SOFISTA, SOCRÁTICO, PLATÔNICO, ARISTOTÉLICO, EPICURISTA, CÉTICO e ECLÉTICO
15.10.2008.
 
 
 
   Sofista quando saí procurando respostas;
   Protágoras quando vejo tudo em movimento e em transformação;
   Protágoras quando falo que não existe a verdade plena e absoluta;
   Protágoras quando digo que tal como cada coisa aparece para mim, tal ela é para mim; tal como aparece para ti, tal ela é para ti;
   Protágoras quando digo que para quem está frio, é frio; para quem não está frio, não é;
   Protágoras quando digo que quanto aos deuses não ouso dizer nem que existam nem que não existam; nem que se pareçam conosco, porque muitas são as coisas que impedem chegar a um conhecimento certo, entre os quais estão a obscuridade do problema e a brevidade da vida humana.
   Górgias quando radicalizo;
   Górgias quando digo que nada existe, se existisse alguma coisa, não poderíamos conhecê-la, se pudéssemos conhecê-la, não poderíamos comunicar nosso conhecimento aos outros;
   Górgias quando digo que uma mesma ação pode ser boa ou não conforme as circunstâncias que afetam o sujeito do ato.
   Hípias quando consigo distinguir a lei natural da lei dos homens.
  
   Socrático quando sorvi a cicuta;
   Sócrates quando tento descobrir a essência do homem;
   Sócrates quando determino que virtude seja sabedoria; quando determino que vício é a ausência da mesma;
   Sócrates quando estabeleço que mais valem os bens da suposta alma que os bens materiais como fama, poder, riqueza e adornos;
   Sócrates quando digo que o homem é bom, quando sabe; mau quando não sabe;
   Sócrates quando percebo que liberdade é o autodomínio;
   Sócrates quando consigo desencravar-me de mim mesmo;
   Sócrates quando vejo que as paixões podem ser bem administradas.
 
   Platônico quando criei minha própria república;
   Platão quando vejo que idéias é um mundo encantado jamais cantado;
   Platão quando separo corpo de alma e percebo uma guerra entre eles.
 
  Aristotélico quando torno-me ainda mais complicado e igualmente prático;
   Aristóteles quando vejo que o fim do homem é a felicidade;
   Aristóteles quando vejo que para a felicidade é necessária a virtude;
   Aristóteles quando vejo que para a virtude é necessária a razão;
   Aristóteles quando não vejo necessidade de se suprimir as paixões;
   Aristóteles quando compreendo que viver apenas pelo prazer sensitivo é uma vida de escravidão e pura animalidade;
   Aristóteles quando compreendo que viver com a única finalidade de riquezas e bens materiais é a confusão dos meios com fins e o descambo para equívocos existenciais insanáveis.
 
   Epicurista quando me percebi livre;
   Epicuro quando concordo com Demócrito na concepção de que tudo é átomo, matéria;
   Epicuro quando digo que o prazer é o princípio e o fim da vida;
   Epicuro quando nem por isso eu venha a aprovar qualquer tipo de prazer;
   Epicuro ao dizer que quando dizemos que o prazer é o bem máximo, não queremos referir-nos aos prazeres do homem corrompido que só pensa em comer, em beber e nas mulheres;
   Epicuro quando ando por aí à procura da ataraxia, ou seja, a ausência plena de qualquer perturbação e então feliz;
 Epicuro quando digo que a quem não basta pouco, nada basta;
 Epicuro quando digo que quem menos sente a necessidade do amanhã, mais alegremente prepara-se para o amanhã.
 
   Estóico quando saía por aí xiita em minhas pregações;
   Estóico quando matei minha natureza humana;
   Zenon quando acreditava que a evidência da realidade se impunha, de modo absoluto, sem depender da liberdade de consentir;
   Crisipo quando enumero, classifico coisas que me seriam “indiferentes” em minha moral e mesmo assim...
   Panésio, bem mais Panésio quando alivio tais radicalidades e assento que é possível desfrutar moderadamente de coisas denominadas indiferentes;
   Panésio quando repudio a “apatia” que destituía da alma ‘estóica’ o clima das emoções passionais até dos sentimentos cândidos;
   Possidônio quando quero dizer no final: não esqueça, ó dor! Estou doente, sim, mas nunca admitirei que sejas um mal.
 
   Cético quando livro-me de quinquilharias e badulaques desse sincretista lugar;
   Pirro quando digo que dada a dificuldade de entendimento confiável sobre a realidade do ser das coisas, o sábio fica impedido de declinar seu assentimento. Cumpre então “suspender o juízo”, já que não se pode afirmar a verdade ou a falsidade sobre qualquer coisa ou fato;
   Arcesilau quando digo que já que não existe evidência plena e cogente da verdade, só resta praticar a “époche” (suspensão do juízo) ou a abstenção de julgamento (“adoxia”);
   Carnéades quando concordo que a mente humana não capta nem expressa a verdade;
 
   Carnéades quando vejo me sobrar então um único caminho a ser trilhado pelo intelecto, a saber, a probabilidade, ou melhor, aquilo que parece ser verdadeiro.
  
   Eclético quando procurei um pouquinho em muita coisa;
   Eclético quando reparei a brevidade da vida e neguei-me a ser UMA SÓ COISA a vida toda;
   Filon, quando ainda cético, porém mais calmo, digo que não posso afirmar que a verdade não existe; sim dizer que não a conheço;
   Cícero quando digo que se não chegarmos à percepção segura da verdade objetiva, pelo menos, já nos aproximamos dela mediante o critério da probabilidade.

 
(CONTENDO ALGUMAS CONSIDERAÇÕES DO SACERDOTE CATÓLICO DO CLERO SECULAR, LUIZ FERACINE).
Marcelo Braga
Enviado por Marcelo Braga em 14/05/2011
Reeditado em 29/07/2012
Código do texto: T2969262
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