Ter o lado divino e profano: O que é ser Poeta?

Por Allan Garrido

Levanto cedo um turbilhão de pensamentos parecem arrebentar minha cabeça, corro e logo escrevo, solto os verbos e eles ali descansam satisfeitos no papel. O autor da façanha sorri de alívio por não ter perdido as idéias que surgiram tão fartas em sua mente. Pronto, salvo os pensamentos, projetos, letras, trovas, poesias, acrósticos e por ai vai.Será que ser poeta é só isso? Um desabar desenfreado de palavras?
Escrever é um ato divino pois decorre de inspirações, do estar inspirado, da observação, não é preciso ter papel, lápis ou caneta, computador, máquina de escrever ou qualquer coisa que nos faça transcrever sentimentos. A poesia nasce em cada pontinho para onde os olhos poéticos se viram e olham. De coisas que menos se espera é ali que nasce o belo escrever, assim como uma flor ao nascer em solo árido no deserto.
Escrever é também profano pois é preciso percorrer as sendas das tristezas, orgulhos e vaidades. As sendas do amor, ser romântico, ser apaixonado e ao mesmo tempo, crítico de si mesmo ou das coisas que se passam no mundo lá fora. Ser profano pois sai daquele encanto, sai do sagrado e de tudo aquilo que toca, precisa mesmo descer aos recôndidos da face humana, vasculhar os sentimentos, as dores, os amores e angústias para que no final as palavras brotem aos montes no papel.

Alguns exemplos de poesia que saem da alma do poeta:

Se eu morresse amanhã
 
 Álvares de Azevedo

Se eu morresse amanhã, viria ao menos
Fechar meus olhos minha triste irmã;
Minha mãe de saudades morreria
Se eu morresse amanhã!

Quanta glória pressinto em meu futuro!
Que aurora de porvir e que manhã!
Eu perdera chorando essas coroas
Se eu morresse amanhã!

Que sol! que céu azul! que doce n'alva
Acorda a natureza mais louçã!
Não me batera tanto amor no peito
Se eu morresse amanhã!

Mas essa dor da vida que devora
A ânsia de glória, o dolorido afã...
A dor no peito emudecera ao menos
Se eu morresse amanhã!

 
O que posso dizer..
 
Allan Garrido
 
Bem o que posso dizer
Sei que no meu andar
Teus passos não caminham 
Mais........
Bem sinto te informar
Por mais que tentei segurar
Ele escapou do meu peito
Feito passarinho levantou as asas
E vôou
Aproveitou o sopro do destino
Correu e foi embora feito menino
Mas no desencanto e até no pranto
Existe glória pra quem chora
E orgulho pra quem sorri
Dos momentos intensos
Em que vivi
Tatuado na minha pele ficou
As lembranças fortes dum amor
Serenado
Feito céu estrelado
Fechou o tempo, fechou
 
Portanto ser poeta é ter os dois lados se degladiando afim de se chegar ao equilíbrio perfeito. Equilíbrio este que procuramos por toda nossa vida. Talvez esse seja o tempero, aquele toque a mais que nos dá sentido de alcançar o impossível e tentar atingir o que não se atinge. Dentro o nosso mundo se conflita guerra de idéias e palavras. Concluímos portanto que ser poeta não é só escrever meia dúzias de palavras, ser poeta é um estado de espírito e isso poucas e raras pessoas possuem...