LITERATURA COMPARADA: ASPECTOS SOCIAIS SEMELHANTES NAS OBRAS, VALSA DOS CLOWNS DE CHICO BUARQUE E BALADA DE UM PALHAÇO DE PLÍNIO MARCOS
RESUMO:
O Objetivo deste trabalho é trazer para a arena de estudos duas obras “distintas”, num primeiro olhar, mas que num segundo olhar, percebe-se o entrosamento discursivo que as permeia, fazendo assim despertar a necessidade de elaborar uma análise ancorada nos estudos de Candido (1993), Carvalhal (1986) e Moisés (1990), a respeito das teorias da literatura comparada no âmbito da literatura brasileira, e nas contribuições de Rodrigues (1992) acerca dos movimentos que regiam a década de 80 no Brasil. É notório que, este trabalho consiste num projeto de pesquisa que busca duas vertentes contidas num só objeto: a primeira esta sintetizada na canção Valsa dos clowns de Chico Buarque/Edu Lobos, composta em 1982, que significa a permanente tensão entre os valores pessoais do sujeito. A segunda vertente é sintetizada pela obra Balada de um palhaço de Plínio Marcos, escrita em 1986, definidora de um estilo singular, responsável pela dimensão social da obra, sobretudo, quando assinalam os sentimentos humanos de indignação do autor que em seus textos despontam personagens cujos comportamentos e cujo discurso projetam uma realidade social. Com efeito, as obras desenvolvidas, especialmente, durante a década de 80 evidenciam o caráter contestatório do estatus quo da realidade observada no cenário político-social brasileiro.
PALAVRAS - CHAVE: Plínio Marcos, Chico Buarque, social.
INTRODUÇÃO:
Este trabalho tem por finalidade expor uma relação entre as obras dos dois diferentes autores citados. Olhando-as superficialmente sem intenção de analisá-las cientificamente, não se percebe o entrosamento que as caracteriza, mas passando a olhar com mais rigidez podemos notar nelas uma linhagem altamente similar. Sendo assim, esse trabalho será conduzido por uma vertente comparatista que buscará mostrar a relação que permeia as obras.
A busca de uma transcendência, em um momento marcado historicamente pelo fim da censura de Estado, faz com que as obras passam por um mesmo fio discursivo, transparecendo assim a imagem contestatória de ambos os autores. A obra, Balada de um Palhaço foi pensada para este momento onde a discussão ética e artística esta indissoluvelmente ligada à percepção de uma realidade carente de valores definidos.
O texto nasceu em meio ao que se chamou a “fase mística”, onde Plínio Marcos se distanciou dos seus temas de violência marginal, em busca de uma reflexão existencialista.
No mesmo sentido, Valsa dos Clowns de Chico Buarque, possui as mesmas características despontadas por Plínio Marcos quatro anos mais tarde. Assim este trabalho se desenvolverá em torno de teorias do comparativismo para que se possa achar uma fundamentação para que os autores tenham trabalhado tão juntos no sentido das obras serem parecidas. Os resultados obtidos neste trabalho servirão para um novo conceito a ser despontado pela análise das duas obras.
JUSTIFICATIVA:
Todo momento histórico apresenta um conjunto de normas que orienta e caracterizam suas manifestações culturais, a produção cultural de um determinado momento histórico se orienta por normas que agem como principio regulador, estabelecendo regras para a criação, prescrevendo os traços que devem apresentar e circunscrevendo sua abrangência.
O gosto, porem, não e o mesmo e o único em uma mesma época. Basta observar a diversidade de normas estéticas a reger os gostos nas diferentes classes sociais. A busca de uma transcendência, em um momento marcado historicamente pelo fim da censura de Estado, faz com que as obras passam por um mesmo fio discursivo, transparecendo assim a imagem contestatória de ambos os autores. A obra, “Balada de um Palhaço” foi pensada para este momento onde a discussão ética e artística esta indissoluvelmente ligada à percepção de uma realidade carente de valores definidos. No mesmo sentido, Valsa dos Clowns de Chico Buarque, possui as mesmas características despontadas por Plínio Marcos quatro anos mais tarde.
Assim este trabalho se desenvolverá em torno de teorias comparatistas, aliados a essas dimensões teóricas o trabalho busca também, encontrar “problemas” de cunho social e político encontrados na época de suas composições, para assim juntos com pressupostos teóricos desenvolver a dissertação proposta.
“Nenhum poeta, nenhum artista, tem sua significação completa sozinho. Seu significado e a apreciação que dele fazemos constituem a apreciação de sua relação com os poetas e artistas mortos. Não se pode estimá-lo em si; é preciso situá-lo, para contraste e comparação”. (ELIOT, TS. 1989 p. 39).
Assim como T.S Eliot, outros teóricos possuem diferentes maneiras de expor a necessidade de um estudo comparatista entre diferentes obras, para Van Tieghem:
“Todo estudo de Literatura Comparada, como se disse, tem por finalidade descrever uma passagem, o fato de que alguma coisa literária e transposta alem de uma fronteira lingüística” (VAN TIEGHEM; 1931, p.68).
É sabido que a linguagem literária e uma das formas de apreensão do real, e que o homem vive em permanente e complexa interação com a realidade, transformando essa realidade em elementos de uma linguagem, capaz de subverter os valores implícitos de uma sociedade através de uma letra de musica, ou de uma peça de teatro.
A Literatura Comparada se diz a “qualquer estudo que incida sobre as relações entre duas ou mais literaturas nacionais” (MOISÉS, 1990; p,91), independentemente que estes estudos se dão de diversas formas de expressão artística:
Acentuam questões que tem sido discutidas desde o inicio do desenvolvimento dos estudos comparativos entre duas formas de expressões artística: a questão da relação entre a poesia e a musica no âmbito da musica vocal e a questão da possibilidade da narratividade na musica ou, inversamente, a presença de estruturas musicais no relato verbal (CARVALHAL, 2003; p, 38)
Segundo C.S Brown (1970.p, 102), “o estudo de literatura comparada alem de fronteiras lingüísticas e nacionais e qualquer estudo de literatura envolvendo, pelo menos, dois diferentes meios de expressão”. Já não e mais a diversidade lingüística que serve de base a comparação, mas a diversidade de “linguagens” ou de “formas de expressão”, próprias e divergentes. E certo ainda que o comparatismo recorre a exigência de que um desses meios expressivos da o lugar ao literário, mas não deixa de correr o risco de aos poucos perder a perspectiva que o predomina sobre as outras formas de expressão artística, estabelecendo assim o equilíbrio necessário.
Assim, este trabalho justifica-se porque se funda no estudo de problemas atuais, figurativizados em uma obra também atual e de temática universal, constituindo-se como uma aventura cognitiva que busca verificar como a realidade vivida foi (re) produzida para a composição ficcional (LEENHARDT e PESAVENTO, 1998), quais recursos do poder criador dos autores fizeram suas obras transformar-se em evocação de vidas humanas, com uma estrutura artística desenvolvida por meio de uma linguagem poética.
Sem a pretensão de preencher todos os vazios dos textos analisados, o trabalho remete, antes, ao aspecto provisório da leitura, configurando-se como um primeiro passo em direção ao denso mundo representado pelos autores durante suas trajetória de criação artística, em cujos produtos fundem-se o local e o universal.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
BROWN, C.S. “The Relations between Music and Literature as Field of study”. In: Comparative Literature, XXII, 1970, p.102.
CÂNDIDO, Antonio. Literatura e Sociedade. 10. Ed. revista pelo autor, Rio de Janeiro: Ouro sobre Azul, 2008.
ELIOT, T.S. Ensaios. Tradução, introdução e notas de Ivan Junqueira. São Paulo: Art Editora, 1989.
LEENHARDT, Jacques e PESAVENTO, Sandra Jatahy (orgs.). Discurso Histórico e Narrativa Literária. Campinas: Editora Unicamp, 1998. (Coleção Momento).
MARCOS, Plínio. Balada de um palhaço. São Paulo: [s. n], 1986.
VAN TIEGHEM, P. La Litterature Comparee. Paris, Col.A.Colin,1931, p.67.