MONOLOGANDO SOBRE O RACISMO INSTITUCIONAL

MONOLOGANDO SOBRE O RACISMO INSTITUCIONAL.

Autor: Antonio Luiz de França Filho

Ao chegar na maçonaria procuramos nos situar e entender seus objetivos, o seu funcionamento e ler diuturnamente o manual de aprendiz no qual um de seus preceitos se fixou em nosso pensamento. Era a recomendação para evitarmos tratar em loja assuntos de cunho político que gerassem discussões ideológicas adversas. Porém, o racismo faz parte do dia-a-dia cultural do povo brasileiro e precisa ser sistematicamente discutido, combatido e tratado abertamente; ele é passado, presente e futuro.

É passado, por estar bem vivo na lembrança do negro a historia e a vivência de sofrimento dos ancestrais na época da escravidão no país. Vergastados, vilipendiados, humilhados como ser humano; mais tarde, Gilberto Freire, equivocadamente, suavizou eufemisticamente a história na obra Casa Grande e Senzala.

È presente, pois basta dar uma rápida olhada ao derredor, em qualquer instancia da sociedade, para se verificar a situação subalterna do negro, seja no grupo social ao qual pertence, seja na igreja, na escola, nas colunas sociais, nas novelas de televisão, enfim, em toda a esfera social.

È futuro, porque vislumbra-se a persistência de tal situação a longo prazo, desde que não haja o despertar da consciência negra para o problema. Comecem a cobrar urgência das instituições governamentais para adoção de políticas publicas para erradicar a situação desfavorável.

Que passa necessariamente pela criação de escola com qualidade para os pobres da qual o contingente negro é hegemônico, resultando, por conseqüência, a melhoria sócio-econômica do grupo discriminado.

Desde os tempos de criança percebem a existência de algo diferente em relação a eles; o passar do tempo proporciona a percepção teleológica dos fatos. Aí descobrem as dificuldades impostas em todas as manifestações da qual participam.

Disfarçada -– ás vezes sutilmente explicito -– dão-se conta, então, do racismo, do quão é difícil se situar dentro da sociedade e exercitar com naturalidade suas qualidades e os seus defeitos enquanto cidadãos detentores de direito e obrigações; sempre em desvantagem, a participar da maratona de obstáculos na qual partem em desvantagem.

Portanto, estão a cavaleiro para justificar e tratar esse assunto por vivenciá-lo e senti-lo na pele – sem trocadilho – ao enfrentar o problema com serenidade, sem ressentimentos.

Ontologicamente considerada a questão, é preciso que se despojem da indiferença e passem a encarar o problema de frente, pois inconscientemente fingem ignorar a realidade desfavorável a eles imposta.

Paralelamente o branco finge não discriminar, não colocar obstáculos de toda ordem em seu desfavor e a toda e qualquer manifestação no qual esteja ele envolvido, com as honrosas exceções de praxe. Arrimado num pretenso e descabido etnocentrismo, herança sinistra dos remotos antepassados.

Daí a necessidade do assunto ser tratado abertamente em toda a sua essência, com toda a sua crueza para desmistificar a hipocrisia, desbancar o farisaísmo daqueles que sem uma base sólida de argumentação negam a sua existência.

Esquecidos que todo questionamento traz em seu bojo a premissa de veracidade, ou está a precisar de explicação consistente, com argumento convincente para ser aceito como doutrina pela maioria. A exemplo dos verbos na segunda pessoa do plural do caso reto – pouco utilizados – estão cansados de ser subestimados e ignorados.

Posto o assunto, continuemos a discuti-lo iterativamente pois na história dos conflitos inter-raciais não se têm conhecimento de batalha vencida pela omissão, e pelo silêncio dos oprimidos. Terminando, recordamos a segunda estrofe da MÚSICA EU SÓ PEÇO A DEUS da cantora argentina Mercedes Sosa, recém falecida, guerreira da luta em favor dos injustiçados da América e do mundo:

"Só peço a Deus que a injustiça não me seja indiferente/Não posso dar a outra face/Se já fui machucado brutalmente".

ANTONIO LUIZ DE FRANÇA FILHO

Loja Maçônica 12de março de 1537. Aposentado da Celpe.

Recife 12 de outubro de 2009 –e-mail:antoniofranca12@yahoo.com.br

Membro Honorário da Academia Maçônica de Letras de Olinda

ANTONIO FRANÇA
Enviado por ANTONIO FRANÇA em 03/06/2011
Reeditado em 21/01/2013
Código do texto: T3011585
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