PALAVRAS CIFRADAS
As palavras restringem os nossos sentimentos e, por isso, muitas vezes usamos o chavão: “Não tenho palavras”. O sentimento vai além do que poderia ser descrito.
O poeta Oliveira e Silva, pergunta: “Quem somos nós, senão a chuva e o vento, / Quando, por acaso, dialogamos, / sob um céu vago, às vezes pardacento, / Ao gemerem as árvores nos ramos?” Assim, ele indaga sobre o sentido da vida e nos mostra que ela é feita de palavras que podem ser inadequadas, opostas, reparadoras, carinhosas, famosas, educativas, deslocadas, coloridas, surpreendentes e cifradas.
Palavras cifradas, misteriosas, palavras que riem. Reflexão, rigor, concisão, ironia, coerência – o desejo comunicável, o invisível grito em que o escritor com suas próprias palavras cria a arte e o mistério, marcando a sua existência, como em Juan Gelman “dizes palavras com árvores / tem folhas que cantam...// teu silêncio / desperta / os gritos do mundo.”
Novas cores. Novas palavras acarretando modificações e revelando o desejo de cada escritor. Num mundo de mensagens escritas surgem palavras “novidades”, ou seja, há código próprio de escrita criando possibilidades de interação, permitindo que as pessoas “teclem” com amigos do mundo todo. Porém, é preciso ter cuidado com a utilização em demasia do computador, gera individualidade sem intimidade, restando apenas palavras cifradas. Pedro Du Bois mostra em seu livro, A palavra do Nome, “o nome adequado: a epopeia / lança o encontro / entre o corpo e a palavra”. Ele faz alusão ao sentido, na forma, na beleza e na profundidade, com a qualidade intrínseca da importância e significância do diálogo.
Sob várias formas a palavra reduz os sentidos do que é visto todos os dias. A palavra é o caminho para o conhecimento e chega a todos, transporta resultados que dão significado à vida. Ela abre um novo panorama e, em cada poema, nos faz sentir vivos e não cifrados.
Rubens Jardim completa, fazendo reflexão sobre a palavra: “... E eu fico aqui me perguntando / onde está a palavra antes da palavra? / Aquela que nos desenvolve sem cessar / a consciência da total ambivalência? / Aquela que rompe com os marcos / da duração e estabelece a hora imóvel / que os relógios não marcam?”.