Buscas e encontros: poemas e crônicas. HORA, Martha. Aracaju, SE: Info Graphics, 2011.
Há tantos mistérios nos recônditos das pessoas, tantas veredas no país dos poetas. O que seria da poesia se não fosse Martha e o que seria de Martha se não pela poesia? Ela define sua essência no interior do febril verso e afirma não saber viver sem a poesia. Tomar nas mãos os poemas dessa poeta é tomar nas mãos a sua própria existência, participar de suas buscas e encontros, mergulhar em seu delírio lírico, tornar-se também o eu poético de suas composições. Há inúmeras necessidades de dizer, de ousar, mas apenas o verso em sua magnitude e intimidade indevassável logra expressar o mundo: “Naufraguei todos os barcos. Viajei com o mar e o vento/Ao encontro da liberdade”.
Sentada em sua cadeira de balanço, Martha “invoca uma presença” e, enquanto procura respostas para os questionamentos íntimos, assegura ser a felicidade “invólucro da paz”, “ingênuo sorriso de uma criança”. Entretanto, em sua inquietude, a alma poética revela sua face: “Ah, fui uma borboleta” e convidei o rouxinol a cantar e pagar “o dízimo da solidão”.
E de onde flui a solidão nos versos da autora de Buscas e encontros? Porventura da infindável carência da presença materna, da necessidade do afago que a transporte para a infância, “nem que seja pela última vez”.
Poesia de teor dolorido e profundamente lírico, não a diria essencialmente romântica, mas intimista, existencialista, confessional. Há, sim, uma saudade de tom largamente púrpura na densidade desse discurso poético que se tornou “hóspede da noite”. E que envolve a alma do leitor e o enlaça em amoroso abraço, compartilhando reminiscências cujas trilhas “só remontam aos céus da infância”, ao “rio da infância que a correnteza leva e banha”.
Martha Hora aviva as cores de cristalina emoção nos teares de seus versos livres como pássaros em harmonia com a Natureza e acorda a noite “acendendo as lamparinas” dos olhos do leitor admirado ante o tecido de uma poesia que transpira o sofrimento e a placidez de quem assiste ao espetáculo da vida sem temores.
As palavras são criteriosamente escolhidas para a composição do tecido dos versos, das estrofes, dos poemas que conseguem ritmar os passos de firme delicadeza em direção “à noite de réveillon”. As imagens, as figuras de estilo trabalhadas por Martha pontuam o manto com o qual a poeta veste o corpo da Poesia. Desfilam poeta e poesia pelas alamedas da imaginação.
Quanto mais se lê a produção literária de Martha, menos é possível afastar-se do cenário íntimo, iluminado à luz de velas e revestido de pétalas em movimento cromático. A poeta embriaga-se do vinho de sua essência feminina frente aos reflexos do “espelho das ilusões”.
Presença constante e motivo de inspiração, o mar esparge sua espuma e o frescor de sinfonias sobre os versos:
“Este mar que não pára de cantar
E faz adormecer almas viajantes
Espreguiça enormes ondas de carícias
E espumas brancas de saudades”.
Um tom de angústia de quem se encontra de pé sobre a areia deslizante da praia e se vê na implacável esteira do tempo, acalora _ tanto o texto poético quanto outros em prosa _da escritora sergipana. É daquele ponto, entre o azul e o cinza, e com os olhos perscrutadores que ela nos presenteia com sua literatura.
Postemo-nos agora no parapeito das janelas de Martha Hora, de onde a escritora lê o mundo para traduzi-lo e presentear os leitores.