QUEM FOI MANUEL ARÃO?

Manuel Arão Oliveira Campos nasceu na pequenina Vila de Misericórdia (Afogados da Ingazeira) em 11 de janeiro de 1874 (embora existam registros que dizem ser de 1873, 1875 e 1876), auge do período imperial em que havia grandes divergências religiosas entre os da Igreja e os anticlericais, grande parte ligados à Maçonaria. Filho do Capitão José Mateus Coimbra Campos e D. Francisca Joaquim de Oliveira Campos. Iniciou seus estudos em Afogados da Ingazeira com professores primários ali radicados. Sob as influências sentimentais do meio e da época, teria naturalmente de começar fazendo versos, compondo as suas personagens misteriosas e criaturas anêmicas, frutos da sua imaginação, moço estreante das letras matutas. Desde cedo revelou vocação literária e polemista, pois aos 14 anos publicou um jornalzinho "A Pátria" que circulou na vilazinha de Misericórdia (Afogados da Ingazeira). Saiu de Afogados da Ingazeira – onde já produzia poesias - e foi morar em Caruaru onde começa a pontificar como homem e produtor de letras na década de 90 do século XIX (anos 1890). Em Recife, aos 19 anos de idade - entre 1894/1896, fazendo assim uma migração muito comum entre sertanejos de sua pequena vila natal para uma cidade de maior porte que era um ponto de parada para os que se dirigiam do sertão para o litoral, lá estudou na tradicional Faculdade de Direito de Pernambuco, passando a colaborar em revistas literárias e jornais diários. Política e literariamente, foi um escritor e jornalista polêmico, tanto que fundou o A Vanguarda (revista literária) e o Jornal de Domingo, que era o suplemento literário do Diário de Pernambuco, formava juntamente com João Barreto de Meneses, Ernesto de Paula Santos, Arthur Bahia, Olímpio Galvão e Bráulio Cunha, uma brigada de vanguarda para combater idéias e conceitos que considerava errôneos, notadamente quando partiam da Revista Contemporânea, capitaneada por Theotônio Freire, Arthur Muniz, Demósthenes de Olinda, Franca Pereira, Alfredo de Castro e Paula Arruda. Desempenhou trabalhos de escritório, mas dedicando-se ao mesmo tempo à vida literária, ligando-se ainda às atividades dos grupos maçônicos podendo ser considerado como um militante da maçonaria.

Com sua esposa, dona Palmira de Oliveira Campos teve uma única filha chamada Zalina, que se casou com o primo Oscar de Campos Góes (engenheiro agrônomo do Ministério da Agricultura). Durante anos, foi funcionário da Great Western, Companhia Inglesa. Colaborou como articulista nos seguintes jornais: Gazeta da Tarde, Jornal do Recife, Lanterna Mágica, A Província e no Diário de Pernambuco, chegando a redator no mais antigo jornal da América do Sul. Na Maçonaria - Loja Cavaleiros da Cruz -, onde foi iniciado em 24 de junho de 1904, aos trinta anos de idade, galgou todos os graus filosóficos, chegando ao grau 33, fazendo parte de um grupo de maçons de escol (O que há de melhor, de mais distinto: o escol da sociedade).

No ano 1908 publicou o romance Transfiguração (romance que provocou a sua eleição como presidente da Academia Pernambucana de Letras).

Em 22/02/1909, quando mais se acentuavam os seus triunfos literários, era eleito presidente na Academia Pernambucana de Letras, tomando posse em 27/01/1910, na cadeira nº 2, cujo patrono era frei Jaboatão, coroando a sua brilhante carreira literária. Passou a colaborar em revistas e jornais diários. Sua atuação literária foi de uma diversidade impressionante, pois escreveu romances, crônicas, ensaios, crítica, poesia, dramaturgia, bem como matérias científicas e religiosas. Na sua vasta obra literária, destacam-se: Íntimas - 1896; Adúltera - 1897; Notas Pessimistas (em parceria com Ernesto de Paula Santos); Magdá - 1890; Drama e Ódio - 1890; Uma Resposta Devida - 1900; Transfiguração (Portugal) - 1908; Liturgia Maçônica - 1915; O Problema do Ensino - 1917; O Claustro (seu romance mais conhecido) - 1919; História da Maçonaria no Brasil - 1927; Os Quilombos dos Palmares (revista) - 1922; Clepsydra (não publicado). Entre os livros maçônicos destacam-se A Maçonaria e sua Missão Social de 1907, daí enveredou pela análise das relações religiosas, com dois livros publicados em 1915, A Separação entre a Igreja e o Estado e Fetichismo, Monoteísmo e Politeísmo.

Em 1917 ainda publicaria o livro Versão Estética, dedicado à crítica literária e de idéias. Maçon e Espírita, Manuel Arão foi duramente atacado pela Igreja Católica. No romance O Claustro utilizou seu vasto conhecimento literário e científico para estigmatizar a sociedade católica, enfatizando sua debilidade moral, posto que a personagem central do romance, Cláudia, era filha de um padre. No Instituto Arqueológico e Geográfico de Pernambuco consta que Manoel Arão era solteiro, mas no livro "Velhos e Grandes Sertanejos" está escrito que ele era casado com dona Palmira de Oliveira Campos. Manuel Arão faleceu em 14/01/1930.

Há mais de 70 (setenta) anos faleceu Manuel Arão, o maior escritor de Afogados da Ingazeira de todos os tempos, um dos mais importantes de Pernambuco do final do século XIX e início do século XX. É triste e lamentável saber que poucos afogadenses (quase nenhum) conhecem a rica história de Manuel Arão, e temos que aceitar uma “idiotice” do Prefeito Totonho Valadares quando tirou da rua que levava o nome do escritor para homenagear um Valadares (rua que onde fica localizada a Celpe – Afogados da Ingazeira), ou seja, nos fundos do Banco do Brasil). Então constatamos e testemunhamos a importância que a literatura afogadense tem para o Governo Municipal. É engraçado presenciarmos tantas homenagens no centenário da cidade e nenhuma citação ao Imortal Manuel Arão.

Antonio dos Anjos
Enviado por Antonio dos Anjos em 21/05/2011
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