LITERATURA E PSICOPEDAGOGIA: A IMPORTÂNCIA DA LITERATURA NA SALA DE AULA E NAS INTERVENÇÕES PEDAGÓGICAS

Arte de Ler

“O leitor que mais admiro é aquele que não chegou até a presente linha. Neste momento já interrompeu a leitura e está continuando a viagem por conta própria.”

Mário Quintana

Por meio da literatura, o aluno satisfaz suas necessidades, sendo-lhe permitido assumir uma atitude crítica em relação ao mundo, advinda das diferentes mensagens e indagações que a literatura oferece. Como escrevia Jacinto do Prado Coelho, “não há disciplina mais formativa que a do ensino da literatura. Saber idiomático, experiência prática e vital, sensibilidade, gosto, capacidade de ver, fantasia, espírito crítico - a tudo isso faz apelo à obra literária, tudo isto o seu estudo mobiliza.”

A criança que lê desenvolve o senso crítico e melhora a escrita. Para tanto, devemos incutir em nossos alunos que a literatura é algo bom, natural, fácil e prazeroso e não exige esforços nem dificuldades. Sendo assim, faz- se imprescindível que o convívio com os livros extrapolem o desenvolvimento sistemático da sua escolarização e, que a literatura passe a ser difundida com mais intensidade nas escolas.

Sabemos que muito pouco da literatura, seja ela brasileira ou estrangeira não está tão presente nas salas de aula quanto deveriam. Isso porque para muitos professores a literatura é um conteúdo sem significado, pois não tem um objetivo técnico, preciso de obter algum conhecimento. Ou seja, a literatura só tem valor acompanhado de algum ensinamento objetivo, exato e que possua estritamente cunho pedagógico. Conforme Amaral (1999), nenhum professor de literatura deverá inibir-se de pôr em prática leituras, comentários ou interpretações que estimulem nos estudantes à sensibilidade, o senso crítico, a capacidade argumentativa, e sejam assim susceptíveis de lançar alguma luz sobre essa realidade indefinível a que chamamos universo literário.

Daí, a problemática de que temos nos ocupado para consolidar a presença da Literatura no elenco do ensino discente, visto que a literatura se apresenta como veículo criador e socializador da linguagem e dos valores que acreditamos nos identificam. Em decorrência, a presença da literatura na escola propicia a exploração de inúmeras possibilidades de educação no desenvolvimento social, emocional e cognitivo do aluno. Ao longo dos anos, a educação preocupa-se em contribuir para a formação de um indivíduo crítico,

responsável e atuante na sociedade. Isso porque se vive em uma sociedade onde as trocas sociais acontecem rapidamente, seja através da leitura, da escrita, da linguagem oral ou visual. Diante disso, a escola busca conhecer e desenvolver no aluno as competências da leitura e da escrita apenas através de atividades de leitura que eles não gostam de ler e fazem-no por obrigação. No entanto, a literatura não está sendo explorada como deve nas escolas e isto ocorre em grande parte, pela pouca informação dos professores. A formação acadêmica, infelizmente não dá ênfase à leitura e esta é uma situação contraditória, pois segundo comentário de Machado (2001, p.45) “não se contrata um instrutor de natação que não sabe nadar, no entanto, as salas de aula brasileira estão repletas de pessoas que apesar de não ler, tentam ensinar”. A literatura tornar-se uma grande aliada do professor e pode influenciar de maneira positiva neste processo. Assim, Bakhtin (1992) expressa sobre a literatura abordando que por ser um instrumento motivador e desafiador, ele é capaz de transformar o indivíduo em um sujeito ativo, responsável pela sua aprendizagem, que sabe compreender o contexto em que vive e modificá-lo de acordo com a sua necessidade.

De fato, à interpelação contida no objecto de conhecimento – os textos literários – corresponde o envolvimento (e a implicação) do leitor no processo de leitura. Este por sua vez, desencadeia hábitos de reflexão, de interrogação e de crítica que afectam o processo de transmissão, impedindo a sua cristalização em fórmulas ou técnicas estereotipadas. E deste modo se propaga “fecunda desordem” que a Literatura opõe ao pensamento dominante. (ROCHETA & NEVES, p.16,17)

Com o gênero literário Contos de Fadas, podemos responder a várias perguntas, analisando principalmente a situação da personagem “bruxa” dos contos fantásticos. As mulheres sempre tiveram uma relação muito próxima com a natureza. Algumas delas usavam ervas e raízes para a cura de doenças, e isso fez com que fossem consideradas curandeiras, porque o povo buscava com elas ajuda para seus males. Essas mulheres eram mais velhas e passaram a ser conselheiras da comunidade, ameaçando o poder patriarcal, especialmente a partir do momento em que a Igreja Católica começa a governar junto com o Estado. Ao ser criada a Inquisição, mulheres foram torturadas e mortas em fogueiras, pois eram tidas como pagãs e cúmplices do diabo. Na verdade, simplesmente usavam forças da natureza evocadas por meio de orações, com que acreditavam ajudar o povo.

Equivocadamente vistas como seres do mal, essas mulheres tiveram suas mortes justificadas. Por esse motivo, a imagem que delas foi perpetuada é a de velhas e feias, portanto motivo de medo para as crianças. Essas ideias, até hoje, são reproduzidas em livros infantis. Isso também contribui para o preconceito contra a mulher, embora houvesse homens bruxos. E assim as bruxas se tornaram grandes personagens dos contos de fadas, eternizando-se através do folclore literário.

Para Bettelheim (1980), a simbologia que existe nos contos de fadas auxilia as crianças a encontrar significado para a vida. Elas se identificam com as personagens no enfrentamento de perigos, representados por situações novas e surpreendentes. O medo infantil se associa ao medo de ficar independente e crescer. Está relacionado, na verdade, à perda da proteção da mãe, pois o crescimento é um conflito entre o desejo da separação e, ao mesmo tempo, o medo dessa separação.

Na série Harry Potter, de J.K. Rowling, o estereótipo da bruxa má e feia, que conhecemos em nossa infância, é substituído por uma imagem glamorosa de ambos os gêneros de feiticeiros. Nos livros, as personagens infantis aprendem a afastar seus medos, enfrentando situações ridículas ou perigosas. As adaptações cinematográficas tiveram uma grande repercussão no universo infantil. Harry Potter é uma criança com poderes especiais desejados por aqueles que se identificam com o filme e que, por isso, acabam dominando seus medos, transformando-os em poder interior. Via ficção, a criança, portanto, aprende a enfrentar sua realidade e viver além de sua vida imediata, experimentando outras experiências. Por isso, seduz e encanta, mesmo sem tarefa, sem nota, sem prova, a literatura educa e, portanto é importante pedagogicamente.

Do imenso leque de obras literárias para o trabalho em sala de aula, uma delas se destaca servindo de sustentáculo de nossa educação formal, é o Livro Meu Pé de Laranja Lima, que será um grande instrumento para transformação e remodelação no processo de intervenção pedagógica para o aluno com dificuldades. Meu Pé de Laranja Lima de José Mauro Vasconcelos serve de modelo para a compreensão de que a literatura dentro da intervenção pedagógica pode caminhar juntas, tornando um estímulo para nossos alunos do ensino fundamental, que chegam a esta fase escolar sem um parâmetro de leitura, que segue sentido contrário a um dos pilares da educação mineira, que se trata de “Toda criança lendo e escrevendo até os oito anos”.

Um aluno em idade de 11 anos, que não percebe a leitura, não adquiriu o conhecimento por meio dos sentidos da leitura, é necessário um ajustamento, uma intervenção pedagógica, pois houve problemas nos anos iniciais de sua formação, de acordo com Bernardo Toro, vice-presidente de relações públicas da Fundação Social, entidade civil cuja missão é combater a pobreza na Colômbia, se a criança não aprende, não culpe a criança, culpe o método que o professor usou para ensinar. Nesse sentido, entra o trabalho do psicopedagogo, do supervisor e do professor da instituição, juntamente com os pais.

Na realidade da sala de aula, para estudo e análise, Meu Pé de Laranja Lima é um livro extremamente marcante, comovente e triste. Marcante pela ironia da sua história, comovente pela simplicidade transmitida e com que é escrito e triste pela dor e pelas perdas retratadas. Um livro simples que transmite uma mensagem e sentimentos sutis e profundos. Com uma mescla de turbulentas emoções e pequenas conquistas e vitórias, vividas pelas personagens, que vêm ao rubro de forma simples e eloquente em cada palavra. Neste livro o mais importante não é os grandes feitos ou qualquer outro ato considerado por nós, na nossa cegueira e egocentrismo, digno e merecedor de importância, mas sim, as pequenas coisas, que no fundo acabam por ser as mais bonitas e importantes; as pequenas vitórias; a dor e a conquista, do mundo real e da vida real, que acabam por ter uma fantasia mais doce e bonita e um misticismo mais profundo, do que as grandes lendas ou histórias, apenas pelo que são.

Meu pé de Laranja Lima, como tanto outros clássicos da nossa literatura infantil, contribui para o encontro da criança com a literatura, para o desenvolvimento de sua competência leitora condição necessária, uma vez que esta deverá ser resgatada sem ter pretensão de fazer análise literária, mas sim que realçar alguns elementos importantes para compreensão do aluno, como: enredo tempo, espaço, personagens, que comentem sobre as peculiaridades das obras, contextualizando-as em relação ao estilo de época, ao estilo individual, e também a certos aspectos que são específicos da linguagem literária, como o uso de imagens, as marcas da oralidade, o ritmo da narrativa etc.

Há obras que de alguma forma são capazes de transformar o leitor, e a consagrada obra de literatura fantástica, O Pequeno Príncipe é uma delas, quase uma ficção-científica, que transmite ensinamentos, amizade e companheirismo. Uma das mais belas obras, escrita por Antoine Jean Baptiste Roger de Saint-Exupery, capitão e piloto de aviões. Fazia reconhecimentos aéreos e morreu em sua última missão, em 1944, aos quarenta e quatro anos de idade. Foi um escritor de grande sensibilidade, com grande preocupação com o sentido do humano e da existência. Em uma narrativa poética vai elaborando sua visão de mundo e mergulha no próprio inconsciente. De repente retornamos aos nossos sonhos infantis e reaparece a lembrança de questionamentos acomodados. É uma obra que nos apresenta uma profunda mudança de valores. Pelas mãos deste autor, o leitor apossa-se de muita sabedoria e do discernimento do que é essencial, em sua narrativa metafórica.

Trabalhar a construção e o reconhecimento da identidade através de projeção e identificação, aspectos e processos psicológicos presentes na experiência de contato da criança com a obra literária, considerando o imaginário enquanto campo vivencial, dotado de significados e conceitos, tal qual a experiência concreta.

Ampliar no aluno sua capacidade da oralidade, viver experiências alheias narradas e vivenciadas no imaginário pessoal.

Como a literatura infantil prescinde do imaginário das crianças, sua importância se dá a partir do momento em que elas tomam contato oralmente com as histórias, e não somente quando se tornam leitores.

Desde muito cedo, então, a literatura torna-se uma ponte entre histórias e imaginação, já que “é ouvindo histórias que se pode sentir... e enxergar com os olhos do imaginário... abrir as portas à compreensão do mundo”. (ABRAMOVICH,1995, p.17).

Desenvolver o interesse e o hábito pela leitura é um processo constante, que começa muito cedo, em casa, aperfeiçoa-se na escola e continua pela vida inteira.

Luciana Daniele Costa
Enviado por Luciana Daniele Costa em 13/05/2011
Código do texto: T2967800
Copyright © 2011. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.