COM PENA DE AGATÃO
25.10.2005.
 
 
Magistral e poeticamente expõe-se o amor no Banquete de Platão.
Sócrates diz a Agatão que o amor não é feio nem belo; Agatão o concebia belo!
- “Agatão, poesia é manca ante a sabedoria..."
O que fazer de minha poesia? Isso não vem ao caso agora.
Sócrates lhe diz que só existe amor enquanto se existe carência do mesmo, quando o amor saciado, conquistado, a única coisa que resta é a sua manutenção. Conquistei, preciso APENAS mantê-lo!
Agatão também disse ser SUBLIME o amor.
Não quero nem força nem fraqueza, acho que nem mais poesia e filosofia; quero amor!
Quão cruel seria comigo mesmo desaceitando o inevitável ocorrido.
Sócrates diz que quando se é belo, não há por que se buscar o belo, que quando se é rico, apenas assegurar-se de que se é rico e manter-se rico: manutenção!
Quando eu, não grego, nem extravagantemente amante do externo, do trácio jeito de louvarem-se os belos corpos, a ginástica, o que fazer além da manutenção também? Manter-me adepto do acaso e do inevitável!
Alguém amou-me assim do jeito que sou, manter-me-ei assim como sou e sendo o que sou, despertei, tal ou suposto ou real amor que seja, amor em alguém sóbrio ou louco que seja e também a amei do jeito que ela é, cabe-me, portanto a manutenção; acabou a carência, portanto acabou o amor.
Mais cruel seria eu ainda comigo caso refutasse esse raro encontro da Providência quando antes se carecia tanto de amor; recusasse as provas naturais, inegáveis e incontraditas formas de demonstrações diárias de afeição de quem insiste numa mesma tecla num repetir preciso, conveniente, adaptável e incontestável fato; inerente à sua forma, jeito e intensidade. Resta-me portanto EVOLUIR e aceitar o que me cabe e ainda mais: tudo que, pela Providência que seja, fora-me adequadamente posto em mãos, nada apenas pressuposto, mas destinado a gozar e viver.
Mataria minha alma numa vida de amor condicionado, utópico; irrefletido e contradito seria às minhas aspirações reais e meus divagares, fossem eles lascivos ou românticos, nocivos à minha maneira única de conceber e minha mania única de ganhar sempre, livre e pacificamente.
Enfim, sou grato à sua existência, não sei se compreendi bem a dialética de Sócrates descrita por Platão à Agatão, sei que sou feliz nessa MANUTENÇÃO e por tudo aquilo que me passas Isabel.
Marcelo Braga
Enviado por Marcelo Braga em 13/05/2011
Código do texto: T2967028
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