Mundo Fenomênico
Eram seis horas da manhã e o sol surgia radiante por detrás das montanhas. Eu já estava de pé apreciando aquele espetáculo em grandeza e beleza inigualáveis. De repente cismei e tampei os olhos com as mãos deixando apenas uma pequena fresta pela qual pude vislumbrar apenas uma pequena parcela do astro. Ele então se tornou insignificante, diminuto, quase sem graça. Fiquei ali cismando quando de repente, passou um jato comercial. Fiquei imaginando quantos passageiros teriam em seu bordo, mais as malas, etc. Estava tão diminuto em minhas vistas e, no entanto cabiam em sua realidade tantas pessoas e tantas coisas, porém em minhas vistas dentro de minha sala era tão somente um grão. Sei muito bem das questões da perspectivas. Estudei-as longamente em meu curso de desenho nos tempos de faculdade na antiga Fuma- BH. Porém a perspectiva no momento era outra. O fenômeno das coisas, tudo tão transitório, tão fugidio... A lua embora menor que a terra tem massa considerável, mas da minha janela é tão somente um disco menor que meu prato de sopa. Isso precisa ser considerado. Volto a dizer que não me esqueço das leis da perspectiva, mas a observação remete-me a outra consideração: Somos um mundo fenomênico, nada é o que parece ser. A transmutação de tudo é tão rápida e constante. Chegamos e vamos do planeta iguais a fumaça, sem deixar rastros. Poderes, verdades, opiniões, tempo, tudo fumaça. Não estou aqui fazendo apologia do nada. O mundo é tão somente um momento, nossas idéias quase um sopro, nossas verdades, um gás. Basta mudarmos as perspectivas e nos inteiramos disso. Fiquei pensando nisso ao longo do dia e eis que chega noite. Aqui na chácara onde moro é somente escuridão à noite. As montanhas, o verde das matas, a terra, tudo desapareceu. Sei que se acendesse uma lâmpada tudo voltaria ali estar. No momento da luz apagada não estava. Isso me mostra a frugalidade das coisas. Seria tão bom que nos lembrássemos disso em nossas atitudes diárias. Não sou dono de nada, minhas verdades um algodão doce que desaparece mesmo que não o comamos. Seria tão bom sermos honestos e melhores onde pudermos, mais doces, mais ternos nas relações. Poder e mando vão ficando nos livros de história que quase ninguém os lê...