria o mesmo que a CBF outorgasse a José Neumanne Pinto, outro escritor paraibano, uma medalha honorífica pelos relevantes serviços prestados ao futebol brasileiro. Os invasores, segundo nosso entendimento, não estão adentrando somente nos espaços menos letrados de nossa sociedade. Eles, de forma sorrateira, assim como a falta de ética, estão minando estruturas seculares, até bem pouco incólumes às ações mal intencionadas de alguns que insistem, por ignorância ou má fé, em perverter o que, com esforço, sabedoria e abnegação, foi construído neste país. Pelo andar da carruagem, a voraz vontade de uma legião de dirigentes tupiniquins, os caminhos a serem percorridos pelos amantes das letras correm o sério risco de desembocarem num corredor escuro e sem uma luz que os ilumine e os ajude a não trilharem por tenebrosa travessia.

Rui Azevedo – professor

ruidif@hotmail.com

Artigo publicado no Jornal Diário do Povo - Teresina=PI

Rui Azevedo
Enviado por Rui Azevedo em 27/09/2011
Código do texto: T3244452