“Qual o real da POESIA?”
Há uma pergunta fundamental para compreender as poesias do escritor mineiro Francisco Alvim, chamado por Cacaso “o poeta da fala coletiva”, que criou um estilo pessoal, a partir da fala coletiva brasileira.
“Sol / Esta água é um deserto / O mundo, uma fantasia /
O mar, de olhos abertos / engolindo-se azul //
Qual o real da poesia?”
O poeta cria poesia onde o real fica cada vez mais incerto, definindo melhor sua sensibilidade poética, mostrando assim seu caminho literário.
Na visão de Miguel Sanches Neto, “Francisco Alvim é órfão do real”, sendo considerado o poeta da distância no tempo e no espaço.
“... corredores do tempo / paredes além da história /
súbito o mundo / perde o enredo.”
Alvim é levado pelo sentimento drummondiano de amar o perdido, isto é, a vida acontece à revelia do poeta.
“Dois cegos viajam no ônibus / A gente das ruas move-se
contra um imutável muro cinza / Súbito / o eclipse iguala
todas as faces / Órbitas vazadas / Cegos.”
Ele é mestre da poesia moderna, com crítica e cunho social. Também, nele encontramos uma visão irônica e impessoal, em muitos textos, funcionando como condição estrangeira no território político.
“Se o seu país é assim- / tão bom- / por que não volta?”
Além de ser literatura de figuração, ele também tematiza a solidão em sua lírica, nos dando a sensação de que o teor dos poemas apresentados acontece o tempo todo ao nosso redor.
“O dia profundo / me mostra seu fundo: / olhar o amor / ferindo a paisagem /
branca da montanha. / Voam as horas / na pele da alma / posta ao relento /
do cego sentimento. // Sonho o esquecimento?”
Francisco Alvim apresenta uma obra envolvente, sendo gratificante desvendar as verdades ocultas e, ao mesmo tempo, descobrir na sua poesia o mundo que realmente nos cerca, deixando no ar, implicitamente, a mesma pergunta para cada leitor: “Qual o real da Poesia?”