UMA PIADA QUE NINGUÉM ENTENDEU

No Recanto, há certos "escritores" que têm muitos seguidores. Escrevem qualquer coisa e são aplaudidos, menos por seu talento do que por certa postura agradável a quem se quer "muderno", "antenado". Encontrei um desses, li um de seus poemas. Esse poema é o que segue:

DESAFINADO

AINDA NÃO ENTREGUEI OS PONTOS

OUTRAS NOITES AINDA VIRÃO

ENQUANTO ISSO EU VOU TENTANDO

ARREBENTANDO AS CORDAS DO MEU VIOLÃO

Rima de pé quebrado, tema corriqueiro. Mostrei-o a alguns amigos aqui do Recanto e os desafiei: se eu fizer um comentário absurdo, mas em tom elogioso, poucos irão perceber a ironia. Os colegas entraram no jogo. Veja os comentários e quais os aspectos absurdos presentes.

1º comentário:

25/05/2011 23:41 - James Vidal

"O que falar dos versos acima? Nada? Tudo? Ou guardar um silêncio que diga a verdade? Em suas 'Cartas do pesadelo', a poetisa neozelandesa Debbie Lloyd disse que 'os versos são perversos, quando ficam perto do universo'. Eu digo não. Mas meu não está imerso em altas doses de sim. Bêbado, tropeço no poema: o violão é a alma do poeta Jucimar Estrela - a alma, em si, desafinada, no canto da sala das imensas convenções. Rompendo o paradigma neoparnasianista, Jucimar propõe versos perfeitos em sua imperfeição. Como se do caos sobejasse, subjacente, subitamente, a vida. Os versos gritam: haja ouvido para tanta latomia!"

Observe que o comentário de James Vidal, o primeiro da série, trabalha com ideias que se opõem: nada/tudo, não/sim, perfeito/imperfeição. Debbie Lloyd (debiloide) não existe. E sua frase não tem sentido algum. E latomia significa barulho, vaia.

2º comentário:

25/05/2011 23:52 Wanda Maia

"O poema se poetiza. Paraibano, o poeta se paraibaniza. Como se paraibanizar-se fosse redescobrir o centro de tudo. Alma, gesto, movimento. Seus versos claudicam e soam como canções, iguais aquelas que eu escutava em minha infância, quando caminhava pelas ruas de Cuitatelo de Dentro. A voz do poeta peruano Atahualpa Guevara ainda ecoa pela estrada. Ele, que vendia os livros do pastor Laudelino de Aguiar para sobreviver, mesmo sendo um empedernido ateu, me ensinou a dançar catira. Cordas de violão arrebentadas. Um quarto talvez. Um velho colchão. Os poetas da estirpe de Jucimar Estrela transpiram Guevara: El Chancho redivivo. Não sei, mas creio que a poesia brasileira ganha um novo caminho com o desleixo objetivo da poesia estrelada..."

Onde fica Cuitatelo de Dentro? Quem é Atahualpa Guevara? Um peruando que ensinava a dançar catira? Desleixo objetivo? "El Chancho" (o porco) redivivo? Versos que claudicam (mancam): têm os pés quebrados.

3º comentário:

26/05/2011 00:10 Donato Cerqueira

"O cronista russo Andrej Khursalaiev, amigo de Leon Trotski, em um diálogo com o poeta ucraniano Matheleiani, afirmou que a poesia cabe no cinzeiro de um hotel de beira de estrada. Nunca fumei, nem dormi em hotéis de beira de estrada, mas entendo o que Khursalaiev quis dizer: poesia é vício e é viagem. No cinzeiro estão as bitucas, poemas incompletos que a mente não teve condições de completar. No hotel de beira de estrada, está o descanso da viagem que, em resumo, é a vida como um todo. O poema de Jucimar me soa assim como uma bituca no cinzeiro. Observo-a, absorto, como se fosse um aborto, um algo incompleto que sangra. E, se sangra, é porque teve (tem) vida. O poema, uma trova, soa incompleto. Mas a vida é incompleta, somos incompletos, seres em busca de um sentido, um brilho. E a poesia traz uma ilusão de sentido. No fim de tudo, estaremos todos diante de um paredão, aguardando a hora em que um protorrevolucionário nos dará um tiro de misericórdia. Morreremos, mas o poema permanece. Vida breve, arte longa".

No seu perfil, o poeta diz que os seus amigos o comparam a Maiakovski. Em seu comentário, Donato inventa um tal de Andrej Khursalaiev, amigo de Leon Trotski, e um tal de Matheleiani. E afirma que o poema de Jucimar é uma bituca de cigarro, um tipo de aborto. E cita, de modo irônico, os paredões da Cuba castrista, para onde eram mandados aqueles que discordavam do regime. Aqui, de novo, ecos de Che, sanguinário como ele só. E aquilo que as revoluções esquerdistas produzem aos borbotões: mortes, muitas mortes.

4º comentário:

26/05/2011 08:26 - Viviane Rolando

"As palavras fervem: 'tentando', 'arrebentando'. Urge banhá-las com água de colônia. A poesia é assim: tentativa. E erro. Tentar e errar. E continuar. Em minhas angústias, entre um e outro gole, uma e outra tentativa de suicídio, escrevi poemas que me pareciam sempre incompletos. Essa incompletude, ao mesmo tempo em que me feria, é que me dava ânsias de vida, de vontade de prosseguir. Quantas vezes vomitei em jorros firmes e súbitos ao perceber que meus versos jamais chegariam à grandeza dos versos de um poeta como Atahualpa Guevara, citado por Wanda Maia? Muitas vezes. Tenho sensação similar ao ler a rudeza urgente e arguta dos versos do poeta Jucimar, que muito me incomoda e fascina com suas rimas claudicantes. Ah, se eu escrevesse assim... Não teria essas marcas de lâmina nos meus pulsos..."

Aqui, Vivi Rolando fala em vômito e suicídio e, sabedora da farsa Atahualpa Guevara, de Wanda Maia, reitera a mentira. Jucimar, ao que parece, gostou do comentário de Vivi. Chegou a visitá-la e fez um comentário a um suposto poema-homenagem ao "Desafinado" de Jucimar, escrito por ela:

26/05/2011 17:32 - JUCIMAR ESTRELA

"li e reli seu comentário em minha escrivaninha sobre a trova "desafinado" e confesso que achei de extrema importância para mim...isso que faz o poeta seguir em frente com sua loucura, com seus fantasmas..."desafinado" é um pequeno texto real. tenho um violão já faz tanto tempo e ainda continuo querendo ser amigo dele , mas parece que ele não me entende ou eu não entendo ele? já tentei mas não sei o que acontece, toco bateria mais ou menos mas o violão continua fugindo de mim.quando vc tiver um tempinho leia o meu perfil, já produzi 3 cds com ANDERSON MARQUES um compositor e cantor paulista, nesses cds tem algumas letras de minha autoria mas nunca consegui fazer música isso fica por conta do meu parceiro!mais uma vez , muito obrigado por suas observações!" (sic)

5º comentário

26/05/2011 08:52 Aldir Bilac

"Wandinha me indicou o poeta Jucimar. Vim lê-lo, pois minha amiga não costuma errar em suas escolhas e observações. Estatelo-me fragorosamente diante do poderio bélico desses versos. Curtos, pungentes, coruscantes, lépidos, são versos de uma verve febril, como de poetas do movimento Sturm und Drung. A suprema visão de um violão de cordas quebradas me remete ao caos. Cordas quebradas: não música. Vivemos a era da não música, em que a voz roufenha de nosso ex-líder maior soa como a flauta de Hamelin. Falta-nos melodia. Falta-nos sexo, nexo, luz. Matamos Deus, mas Ele nos olha nos olhos três dias depois. Conduzidos para o nada, resta-nos a esperança de um violão de cordas quebradas. É isso. E não é isso."

Entrei no jogo. Carreguei nos adjetivos. Citei os primórdios do movimento romântico. Citei Lula e fiz uma piada com o flautista de Hamelin, que atrai com sua flauta ratos e, depois, crianças. As frases finais definem tudo.

6º comentário

26/05/2011 09:04 - Viviane Rolando

"Há algo que só agora, em minha 27ª leitura do poema, pude perceber: o reiterado uso de clichês. Já havia reperado no gerudismo presente no 3º e no 4º verso. Mas o clichê (entregar os pontos), só agora pude percebê-lo. Com isso, o poeta nos mostra que construímos esteios verbais. Sem perceber os reiteramos, tornando-os partes intrínsecas do que somos. Com o tempo, eles perdem o sentido, e ficam como se fossem mobílias na sala, sala, aliás, onde talvez esteja um violão de cordas arrebentadas. Eis o que somos: autômatos voluntários, máquinas sexuadas, mentes programadas para repetir os sins e os nãos permitidos, como salientou esse bêbado contumaz, James Vidal, meu irmão, meu inimigo. De certo modo, o poema, em sua aparente simplicidade, faz em nós um enema mental e expulsa de nosso pensamento os nãos e os sins que nos aprisionam. Hoje é dia de comer granola."

Enema mental? Pois é. A frase final não tem absolutamente nexo nenhum com o resto do comentário. Mas dá um ar "engraçadinho" ao que se diz. A piada se prolongava. E aparentemente ninguém entendia.

7º comentário

26/05/2011 09:19 - Deodato

"Gostaria de acrescentar um dado interessante a essa discussão: a ausência de pontuação nos versos da trova acima. Não bastasse o uso proposital de clichês, o autor foge das pontuações. As palavras têm fôlego próprio: empilhadas, surgem como quadros de Roger Dean (aliás, dona Wanda, quando você vai se dignar a me devolver aquele CD importado do Atomic Rooster, que eu te emprestei?), formando uma paisagem angustiantemente onírica. Não há pontos, nem vírgulas. Só as palavras, sólidas, ancestrais. O poema é a expressão das palavras, que trazem consigo maciças doses de silêncio. O formato de trova, porém, é uma prisão estética. Eis a imagem, preso na cadeia da forma, o poeta liberta as suas palavras das amarras da gramática. Como quem luta por uma vida melhor..."

Deodato aponta as limitações gramaticais do poema, cita Roger Dean e a banda Atomic Rooster. De certo modo, Deodato encontra coisas positivas no poema.

8º comentário

26/05/2011 10:39 Dedé Bevilacqua

"Há uma cena muito curiosa no filme "O último imperador" (1987), de Bernardo Bertolucci: os médicos chineses analisam as fezes de Pu Yi, o imperador criança, para verificar o seu estado de saúde e a qualidade de sua alimentação. Ao lermos um poema, temos de ter a noção de que ele é resultado de um processo de alimentação do poeta. Já conversei com uns escrevinhadores de versos, que, ao serem perguntados sobre quem os influenciou, simplesmente diziam: eu escrevo por mim mesmo, do meu jeito. Em outras palavras, é como se ele tivesse "nascido" poeta. Ou nunca tivesse lido outros poemas, em que se espelhasse. Ao analisar o poema "Desafinado", como um médico chinês, da corte de Pu Yi, vejo que sua alimentação é saudável: trata-se de fezes vistosas, rijas, sem máculas. Vejo nos seus versos a influência de poetas, como Olegário Vianna, Caio Pinto Cançado, Germano Jardim, Tonico Fontoura e Genésio Domingues. Daí o seu aspecto."

Aqui, para evitar uma repetição de recantistas, usou-se o recurso de inventar um personagem: no caso, Dedé Bevilacqua, um "leitor", criado por James Vidal. Aqui, parte-se do recurso de se citar uma obra qualquer e fazer uma analogia. O que Dedé/James faz é chamar o poema de "cocô" ("trata-se de fezes vistosas, rijas, sem máculas") e cita prováveis influências de poetas que nunca viram a luz do sol. Repare em dois deles: Tonico Fontoura (biotônico) e Caio Pinto Cançado (cai o pinto cansado...). Até aqui a piada resiste sem ser entendida.

9º comentário

27/05/2011 11:21 - Derek Houseman

"Vultures fly around the poem. Its verses smell. But this foul scent springs the new life. The revolution can't be made without the healthy fragrance of crap. Without the whores, beauty becomes an empty. Without the fags, men are just men. Without villains, the good guys are hollow. Jucimar's poetry is transgressive,'cause it proposes a dream world of delusion. A world without gods. A world of hopeful vagrants. Here is a poem of crap and blood. It stinks, but illumines."

Abusando google tradutor, criamos um outro leitor, Derek Houseman (citando Grey's Anatomy e House) e pegamos pesado: "Abutres voam ao redor do poema. Seus versos fedem..." O poeta se encarregou de fazer uma tradução, via google tradutor também:

27/05/2011 19:54 - JUCIMAR ESTRELA

TRADUZINDO DERECK: urubus voam ao redor do poema.seus versos cheira.mas esse cheiro horrível molas da vida nova. a revolução não pode ser feita sem perfumes saudável de porcaria.sem putas , a beleza torna-se um vazio. sem bichas, os homens são apenas homens. sem os vilões, os mocinhos são ocas. jucimar poesia é transgressora,pois propõe um mundo de sonhos e ilusão. um mundo sem deuses.um mundo de vagabundos esperançosos .aqui está um poema de lixo e sangue. cheira mal mas ilumina. "NÃO SEI QUEM, MAS VALEU DERECK"

10º comentário

30/05/2011 23:03 - Brito Macena

"Versos crus. Poesia em forma de jacto. Ejaculando ideias em forma de fogo. Grito? Sim, mas com a garganta arranhada. Desafinar aparecendo no meio do coro. E o couro come. Justa morte para os amam a batata frita".

Outro "leitor" inventado. Mais frases soltas sem sentido.

11º comentário

31/05/2011 14:01 - Beto Carrasco

"Recebi a visita de um certo Aderbal, que me desancou, por eu haver criticado um poema do Jucimar, e me humilhou, afinal tenho um pouco mais de 4 mil visitas, enquanto Jucimar tem mais de 40 mil. Ao visitar essa página, fui surpreendido ao encontrar um verdadeiro estudo sobre o poema 'Desafinado'. Assumo humildemente que fui movido por preconceitos: de fato, a poesia de Jucimar está bem acima dos meus versinhos imundos. Sua capacidade de concisão é fenomenal. O uso correto do vernáculo, sesquipedal. Curvo-me diante de sua capacidade. Maiakovski caminha de novo entre nós. Só falta a blusa amarela. Como assinalou Dedé Bevilacqua, há ecos de Caio Pinto Cançado e Tonico Fontoura na poesia de Jucimar. Aliás, tive a honra de conhecer Caio Pinto, quando ele participou do Festival de Poesia de Pau Mimoso do Norte, no interior do Acre. Grande alma! Como dizia, a poesia de Jucimar reflete a dicotomia existencialista do páthos. Ler seus versos incita um animus necandi, cuja reverberação ecoa a ambigua relação eros-thanatos. Trata-se de um exercício de autocunilinguagem, raro na poesia contemporânea, que reflete os cacoetes da poesia europeia e norte-americana. No dizer de Alan House, 'the rupture is only a rectum in the middle of normal'. A poesia rectum de Jucimar expõe o zeitgeist. Vivemos a época da transgressão. Os versos de 'Desafinado' eructam o que Engelson chamava de 'dullness apparently enlightened'. É isso."

Beto Carrasco entra na brincadeira. Ele havia sido "maltratado" por criticar um texto de Jucimar. Ao ver a piada, resolveu, com muita ironia, "elogiar" o poema. Pau Mimoso do Norte? Alan House (lan house)? "A ruptura é só um ânus no meio do normal"? "Burrice aparentemente iluminada"? Depois disso, Viviane Rolando decidiu criar uma "polêmica"...

12º comentário

01/06/2011 11:36 - Viviane Rolando

"Como assim 'dullness apparently enlightened', Sr. Beto Carrasco? Peter Engelson, ao usar essa expressão, se referia aos cultores da arte naïf, como Dingo Montrelli, Cesar Pastel e Uderich Kuplenberg. Não pode, de modo algum, se referir à poesia de Jucimar, uma vez que essa tem um viés francamente enragée, de tons levemente niilistas. Isso fica claro com o uso pseudopaupérrimo da pontuação e de palavras cotidianas, em especial os gerúndios. Entenda isso: em Jucimar, menos é mais. Não por sua limitação intelectual, mas por sua proposital negação da lógica capitalista. Leia os estudos de Mukos Nakama e assim você terá uma compreensão daquilo que eu e, aparentemente, Brito Macena tivemos. O que Jucimar propõe é uma ruptura com a cultura dita clássica, acadêmica, estanque, numa exaltação ao pensamento revolucionário de figuras como o filósofo maranhense Rubicundo Pinto e o poeta português Manoel Joaquim de Lisboa. O seu problema, além de certo ressentimento, é uma visão distorcida do fazer poesia. Ao ler seus poemas (eu os li, acredite!), veio-me à mente os versos do poeta popular Gerineldo Bueno: 'os zói de Çucena briaram ao vê o remelexo de Alexo'. Ou seja, ao ver o "remelexo" de Jucimar, o senhor se sentiu, ao mesmo tempo, seduzido e invejoso. É triste isso..."

Nenhum dos citados existe. Um poeta português chamado Manoel Joaquim de Lisboa? Rubicundo Pinto (pinto vermelho)? E o que a frase de Gerineldo Bueno (ecos de Gabriel Garcia Marques) tem a ver com a questão? Uma farsa absurda. Mas que, aparentemente, tinha alguma lógica...

Não bastasse isso, entrei na polêmica também...

13º comentário

01/06/2011 13:32 - Aldir Bilac

"Beto, o que é isso? Li o seu comentário e senti gotas de veneno escorrendo em suas linhas. Para que tanto ressentimento? Faça amor, não faça a guerra! Troque seu fuzil cinzento por uma rosa amarela. Vista uma camisa listrada e saia por aí. E beba algumas doses de pitu. Enfim: relaxe! E, se quiser, goze. Vê-se claramente que você, Beto, é um conservador. Creio que deve ter tido pruridos ao ouvir falar do kit gay. Com certeza, defende o novo código florestal. Você, Beto (um tremendo) Carrasco, é um homem velho. Com certeza, será calcinado pelo fogo do futuro. A moderna poesia está com Jucimar. Ele a domina. Os seus versos, o que são? Coisas natimortas no submundo do Recanto. Você não entendeu nada, pois ficou com a cuca fundida! Busque conhecimento!"

Frases de efeito e postura esquerdista. Detalhe para a frase final, citação de Bilu, o extraterrestre. Como a coisa não surtia efeito, ou seja, o poeta não compreendia a ironia dos comentários. James Vidal, sempre ele, resolveu apelar.

14º comentário

02/06/2011 14:46 - Valdomiro do Ó

"Após ler esses versos, traguei um beck e fiquei pensando nos meus dias em Buenos Aires, em que eu e Túlio Sardinha tentamos gravar uma fita demo com nossas músicas, em um estúdio fuleiro pertencente a um amigo de longa data. Tempos difíceis aqueles. O que nos consolava eram os acordes de nossos violões. Infelizmente, aquele foi um ano perdido. Jorge Videla depôs Isabelita Perón e tomou o poder na Argentina. Tanto eu como Túlio, que tínhamos envolvimento com uma célula anarquista chamada 'Los niños de mierda', tivemos de nos disfarçar de mulheres e passar uma longa temporada em um bordel de San Salvador de Jujuy, fazendo coisas das quais até hoje me envergonho. Túlio não se envergonha. Hoje ele é casado com um peruano e se chama Estela Lafuente. Como ia dizendo, éramos fascinados por aquele espírito latino-americano, que acreditava que um tango argentino caia melhor que um blues. Éramos sonhadores. Hoje, tocar violão é algo meio anacrônico. Eu mesmo desisti do violão: meu negócio agora são as pickups e a música eletrônica. Uso o nome artístico de DJ Lordose e tenho umas músicas que fazem sucesso aqui em minha cidade, Tefé, Amazonas. Composições minhas, como 'Xakualha a tcheca, menina karipuna' e 'Sobre fogão, me diga: Dako é bom?', levam aos jovens de Tefé mensagens de mudança, de liberdade, de compreensão do outro. Enfim, promovem a paz. Ainda assim sinto saudades do meu velho violão Rozini e de uma certa busca interior mais profunda, em busca da nota perfeita. Isso é o que esse poema me evoca..."

Repare na história de Valdomiro. No nome de suas "composições". Na justificativa para o seu sucesso entre os jovens. Eis um discurso politicamente correto, mas que traz em si a burrice que se instalou em nosso país. A ignorância nos ilude. E nos mata. A cultura popular apenas reflete o estado mental de nossa gente, que aplaude, por não entender, aquilo que aparentemente é revolucionário, moderno. No fim dos embates, restou o comentário final de Deodato.

15º comentário

03/06/2011 12:21 - Deodato

"Patos submergem em busca de pequenos peixes. Feixes de luz cortam a pele d'água. Meu coração é assim: só mágoa. Mas não quero que o deixe. Meu coração: cordas de um violão que não consigo dominar. Tarde cíclica. Mortevida altissonantes. Lascivos e lânguidos acordes jazem entre mim e ti. Canta, Jucimar! Os acauãs te invejam!"

Acauã é tido como uma ave de mau agouro.

Assim como criamos uma série de comentários pseudointelectuais e passamos por bons moços, há no mundo da net muitas informações falsas, com jeito de verdades absolutas. É preciso ter cuidado com o que lemos. Pesquisar, procurar a lógica das coisas é uma questão de sobrevivência!