DA TRADUÇÃO DE POEMAS

Há peças poéticas, principalmente nas versões de obras de autores nórdicos, gregos, europeus e americanos, nos seus idiomas pátrios, que são designados como poemas porque o autor assim os definiu como tal, nada mais, pois que pouco ou nada contém de Poesia, tal como a concebemos culturalmente no idioma português ou no espanhol, em terras latino-americanas. Temos em toda a América Latina uma Poesia mais cadenciada, mais brejeira, com um andamento rítmico diferenciado, tal como ocorre no nosso samba, na música popular brasileira, e também em vários nichos culturais da América de raiz espanhola e seus legados. Examinadas as peças com algum rigor metodológico, percebe-se que não são exemplares de poemas e, sim, de modelares prosas poéticas. O mesmo ocorreu, em nosso meio, com algumas obras de Mario Quintana. Ressalte-se que MQ traduziu inúmeros poemas de autores estrangeiros. Enfim, em nosso meio, o velho bruxo gaúcho deu notável dignidade poética à Prosa. E, com este proceder, apesar de alargar o conceito de Poesia, deu gloriosas dores de cabeça aos estudiosos ortodoxos da temática poética... Alguns destes textos poéticos – no idioma genuíno – podem conter figuras de linguagem que identificam a Poesia como gênero, mas, na tradução para o novo idioma, nem sempre guardam esses signos identificadores da Poesia. Há tradutores, especialmente os que são mais versados na Prosa, que, ao traduzir os versos acabam fazendo com que as eventuais metáforas do poema original percam o seu fetiche: a estranheza e o encantamento inerente às figuras de linguagem. Em verdade, parece razoável se ter em conta que um poema traduzido é uma nova peça de arte, tão autêntica quanto a original, porém não é a mesma. Estes poemas são os frutos diferenciados de uma única semente da árvore dos humores humanos: a Palavra...

– Do livro NO VENTRE DA PALAVRA, 2011.

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