O PEREGRINO
O PEREGRINO
Inácio Strieder
Ao final de uma bela tarde eu estava tranquilamente sentado na varanda de uma casa de fazenda no interior, apreciando o verde dum vale, com mata à direita e à esquerda. Ao longe, montanhas. Veio então o caseiro e me avisou de que chegara um senhor, com um bastão na mão, e queria conversar comigo. Fiquei curioso, pois naquele interior, numa casa três quilômetros distante da estrada principal, quem teria descoberto que eu estava ali? Pedi que mandasse entrar o estranho. Ao ver aquele senhor, com um pouco mais de setenta anos, cabelos grisalhos, não me pareceu tão estranho assim, pois parecia um homem comum, e sem cerimônias começou a conversar comigo. Fixando os seus olhos, senti imediatamente uma grande simpatia por este visitante inesperado. Com certeza merecia ser escutado. E ele explicou a que vinha. Simplesmente trocar ideias, conversar, recordar, falar sobre as suas experiências na vida. Considerava-se um peregrino. Mas não um peregrino que migra pelos santuários religiosos em diversas regiões do mundo. Santuários de pedra, lugares míticos não lhe interessavam. Ele considerava a vida como uma grande peregrinação. E esta sua peregrinação se iniciara quando o espermatozóide de seu pai se juntara ao óvulo de sua mãe, dando origem à genética de seu ser biológico e às potencialidades de sua racionalidade e espiritualidade. A sua peregrinação, portanto, tinha um momento certo de seu início, mas ainda não terminara. Nos seus mais de setenta anos de peregrinação, tivera ricas experiências de vida, e agora sentia a necessidade de compartilhá-las com alguém. E parecia-lhe que eu seria a pessoa indicada. Fiquei temeroso em aceitar o convite deste homem para ser o confidente de suas narrativas, e solicitei-lhe uma noite para meditar. No dia seguinte lhe daria uma resposta. Neste primeiro encontro, fiquei escutando este peregrino da vida por mais de duas horas para analisar se, realmente, valia a pena registrar a riqueza de uma trajetória de setenta anos, que ele pretendia me expor. Ainda sem decisão, fui dormir. Em sonhos o meu subconsciente foi reconstituindo imagens das narrações do Peregrino. E foram tão interessantes que acordei convencido que valeria a pena registrar a vida deste Peregrino, pois as suas experiências eram lições de sabedoria que não poderiam perder-se com o final de tão rica peregrinação. Inclusive, porque também eu já havia “peregrinado” por mais de setenta anos neste mundo. Com certeza, em certos momentos, haveria superposição entre as experiências do meu interlocutor e as minhas, pois o período histórico de nossas peregrinações era o mesmo. E assim nasceu o propósito de registrar em livro o que O Peregrino recordava e me narrava por dias e meses de conversas. O Peregrino estava muito alegre por ter encontrado finalmente um companheiro, disposto a escutá-lo e, praticamente, conviver com ele até finalizar os seus relatos.
Os primórdios da peregrinação
As minhas conversas com O Peregrino seriam muito informais. Por isto, quando O Peregrino chegou no dia seguinte ao nosso primeiro encontro, inicialmente trocamos amenidades, conversando futilidades, pois a vida não é um acúmulo de seriedades. Mas, aos poucos O Peregrino foi introduzindo as suas primeiras reflexões, iniciando com o pré-começo de seu peregrinar existencial. Começou, então, a falar como segue.
Após um dia cheio de trabalho pesado na agricultura, meu pai e minha mãe se recolheram e se amaram carinhosamente. E assim geraram o nono filho, que sou eu. Três filhos haviam morrido, cinco estavam vivos. A mortalidade infantil, naqueles interiores, era grande. O povo do interior estava abandonado, a politicagem e a corrupção eram enormes. E a população sofrendo desprotegida. Meus pais moravam numa localidade chamada Taipão. Já o nome sugere que esse local, na época, ficava onde “Judas perdeu as botas”. No que se referia à convivência, também neste local remoto as pessoas eram felizes, embora a vida fosse muito dura.
Nada sei diretamente dos nove meses de minha gestação, durante a gravidez de minha mãe. Sobre isto apenas posso registrar o que me contaram, e imaginar as preocupações de minha mãe. Já três filhos seus haviam morrido pela ausência de atendimento médico na região, e pela impossibilidade econômica de meus pais procurarem atendimento em centros maiores. O que aconteceria com este novo filho? Seria o seu destino também o cemitério? Uma grande incerteza angustiava os pais, pois as doenças infantis eram muitas na região. Não só eu e meus irmãos nascemos em casa, por mãos de parteiras práticas, sem os devidos cuidados de higiene, nem o uso de instrumentos esterilizados. As infecções, tanto das mães como dos recemnascidos, eram frequentes, e não poucas vezes levavam à morte materna e infantil.
Após alguns relatos de sua história, O Peregrino costumava fazer digressões. E em relação às parteiras daquele interior ele lembrou que ainda hoje se conta que elas eram instruídas, não se sabe muito bem por quem, para que colaborassem com alguns cuidados eugênicos, fazendo com que crianças com graves defeitos físicos não sobrevivessem. E como a região onde O Peregrino havia nascido era de grande referência religiosa, com instrução austera e severa de padres jesuítas, geralmente de origem alemã, as parteiras deviam batizar imediatamente os deficientes e as crianças que nascessem com saúde frágil. Desta forma evitariam que estes recemnascidos morressem sem batismo, e fossem condenados ao Limbo. Neste lugar misterioso, fruto do imaginário teológico medieval, mas ainda real no imaginário religioso católico até o Concílio Vaticano II, no século passado, ninguém era totalmente feliz. Por isto, como se poderia imaginar que houvesse pais que não desejassem para seus filhos a felicidade plena no céu, junto a Deus, mesmo que eles tivessem vivido apenas algumas horas nesta terra? O Limbo, sem a presença de Deus, era um lugar tristonho, sem o sofrimento do fogo do inferno, mas com o desejo de plena felicidade frustrado. Talvez, no juízo final, Deus desse uma nova chance aos “límbicos” para que optassem por Deus ou pelo diabo. No Limbo se encontravam tanto os recemnascidos, que morriam sem o batismo, como os adultos não-cristãos, mas que haviam praticado o bem na terra. Todos estariam aguardando o Juízo Final para que fossem redimidos. Diante de tal doutrina, segundo a qual todos nascem impuros diante de Deus, mesmo sem culpa, com o pecado original corrompendo todo o seu ser, a primeira preocupação das parteiras e dos pais deveria ser batizar as crianças. Em caso de um parto difícil, com ameaça da morte da mãe e do bebê, se por acaso o pezinho do bebê começasse a sair, e o restante do corpo ficasse estrangulado no ventre da mãe, as parteiras poderiam batizar a criança, derramando água sobre o pezinho, pronunciando a fórmula do batismo: “Eu te batizo em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo”. Ou, em outros casos, se a criança não conseguisse nascer, aconselhava-se às parteiras, ou enfermeiras, a encherem uma seringa com água, perfurando o útero com a agulha e esguichando a água no corpo do bebê, ainda vivo, pronunciando a mesma fórmula do batismo.
Após esta digressão, O Peregrino voltou ao fio da meada, descrevendo o seu posparto. Como seus pais viviam neste ambiente de profunda religiosidade, e como ele havia nascido fraco, a primeira preocupação foi procurar o vigário para agendar o batismo. Quatro dias após o parto o Padre estava de visita na igreja mais próxima, que distava cerca de seis quilômetros da casa onde ele havia nascido. Mas, como chegar a esta igreja, já que ele havia nascido fraco? O único meio de transporte era o cavalo. Mas estas precariedades não impediram que fossem convocados madrinha e padrinho para que o levassem até a igreja, batizando-o. Era mais importante batizar a criança do que preservar sua sobrevivência física. E O Peregrino sobreviveu a esta viagem cansativa de doze quilômetros, seis na ida e seis na volta, no lombo de um cavalo, aos quatro dias de vida. Imaginem só! E o padre alemão, que batizou O Peregrino, ficou muito feliz, pois havia aberto as portas do céu a mais uma criatura. Não lhe importava o risco físico que isto significava para um ser tão frágil, que apenas havia aparecido neste mundo. Pelo contrário, alegrara-se constatando que os simples fiéis obedeciam às suas pregações, dando mais valor ao céu do que à vida na terra. E O Peregrino continuou:
Minha madrinha me contou, depois de trinta anos, que ficou com muito medo de que eu escorregasse pelas fraldas e caísse do cavalo, enquanto cavalgava no caminho para a igreja do batismo. O cavalo não tinha um andar muito suave, e eu era muito pequeninho. Ela mesma, mais tarde, entrou no convento e se espantava com as precariedades a que o povo do interior se sujeitava.
Além desta preocupação com o meu batismo, e mesmo eu tendo uma saúde frágil, meu pai imaginava qual seria meu futuro. E no mesmo dia em que nasci, passou por cima de nossa casa um avião, transportando o coração do mártir missioneiro Padre Roque Gonzales, que havia sido trazido de Assunção do Paraguai até a cidade de São Luiz Gonzaga, no Rio Grande do Sul. Ali, Roque Gonzales recebeu homenagens, pois ele havia sido morto no século XVII pelos índios em Caaró. O seu corpo fora queimado, restando apenas seu coração nas cinzas, que até hoje é relíquia em Assunção. Vendo passar um avião, fato muito raro nestes remotos anos de 1940 nestas regiões, meu pai profetizou para mim a profissão de Aviador. Na verdade isto não se realizou, mas, certamente, muito mais do que qualquer menino nascido nesta época naquelas regiões eu já viajei de avião durante esta minha vida peregrina por diversas partes do mundo.
Eu mesmo não tenho lembranças dos meus primeiros meses de vida no Taipão. Poucos meses depois de meu nascimento meu pai vendeu suas terras naquela região, embora fossem férteis. Com certeza, temia que mais filhos seus morressem ali, pois já chorava a perda de três. O mesmo temia no meu caso. A oito quilômetros de distância encontrou terras mais saudáveis, sob a proteção de Santa Catarina. Do Taipão, contudo, ficaram muitas lembranças. Taipão havia entrado na alma de meus pais e de meus irmãos mais velhos. Muitas vezes faziam referência aos tempos do Taipão. Meu pai plantava feijão e criava suínos. Com a banha destes animais sustentava razoavelmente bem a família, mas a escola era distante e o atendimento médico precaríssimo. A natureza era bela, e o rio Ijuí nas proximidades, ainda sem poluição, abundava em peixes. Ao longo do Rio, em terras devolutas, moravam descendentes dos índios missioneiros em casebres cobertos com folhas de palmeiras. Viviam de uma agricultura de sobrevivência, de biscates e da pesca. Na totalidade analfabetos. Aos imigrantes esta população parecia preguiçosa, viciada em bebidas alcoólicas, embora se mostrasse alegre com suas frequentes cantorias ao cair da tarde. Com a mudança de meu pai para a nova propriedade, em área já mais povoada e cultivada, tínhamos como vizinho um tio paterno com diversos filhos. Primos amáveis, companheiros de brincadeiras durante muitos anos. Também os filhos de outros vizinhos nos visitavam nos fins de semana. Meus irmãos mais velhos frequentavam a escola, e ajudavam meus pais na lavoura e na criação de gado. Para mim ainda tudo era brincadeira. Apenas me lembro que meus irmãos, de vez em quando, traziam baldes cheios de pequenos peixes, que pescavam no riacho que atravessava nossa propriedade. Sem que eu tivesse qualquer memória da gravidez de minha mãe, nasceram então meus irmãos gêmeos. E dois anos depois minha mãe engravidou mais uma vez, nascendo a quarta das minhas irmãs. Penso que, com isto, meu pai sentiu a necessidade de aumentar a sua propriedade para sustentar a família que crescia, e resolveu comprar uma propriedade um pouco maior e mais fértil. Embora esta nova propriedade não ficasse muito distante da anterior, ela se localizava numa área comunitária sob a proteção do Salvador, com referência a Cristo Rei. Nesta nova e última residência de meu pai, ainda nasceram um irmão e a última irmã. Assim minha mãe havia gerado catorze filhos, três dos quais entraram nas estatísticas da mortalidade infantil. Foi neste local, em Salvador das Missões, que eu, propriamente, comecei a tomar consciência da vida e do mundo. Uma vida muito protegida e um mundo com dimensões minúsculas. Penso que este minúsculo mundo começou a se alargar entre meus quatro e cinco anos. Tive que me acostumar a novos vizinhos , acompanhar aos pais e irmãos a uma igreja um pouco maior. A nova casa agora era de alvenaria, com divisão para a cozinha e para os quartos de dormir. As duas partes estavam separadas por um corredor. Próximo à casa havia um paiol para armazenar a colheita, e anexo a estrebaria para as vacas. Perto dali também existia um chiqueiro para criação e engorda de porcos. As galinhas andavam soltas, e à noite, para dormirem, se alojavam nas árvores que rodeavam as construções. Sempre havia dois ou três cachorros, que alertavam para qualquer aproximação estranha, fosse veículo, pessoa ou animal. Estes mesmos cachorros também se prestavam para a caça, pois na região ainda havia muito floresta com animais selvagens de pequeno porte: coelhos, tatus, gatos do mato, tamanduás, ouriços, gambás, ratos, camundongos, furões, raposas, guarás, lagartos, cobras, jaguatiricas, cotias, preás, esquilos, lebres. Os diversos riachos estavam repletos de pequenos peixes. Principalmente lambaris, jundiás e traíras. Também as aves eram abundantes na região. Como ao redor de nossa casa havia um vasto pomar, pássaros vinham aos bandos se alimentar com diversas frutas. Lembro-me dos belos papagaios, periquitos, caturritas, tucanos, gralhas, papafigos, e muitas outras aves, cujos nomes nem sei, que diariamente avançavam em nossas frutas. Além disto abundavam os pássaros do campo e os canoros: pombas das mais diversas famílias, marrecos, anus brancos e pretos, rabosdepalha, queroqueros, cegonhas, maçanicos do banhado, Joões de barro, coruiras, sabiás, beijaflores de diversos tamanhos e cores, canários, bemtevis, perdizes, gaviões, carcarás, urubus, corujas, e inúmeras outras espécies. Alguns destes animais e pássaros eram objeto de implacável caça. Além da vida selvagem também nos rodeavam os animais domésticos, como gatos, cachorros, galinhas, patos, porcos, vacas e cavalos.
As frutas do nosso pomar ainda me dão água na boca. Para comê-las, as tirávamos diretamente das árvores. Eram: laranjas de diversas espécies, bergamotas, tangerinas, ameixas brancas e vermelhas, maçãs, nozes, figos, uvas, caquis, limas, limões, romãs, pitangas, cerejas, capixus, araçás, frutas do conde, bananas, ananás, abacaxis. Além disto, havia muita canadeaçúcar para chupar.
Todos estes anos de minha primeira infância foram uma vida em comunhão com a natureza. Neste sentido, uma vida maravilhosa. Era só brincar, brincar e brincar. Enquanto os pais faziam sua sesta, nas horas de calor após o almoço, juntamente com meus irmãos, ainda crianças, íamos para debaixo das árvores e construíamos casinhas, fabricávamos bois e pássaros com pedaços de madeira e galhos, organizávamos lojas de comerciantes. Fabricávamos o dinheiro com as pétalas das flores dos cachos de banana. Com a argila, retirada do banhado, moldávamos figuras humanas, passarinhos e diversos animais. Assim nosso imaginário infantil construía fazendas, lojas comerciais e escolas. E neste mundo imaginário cada um de nós assumia a sua profissão.
Mas, agora sei que este período infantil de minha peregrinação existencial estava envolto em inúmeras limitações e sofrimentos. A minha ingenuidade, então, não os percebia. Posso imaginar a preocupação de meus pais. Os filhos maiores indo para a escola, os menores exigindo atenção constante, ameaçados por muitas doenças. Na época as vacinas eram raras. Os anticorpos se adquiria resistindo às doenças que se contraía: sarampo, caxumba, varíola, amidalites, dores de ouvido, dores de dente, inflamações nos pés, tumores, diarreias, etc. Os remédios disponíveis eram os chás e as plantas medicinais. A pobreza, e o número de filhos, não permitia aos meus pais que comprassem calçado para todos os meus irmãos. Até aos 10 anos não conheci calçado. Com isto era frequente pisarmos em espinhos e pregos, além dos perigos de contaminação com vermes e outras epidemias. No frio do inverno eram inevitáveis as frieiras nos pés e nas mãos. Antes de dormir, muitas vezes, precisávamos mergulhar os pés em água bem quente para amenizar os comichões destas frieiras, e conseguirmos dormir. A calefação da casa era o fogão a lenha, ao redor do qual nos acomodávamos nas horas de maior frio.
Outro tópico muito interessante destes tempos de minha primeira infância é a questão da língua materna. Embora já de terceira geração, descendente de imigrantes alemães, no convívio em casa só se falava alemão. Minha mãe, nem português sabia falar. Culpa dela? Com certeza não, pois o Governo Brasileiro não cuidava de integrar os imigrantes na vida e língua nacionais. As próprias comunidades de imigrantes cuidavam de suas escolas. Por isto as comunidades de imigrantes italianos sustentavam escolas italianas; e os imigrantes alemães tinham as suas escolas alemãs. Mas, felizmente, quando chegou a minha vez de ir à escola, em período após a II Guerra Mundial, a política educacional do Brasil havia mudado. A minha escola era uma escola rural, mantida pelo Governo do Estado. Assim comecei a aprender português aos sete anos, com muito zelo das professoras, que incentivavam pais e alunos a se comunicarem em português. Diante deste fato, hoje, muitas vezes, admiro-me de mim mesmo, pois tendo aprendido o português somente depois dos sete anos, me considero muito melhor no conhecimento da língua do que muitos patrícios que nunca tiveram outra língua além do português. Sei que esta minha habilidade linguística não caíu do céu. Foi fruto de muito treinamento, do qual voltarei a falar mais adiante.
Escola primária
Após as narrações relativas ao período preescolar, O Peregrino resolveu interromper suas recordações e retirar-se de minha casa. Convidei-o para novos encontros nos próximos dias. Ele se manifestou muito satisfeito com minha paciência em escutá-lo. Finalmente havia encontrado alguém disposto a escutá-lo. Isto valia muito mais do que uma psicanálise em gabinete fechado de um psiquiatra carrancudo, ao qual muitos pagam caro para simplesmente ouvi-los. As preocupações do Peregrino também não eram objeto de tratamento psiquiátrico, pois apenas precisava de um amigo disposto a escutar os acontecimentos de sua rica peregrinação terrestre. A história de uma vida peregrina de mais de 70 anos não seria digna de ser registrada para as gerações futuras? Certamente. E O Peregrino se convenceu que eu estava dando o devido valor às experiências de uma tão longa e rica peregrinação. Pois também eu havia passado por esta peregrinação.
Passaram-se duas semanas desde que o Peregrino havia partido. Sabia, no entanto, que haveria de voltar. E no décimo quinto dia, eis ele novamente à minha porta. Gentilmente pedi que entrasse. Após o “quebra gelo” com os rituais de saudação, ele procurou retomar o fio da meada de nossa conversa anterior, e entrou nas memórias dos seus anos de escola primária. Não tivera período preescolar formal. A sua preescola havia sido o convívio com a família. Principiou a escola do zero, mas com muita curiosidade e expectativa. Com memória muito viva, o Peregrino começou a recordar estes anos de escola rural. Escutemos o próprio Peregrino.
C o n t i n u a...