O Romantismo no Brasil: a literatura se torna popular e importante para a sociedade brasileira.

Resumo: A literatura é uma das formas de criar histórias, de se expressar sobre um determinado assunto, de divulgar algumas teorias e pensamentos, de entreter o público, de relatar fatos históricos, entres outras modalidades. Para ter essa diversidade que se tem hoje, foi preciso, antes, lutar pelo direito de poder publicar romances, folhetins, contos, etc. Essa luta teve ênfase na época do movimento literário conhecido como Romantismo. Tal escola propôs uma nova maneira de pensar e agir, tornou seus seguidores mais patriotas e independentes de outras culturas. No Brasil, esse movimento tomou proporções muito relevantes, um povo que antes se via como uma sombra de Portugal, agora passa a idolatrar sua nação, suas origens, seu “herói” – o índio – figura legítima das raízes brasileiras. Tudo ficou mais intenso com as publicações de livros para a burguesia, classe antes marginaliza e privada da literatura. A elite passa a ter de aceitar a ascensão burguesa, que encontra nos romances regionalistas e urbanistas uma identificação de vida e história. A poesia exalta a natureza tão explorada pelos colonizadores, faz a sociedade se reconhecer como cidadão. Além disso, o Romantismo trouxe uma enorme carga de sentimentos, como amor, patriotismo e valor. Romantismo e literatura popular estão fortemente ligados um ao outro, pois o primeiro serviu de instrumento de concretização do segundo. Com isso, pode-se afirmar que a liberdade de expressão que o Brasil tem hoje em sua literatura deve-se grande parte aos idealistas românticos, que usaram das obras literárias para popularizar o Brasil, mostrar às pessoas suas origens e ensinar a valorizar sua nação.

Palavras-chave: Romantismo, Literatura, Popular.

1. Introdução

O Romantismo é considerado um dos maiores movimentos literários existentes até os dias de hoje. Isso graças à sua colaboração com o desenvolvimento de uma literatura própria e popular.

Mas por que popularizar a literatura? Qual o objetivo dos escritores da época ao exaltarem o Romantismo? O que seria “nação” para as pessoas daquele período? Quais os benefícios a literatura deixou para as gerações futuras?

Com a literatura popularizada ficou mais fácil discutir sobre o país, sobre o que o Brasil tinha de importante e foi possível tornar público fatos como a origem brasileira, o povo de outrora, por exemplo. Baseados nisso, os escritores tentavam passar em suas obras os valores nacionais por meio da emoção que o patriotismo proporcionava, e entre tantas turbulências surgia um esboço de uma nação, que nascera em plena euforia de revoluções mundiais.

Com isso, cabe aqui verificar os fatos que levaram a literatura a se tornar popular no Brasil e mostrar a importância do Romantismo brasileiro frente à sociedade, além de mostrar, também, que a literatura passou a ser vista e analisada de outra forma por escritores, críticos e público consumidor posteriores.

Em princípio, tudo foi fundamentado de acordo com as mudanças que o mundo enfrentara na época: A revolução Francesa e seu lema “Liberdade, igualdade e fraternidade” é um dos marcos que baseiam o Romantismo, que começou a tomar forma mais concreta a partir daí.

No Brasil, a Independência trouxe consigo grandes transformações para o país, dando ao povo uma nova mentalidade, em que:

“era preciso configurar o rosto da nação nova, definindo seus próprios objetivos. Ao grito do Ipiranga era necessário fazer corresponder os gritos da independência de outros segmentos da vida nacional” (CITELLI, 1990, p.46), esses conceitos já estavam presentes na Europa e que “se encaixavam perfeitamente à necessidade brasileira de ofuscar as crises sociais [...]” (NICOLA,1995, p. 73).

Sendo assim, o Romantismo surge no Brasil não só como uma simples escola literária, mas também como uma ferramenta para transformar a sociedade em nação. Logo, pode-se afirmar que o movimento Romântico dá ao povo, a partir da independência, identidade perante os outros países, mesmo que isso não seja reconhecido por Portugal e tantos outros.

Em meio a tantas revoluções e ideias discutidas, a literatura aparece como forma de crítica, questionamentos e liberdade de expressão, como diz Victor Hugo, romancista francês, em seu prefácio de Hernani (1830): “O Romantismo [...] é o [...] liberalismo em literatura”. Tal liberalismo literário torna-se acessível a partir de folhetins e de romances que passaram a ser publicados.

Levantados dados e fontes confiáveis, foi possível relatar neste trabalho afirmações que concretizam o Romantismo como uma nova era, uma nova fase na literatura, pois se antes víamos grupos restritos liderando o povo, agora já temos camadas sociais antes reprimidas aspirando a uma faixa de poder. Não se pode negar a que a literatura é uma das grandes responsáveis por tal mudança em pleno quadro social mundial e, logicamente, não seria diferente no Brasil, que atravessava o seu apogeu nacionalista.

Sendo assim, o Romantismo foi usado como guia para uma compreensão mais concreta sobre a importância da literatura na sociedade brasileira.

2. O Romantismo no Brasil

Para falar de Romantismo, como escola literária, é preciso diferenciá-lo de romantismo; este designa uma maneira de se comportar, interpretar a realidade, os sentimentos; já o primeiro, como dito, representa um movimento literário, um sistema delimitado no tempo, liderado por pessoas movidas pelo subjetivismo.

Feita tal distinção, pode-se aprofundar um pouco mais no tema em questão: o Romantismo, que teve início por volta do final do século XVIII, na Europa, tendo seus primeiros manifestos na Escócia, Inglaterra, Alemanha, França e Portugal.

Agora, limitando-se a Brasil, o pontapé inicial foi dado por Gonçalves de Magalhães, com o poema “Suspiros Poéticos e Saudade”, em 1836, quatorze anos depois da Independência do Brasil, em 1822.

O Romantismo brasileiro valoriza o nacionalismo e a liberdade ajustava-se plenamente ao espírito de um país que acabava de se tornar uma nação, rompendo com o período colonial.

O processo de independência permitiu que a burguesia brasileira adquirisse uma ascensão, tudo por causa do desenvolvimento econômico da época, transformando o Rio de Janeiro em uma grande capital cultural, que colocava o Brasil em contato com os grandes centros europeus, facilitando o crescimento e aprimoramento da literatura. Isso se confirma na explicação que Antônio José Saraiva dá sobre o Romantismo: “(...) o Romantismo é a expressão literária da época em que o escritor entra em contato com as massas burguesas em ascensão.” (1996, p. 26).

Vale ressaltar que o Romantismo brasileiro adquiriu matizes particulares em relação ao movimento romântico europeu. A produção artística procurou valorizar nossas origens, exaltando a natureza e o índio, elementos fundamentais na formação da nacionalidade brasileira.

A revista Niterói (Nitheroy), criada por Gonçalves de Magalhães e Manuel de Araújo Porto Alegre, foi o primeiro meio de comunicação que difundiu o Romantismo brasileiro. Seu objetivo era a divulgação de um programa de reforma e nacionalização da literatura através da veiculação das ideias do escritor português Almeida Garret e do historiador Ferdinand Denis.

As principais características dos poetas românticos eram a imaginação criadora, capacidade de criar mundos imaginários, idealização, amor à pátria, evasão pela morte, pessimismo, solidão, relativa liberdade de forma e sonoridade, versos brancos e livres. Como disse Victor Hugo, importante escritor romântico francês: “Metamos o martelo nas teorias (...) nada de regras nem de modelos” (1827).

3. Contexto Histórico do Romantismo no Brasil

Dentre vários acontecimentos que rodearam o Romantismo, vale destacar a Independência do Brasil, em 1822, e o período de 1853 a 1831, quando o país viveu uma época agitada, fruto do reflexo do autoritarismo de Dom Pedro I: a dissolução da Assembleia Constituinte, a Constituição Outorgada, a maioridade prematura de Pedro II.

Nesse cenário confuso e repleto de dúvidas surge o Romantismo brasileiro, carregado de lusofobia e nacionalismo.

Só que era necessário criar uma relação, um elo entre o governo e seu povo, era preciso criar uma identidade de nação. Para Bernardo Ricupero, cientista político e professor da Universidade de São Paulo (USP), deve-se:

Considerar que [...] entre Estado e a sociedade civil estabelece-se a nação ideológica que dá aos homens e mulheres a impressão de pertencerem a uma comunidade política maior. A nação mantém uma função quase complementar [...] membros de diferentes nações [...] sentem-se como fazendo parte de uma espécie de “todo” coletivo. A nação aparece, dessa maneira, como uma forma de identidade e face fragmentação da vida social e da exterioridade da vida política. (2004, p. 9)

Ou seja, as pessoas daquela época começaram a criar uma estrutura de sociedade, os escritores românticos estavam em plena euforia, colocando em suas obras toda a força nacionalista.

Ricupero é feliz em dizer que a nação aparece como uma forma de identidade, pois essa identidade dará, para os românticos, margem para exaltarem a nacionalidade brasileira.

4. Surge Uma Nova Literatura

Com o surgimento de uma nova escola literária, aparece um novo estilo de escrever, pensar e manifestar.

Em todo o mundo, muito mais do que uma escola literária e artística, o Romantismo foi um movimento oceânico, irresistível, inquietador, demolidor e renovador, abrangendo todos os aspectos da sociedade, renovando e enriquecendo a sensibilidade do homem ocidental “[...] testemunhando uma nova sociedade, com mais igualdade e justiça” (2009), conclui Ubiratan Machado, jornalista e historiador de literatura.

No Brasil houve, na poesia romântica, três gerações (nacionalista, mal-do-século e condoreira), e na prosa, tiveram temas como urbanismo, indianismo e regionalismo.

5. A Literatura se Torna Popular

O Romantismo brasileiro foi um movimento muito fértil, pois foram produzidas obras nos mais variados gêneros.

A partir dessa época começa a surgir um novo público – a burguesia, classe social que se tornara dominante, ascendida após a Revolução Francesa.

É a partir do Romantismo que a literatura passa a se tornar popular, fruto do desenvolvimento cultural do país.

A imprensa passa a existir no Brasil com a chegada da Família Real e, com ela, chegam os folhetins, que desempenharam importante papel no desenvolvimento do romance romântico.

O romance foi uma forma verdadeira de pesquisar, descobrir e valorizar um país novo. Nesse período a imaginação e observação alargam todo o conhecimento do homem com relação ao seu país e a si mesmo, afinal, como explica Jurandir Freire, filósofo,

O sujeito só se reconhece como sujeito quando pode dar uma descrição ideal de si, sem o que não poderia julgar o que é. Sem idealização da imagem do sujeito, não teríamos como saber o que é um sujeito ou se o sujeito que temos diante de nós é um sujeito. (1994, p. 54-55)

Esse pensamento é reflexo do que foi o Romantismo, que fez o “sujeito brasileiro” se reconhecer como pessoa e como nação.

O aprimoramento da produção literária nacional obteve-se também pela divulgação dos ideais do Liberalismo pela Maçonaria, pela fundação de cursos jurídicos e pela valorização do patrimônio cultural brasileiro.

Com isso as obras deixam de ter o caráter prático de obras de encomenda,o público agora é amplo e anônimo, o que leva a uma nova linguagem na literatura.

Segundo Ernani Terra, professor de literatura,

[...] um dos acontecimentos mais importantes do Romantismo foi o surgimento de um público consumidor, uma vez que a literatura torna-se popular, (...) Surge o romance, forma mais acessível de manifestação literária, o teatro ganha novo impulso. (2004, p. 391)

Baseado na citação anterior, a literatura deixa de ser “objeto” somente da elite e passa a fazer parte do cotidiano do povo. Isso se deve à explosão dos gêneros literários (romance, conto, novela), que passaram a ser publicados para todos.

O romance é o gênero que mais se intensifica, já que nele é possível organizar todas as ideias e conceitos românticos, cercados de um cenário inteiramente nacional.

Conclusão

O Romantismo, sem dúvida, deu mais personalidade ao povo brasileiro, mostrando o poder que cada indivíduo tem nas mãos. Até mesmo no pessimismo amoroso da segunda geração romântica pode-se observar um lado positivista, pois o individualismo enfatizado no eu - lírico é uma das fontes para o Brasil deixar de depender da literatura estrangeira, mesmo essa sendo inspiração.

Com a literatura popularizada, deu para criar uma ligação entre indivíduo, intelectuais e os grupos políticas, já que as classes antes desprovidas de conhecimento literário passam a fazer parte do rol de leitores e opinantes.

Por mais que entre o período do movimento literário Romântico prosa, poesia e teatro tenham caminhado paralelamente, todos relataram os mesmos sentimentos, abordaram temas semelhantes, fizeram do gênero que escolheram arma para mostrar aos menos favorecidos a podridão que cobria os seus olhos.

Temas como urbanismo, regionalismo, indianismo, o sertanejo, a natureza protagonizaram obras reconhecidas e valorizadas até os dias de hoje, o público encontrava nas personagens uma maneira de sonhar por um mundo melhor, sonhavam por uma pátria livre e igualitária, assim como os índios viviam; sonhavam em ter em suas vidas grandes histórias de amor, como a de Ceci e Peri, em “O Guarani”, de José de Alencar.

Assuntos como amores perfeitos, paraíso nacional e euforia patriota fazem aumentar a demanda de publicações. As pessoas passam a ler com mais frequência, começam a gostar de literatura, pois descobrem um universo antes restrito. É aí que se confirma a popularização literária, que foi ajudada com a chegada de jornais ao Brasil.

Sendo assim, torna-se fato concreto que a literatura popular serviu de estímulo para uma valorização nacional, pois a partir de obras publicadas foi possível conhecer mais o Brasil, mais o “eu” de cada um e descobrir a união que antes adormecera dentro da sociedade. O Romantismo ensinou os escritores brasileiros a ensinar o povo a pescar sem Portugal, deu aos conhecedores das letras munição para mostrar ao público a maravilha que era o seu país, de onde surgimos, quem éramos antes de Cabral e como poderíamos ser após a independência tão desejada. Graças ao comércio literário desenvolvido no período Romântico, hoje se tem um universo de livros dos mais variados temas; não se pode afirmar que o Romantismo tenha sido o único precursor dessa façanha, mas com certeza foi o principal.

Bibliografia

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NICOLA, José de. e TERRA, Ernani. Português: de olho no mundo do trabalho. Editora Scipione. São Paulo. 2004.

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