MULHERES QUE ENCANTAM NUM RECITAL
No sábado, 30 de julho de 2011, terminou a programação da Mostra de Literatura de Mulheres, organizado pelo SESC Santa Rita (Cais de Santa Rita - bairro de São José – Recife - PE).
O encerramento ficou por conta do “Recital do Sertão ao Mar”, que aconteceu na Casa Mecane, no qual, o experiente grupo de poesia Vozes Femininas (Silvana Menezes, Mariane Bigio, Susana Moraes e Cida Pedrosa), recebeu quatro encantadoras poetisas do Sertão do Pajeú: Isabelly Moreira, Mariana Teles, Monique D’angelo e Verônica Sobral.
Foi um magnífico encontro de oito grandes mulheres declamando poesia. “Mulheres que criam, declamam, encenam e encantam com seus versos”, como bem disse o poeta Jorge Filó, que prometeu, mas não foi ao espetáculo.
Para um observador desavisado, a impressão é a de que Pernambuco necessita de nomes de mulheres que se imponham entre os grandes poetas. Mero engano!
Na realidade, a nossa crítica literária tem esquecido, injustamente, muitos valores expressivos da poesia feminina pernambucana. Com essa mostra, o Sesc Santa Rita destacou um grupo de nomes que se encontram entre nossas melhores poetisas.
O destaque, entre as oito artistas, além de seus belos e qualificados poemas, são as performances e as diferenciadas vozes, indo das líricas, de diapasões diferentes, às melodiosas, encantando o público.
Para não me alongar muito, falarei hoje, das poetisas do sertão e no próximo artigo desta coluna, das magníficas poetas do Vozes Femininas.
As poetisas do Sertão do Pajeú, coincidentemente, representam também geograficamente aquela região, que é berço da poesia. Cada uma de uma cidade diferente. Isabely Moreira (São José do Egito), Mariana Teles (Tuparetama), Monique D’angelo (Itapetim) e Verônica Sobral (Tabira). Esse grupo comprova a teoria de que “o homem é produto do meio. ”Suas poesias são recheadas de emoção e simplicidade, com um refinado gosto pelas tradições do Pajeú. Fazem poesia da mais alta qualidade! Elas são um assombro de talentos em poesia. Certamente, ainda vão dar muito o que falar!
Verônica Sobral, de uma poesia bela, comunicativa, encontrou no soneto uma de suas formas preferidas de expressão. Obrigatoriamente incluído em qualquer seleção no gênero.
Monique D’angelo, que além de poetisa é cantora e sanfoneira, é uma artista completa. Seus poemas resgatam a mais pura poesia sertaneja. Estou certo de que, além dos belos poemas, ela nos reserva composições que trarão surpresas.
Isabely Moreira poetisa que toca nossa sensibilidade com poemas belos, românticos e líricos, preservando, sobretudo, as raízes sertanejas e um lindo sotaque nas declamações.
Mariana Teles é uma poetisa como as demais, neo-romântica, de expressão moderna. Privilegiada pela genética, por ser filha de um dos maiores repentistas da atualidade, preza pela capacidade de criar ao estilo mais bonito dos grandes poetas repentistas, contando situações do cotidiano sertanejo e de sua gente. Uma poetisa cheia de belas inspirações.
Essas, entretanto, permanecem ouvindo o silêncio, um injustificado silêncio, dos órgãos de cultura de nossa terra. Com isso, eles nos privam de conhecer e ouvir os versos tão cheios de belezas que elas têm para nos presentear.
E aqui fica uma pergunta aos nossos editores e promotores culturais: porque não editar uma obra dessas feras e não contratá-las para os eventos culturais de todo o Estado de Pernambuco? Certos antolhos, com suas estreitas convenções vêm sufocando o que de melhor existe em nossa literatura.
Para deleite de nossos leitores, selecionei um poema de cada uma dessas geniais poetas, o que não foi fácil, pois todas têm excelentes repertórios.
VERÔNICA SOBRAL – DIVA DA POESIA TABIRENSE
“O FIM DO NOSSO AMOR”
Verônica Sobral
Quantos beijos de amor silenciaram
Nossas brigas, por vezes, tão pequenas.
De tornar nossas noites mais serenas
Os desejos também se encarregaram.
As estrelas do céu, em noites plenas,
Tantos planos e sonhos registraram…
No entanto, esses sonhos se acabaram
Num silêncio feroz de um “não” apenas.
Numa noite tristonha… só de dores,
A saudade passou jogando flores
No dilúvio das lágrimas que choramos.
Nosso peito infeliz, dilacerado
Percebeu que havia terminado
O velório do amor que assassinamos!
MONIQUE D’ÂNGELO: ORGULHO DE ITAPETIM!
A SAUDADE PASSOU ARREBENTANDO
O PORTÃO DE ENTRADA DO MEU PEITO.
Monique D’angelo
A lembrança que vem me atormentar
É um cheiro enlaçando a minha vida.
Um desejo maior que a dor sentida
Vem à noite e não deixa eu cochilar.
Sem querer eu me vejo a recordar…
Uma dor quer passar e não tem jeito.
O meu peito querendo dar defeito
E você tá aos poucos me matando…
A saudade passou arrebentando
O portão de entrada do meu peito.
É você que habita em outro ninho
E não sente vontade de me ver.
Por você, sem querer, vivo a sofrer
E tentando encontrar outro carinho.
Você quis seguir só o seu caminho
E eu vou procurar outro sujeito.
Um amor tão bonito foi desfeito
E eu vivo meu pranto derramando…
A saudade passou arrebentando
O portão de entrada do meu peito.
ISABELLY MOREIRA – DESTAQUE DA POESIA EGIPCIENSE
CONTEMPORÂNEA
SENTI -LOS
Isabelly Moreira
É preciso extrair a pura essência
Existente em nós e em nossas vidas,
Pois assim sentiremos resistência
Ao encontrarmos sensações perdidas.
Enxergar o escuro em transparência,
Ouvir o som nas notas produzidas.
Saciar o sabor da existência,
Cheirar a luta nas canções contidas.
Tocar a alma, a forma, o instrumento.
Amar a vida, a fé e o sentimento,
Que é necessário para prosseguir…
Pois, se não houver sonhos construídos,
Qual o sentido em ter os sentidos
E não usá-los pra saber sentir?
MARIANA TELES - SEMENTE DA POESIA PAJEUZEIRA
“ENGANO”
Mariana Teles
Uns foram puros, outros pecadores
Do mais antigo, ao mais recente.
Uns que chegaram carregando dores…
Outros, que deixaram dores de presente.
Alguns passados, que hoje tristemente,
Eu os cultivo entre os ”traidores”.
No verso antigo, no buquê de flores.
A prova viva que quem jura mente.
Alguns reais, outros, fantasias.
Uns duraram anos, outros poucos dias.
E todos levaram um pouco de mim…
Partiram todos os que eu julguei
Amar, mas no fundo eu não os amei…
Todos começaram na hora do fim.