PECADO DA CARNE

É impressionante como todo grande prazer da carne é pernicioso ao espírito. Essa relação a dois é muito conturbada, visto que, quando uma parte grita em júbilo, a outra amarga a decepção.

Nossa índole de modo geral é lasciva ainda mais nesse plano de libido tão disseminada, isso é um fato, senão pense o quanto gastamos em tempo discorrendo sobre coisas relacionadas ao sexo, principalmente o homem que além de sentir-se dominante, subjuga a companheira e trai com naturalidade quase compulsiva, mesmo que para isso não precise relacionar-se de fato com outras mulheres. Seus momentos de solidão e ócio, normalmente invigilantes, provocam incúria dando vazão a seus desejos mais intensos. Como não há uma preocupação imediata com o ser espiritual, não busca a meditação. Sem profundidade de pensamento recebe indolente toda sorte de influência externa que o arrasta para o submundo das paixões rasteiras. Não há uma preocupação em ver a companheira como um ser igual, um espírito que poderia até ter sido sua genitora ou mesmo um homem em edições anteriores da vida. O imediatismo do olhar material vislumbra a beleza aparente, as curvas delineadas, o cheiro capcioso da promiscuidade. Onde há uma mulher apenas lhe notamos os dotes físicos fazendo com que a mente divague e a imagine incontinente despida das vestes e dos pudores pronta para o desfrute.

Esse não é o martelo da justiça, não há crítica a esse modo de agir que não me atinja também, apenas imagino de que forma isso poderia ser abrandado ainda neste plano, sim por que se eu disser que apesar dos meus esforços em não consegui me livrar da devassidão de meus pensamentos, estarei incorrendo em uma afirmativa vã, pois é sabido que companheiros de jornada que por aqui passaram, e outros mais que ainda permanecem aqui conseguiram. Por mais que eu me inspire em exemplos como de Jesus, Sidarta Gautama, Chico Xavier ou mesmo outros que se tornaram castos por escolha depois de terem experimentado a sexualidade, reproduzido inclusive, como Mahatma Ghandi, por exemplo, e ainda os que permanecem celibatários de fato dentro deste louco mundo de desejos e luxuria, mesmo assim não encontrei a força para essa renúncia.

Minha teoria sobre o assunto diz que essas pessoas que já passaram por essa fase, não simplesmente optaram hoje por fazê-lo, mas sim são produtos de longas batalhas as quais venceram depois de tanto cederem. Penso que o modo correto de chegarmos a este grau de evolução, que ainda não é o mais alto, passa pelo processo de introspecção continuado em primeira estância. Processo esse que fará com que a subconsciência seja consultada e automaticamente nos seja passado ou repassado pontos cujos mesmos nós anotamos para que não fossem perdidos, mas que só conseguiremos acessá-los sem a inebriante presença grotesca da matéria. Se conseguirmos essa total acessibilidade daremos um passo decisivo para a conquista do eu profundo. Certamente que de posse do nosso “dossiê” elegeremos as prioridade que até então estavam apenas latentes, fazendo com que sua exteriorização ocupe um espaço maior em nossa mente externa de modos a relegar ao um segundo plano, mesmo que não elimine totalmente, a libido tão perniciosa a evolução.

Existe sem dúvida uma preocupação em mantermos nossos sentidos aguçados ao que nos apraz e isso significa fortuna, posição e poder tanto nos meios estudantis, comerciais, políticos e eclesiásticos, girando em torno do que “realmente” nos interessa. Não nos passa pelo sentido que essa é a grande quimera da vida, tememos a morte não porque nos extrai a vida e sim pelo receio de que ela não acabe de fato e que tenhamos que nos adequar a outra realidade que até então imaginávamos virtual. Programamo-nos para viver dentro de um mundo fechado e pequeno, mas que pode nos aprovisionar nas necessidades básicas e nas fantasias, é inconcebível imaginar um mundo maior, com valores opostos e hierarquia meritória, afinal aqui o que eu quero eu posso comprar.

A introspecção natural é benéfica, com ela conseguiremos checar informações e reutilizá-las na luta contra as paixões da carne, agora, sem há voluntariedade desta ação, pode advir uma série de eventos não conjeturados, já que sua aderência terá sido forçosa, provavelmente resultante de negócios mal feitos, relacionamentos desfeitos, perdas, danos, passionalidades ou quaisquer outros que frustrem, magoem ou humilhem, incorrendo em depressão por conta de superficialidade da consciência. Faz-se imperioso buscar essa incursão edificante ainda no limiar dos sentidos, evitando com isso, o desespero da busca quando perdermos o domínio do mundo externo. A demência não é uma conselheira confiável.

Anderson Du Valle
Enviado por Anderson Du Valle em 01/05/2011
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