INOCÊNCIO CANDELÁRIA-MESTRE TROVADOR

 
Recebi do Lions Clube Mogi-Estância e da AAMART, a deliciosa incumbência de organizar os recitais que essas duas Organizações estão promovendo mensalmente em homenagem aos compositores e poetas do Alto Tietê. O primeiro foi realizado no dia 18 de Agosto passado e teve como patrono o compositor sertanejo Anacleto Rosas Junior. Foi um grande sucesso. Mais de 30 poetas e compositores se apresentaram para uma entusiástica platéia de cerca de 100 pessoas que aplaudiram as canções apresentadas e se enterneceram com as poesias declamadas. Eu mesmo não sabia que Anacleto Rosas era mogiano. E que tinha uma obra tão vasta e de tanta qualidade, a ponto de ser o compositor favorito da dupla Tonico e Tinoco, a dupla coração do Brasil.
O nosso segundo recital será realizado nesta próxima quinta-feira, 15 de Setembro. O homenageado desta vez é o poeta Inocêncio Candelária. Mas quem foi Inocêncio Candelária? Eu sei quem foi. Quando jovem costumava ler nos jornais da cidade as poesias que ele publicava. Tenho certeza que muita gente, principalmente do meio literário e jornalístico da cidade também sabe quem foi esse grande poeta e batalhador da nossa cultura. Mas fiquei realmente consternado por encontrar tão pouca informação a respeito desse confrade nos registros culturais da cidade. Estranhei que ele fosse tão pouco lembrado em Mogi das Cruzes e tão citado em outras fontes, em várias cidades do Brasil, como um respeitado poeta e um grande divulgador cultural.
A sua obra mais conhecida é a Antologia “Poetas do Norte de São Paulo”, publicada com o patrocínio da Câmara Municipal de Mogi das Cruzes, em 1958. Talvez por isso ele seja hoje mais lembrado em outras cidades do que Mogi das Cruzes.
Mas isso é normal. Lembrei-me que o próprio Jesus Cristo já havia se queixado dos seus conterrâneos pela falta de reconhecimento que sempre se devota aos seus filhos ilustres. “Não há profeta sem honra, a não ser em sua própria terra”, disse ele, e esse pressuposto parece ser uma verdade que se repete no tempo e no espaço como um padrão próprio do comportamento humano.
Não faz mal. O nosso velho e querido poeta, trovador dos mais competentes, certamente não está fazendo caso disso. Ele fazia poesia por prazer, e nelas colocava o espírito de quem faz um filho com amor. Não buscava reconhecimento nem honrarias. Assim trabalha todo verdadeiro poeta. Não faz poesia para vender – aliás, que consegue vender poesia? – mas sim para deleitar o espírito de quem tem alguns minutos para investir em sensibilidade e ternura. Basta que algumas pessoas leiam o que ele escreveu.
Grande Inocêncio Candelária. Admirador inconteste de Machado de Assis, fez tantas trovas a respeito do nosso maior escritor, que se as juntássemos todas num único volume poderíamos ter uma inédita biografia do criador de Capitú, Bentinho, Quincas Borbas, Braz Cubas e outras famosas personagens da nossa literatura.
Eis uma amostra:   
 
"Carioca de Nascimento, /Machado de Assis nasceu /
 No Morro do Livramento, / Com todas benções do Céu!..."
 
"Machado de Assis venceu /Toda a pobreza e a doença, /
Com a força que Deus lhe deu / E o talento de nascença!"
 
"De Machado, na arte-pura/ Os livros são pedraria
Em qualquer Literatura/ Para qualquer joalheria.”

"Morta a esposa, entre dores/ Triste, Machado de Assis,/
Todos os dias leva flores /Á esposa que o fez feliz!..."
 
Da Academia Brasileira/ De Letras foi fundador./
Presidente na primeira/ Época do seu labor.
 
Mas ele era também profundamente religioso. E exprimia a sua espiritualidade superior em lindas trovas:
“Jesus  - bondade exemplar/–Até na cruz, entre dores/
Pede a Deus para perdoar/Os seus próprios malfeitores !”
 
“Viveria nesse mundo” /Sempre com muita alegria,
Se o amor fraterno e profundo /Existisse todo dia.
 
Saudoso Inocêncio Candelária. Nós, aqui do Lions Clube Mogi- Estância e da AAMART estamos honrados por dar seu nome a uns dos nossos recitais. É muito pouco para o grande poeta que você foi. Mas é uma homenagem sincera e grata pelos momentos de profunda ternura que você nos deu. Para encerrar, peço vênia ao mestre para dedicar-lhe uma trovinha:
 
Fazer o bem é nossa obrigação
A ninguém dá merecimento.
Do mundo venha a ingratidão
E de Deus o reconhecimento.
 
 
 
 

João Anatalino
Enviado por João Anatalino em 08/09/2011
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