RETRATO DO POVO BRASILEIRO EM COR E POESIA

“... Seu olhar inscreve-se em mim / juntos enredamos a história: /

ora sem luz, / ora sem escrita...” (Benedito Cesar Silva)

A arte estabelece o diálogo entre diversos olhares sobre o cotidiano, sobre a paisagem como cenário, enfatizando a importância da obra como fonte de inspiração poética. Mário Quintana escreveu, “Nós fazemos parte da paisagem.”

Aqui, encontro dois artista: um, o pintor Cândido Portinari, que Raymundo O. de Castro Maya, seu melhor amigo, assim descreveu: “com a cor e a poesia, Cândido Portinari foi que melhor retratou a identidade do trabalhador e do povo brasileiro”. Portinari, em seus trabalhos, descreveu o caráter imaginativo, representado por elementos fantásticos, figuras líricas e criaturas místicas. Ele acreditou nessa proposta e se tornou um “organismo vivo”, que abrigou idéias e pensamentos na formatação de suas obras.

Ganhou a admiração de Alphonsus de Guimarães Filho, “... no seu jeito de estar. / Toda alegria, / toda a luz, a manhã que tudo aclare / investe sobre o inquieto Portinari, / dá-lhe viver a sensação de um dia / que é todo vibração. / Eis vai Candinho...”, e de Vinícius de Moraes, “O pintor pequeno / o grande pintor / ruim como veneno / bom como a flor.../ É cor de pintura / dentro da moldura / de um quadro de aurora...”

O outro é o poeta Ferreira Gullar, conhecido e reconhecido nas manifestações artísticas como o “poeta nacional”; foi quem abriu caminho para o movimento da cultura popular, refletida em sua poesia. Seus versos são sensíveis à problemática do povo, porque abrange todas as vitórias, derrotas e esperanças do homem brasileiro.

Portinari e Gullar, através de suas artes (pintura e poesia), demonstraram a necessidade de se lutar contra a injustiça e a opressão.

A partir desse momento nós, “paisagem e povo brasileiro”, passamos a nos conscientizar do valor da cultura e da sua contribuição para a compreensão da sociedade.

Ainda, encontramos em Gullar, em versos sensíveis à problemática da vida do homem brasileiro, “... dizem, tudo dizem / eles nasceram para falar / para contar histórias, / para comentar / a cor de cada / fato sem cor...”