INVERDADES
“... eu me alumbro com a mentira, ela se deslumbra com a verdade”
(Carpinejar)
É o processo de socialização que define o que é aceitável ou não. Omissões voluntárias, inverdades e mentiras fazem parte da vida social.
Toda verdade é relativa e devemos considerar “as mentiras” associadas ao desempenho de alguns papéis profissionais. Neles, podemos incluir os poetas que usam a “flexibilidade moral” para revelar os mistérios da literatura; dar vida a expressões mortas, criar palavras com sentimentos. Como afirmou Mário Quintana, “A poesia é talvez a invenção da verdade”; e na tradução de Antônio Olinto, encontrada em seu livro A invenção da Verdade, “... a poesia acaba sendo a invenção da verdade ou a invenção de pequenas grandes verdades que, por momentos, elevem o homem acima da sua contingência.”
Maria de Lourdes Mallmann ao poetizar “Inverdades”, apresenta: “Na vida somos atores / representando papéis / que nos impedem de Ser.
Vivemos uma inverdade / na prática de ações / que não queremos fazer.// ... Os sonhos são ilusões / enganando a todo instante / fraudando as esperanças. O artista mente, inventa / cria o que não existe / sobrevive da lembrança.”
e comenta: “as mentiras do homem podem ser as verdades do poeta. Ou será que a poesia é uma mentira que o homem quer revelar como verdade? Na poesia é necessário perceber a grandiosidade do que expressam e refletir nos mistérios da vida e da existência.”
O que importa é a reflexão sobre as escolhas e descobertas, para viver a verdade em busca por sentido maior: uma nova perspectiva de olhar para a literatura, a poesia e a vida.
Umberto Eco, juntamente com Marisa Bonazzi, em “Mentiras que Parecem Verdades”, analisa a pluralidade dos significados num mesmo significante, sempre voltado ao pensamento filosófico, não perdendo o equilíbrio do discurso, e mostrando-nos a consciência crítica dos perigos do ilusionismo.
Pedro Du Bois baseia seu livro Verdades e Mentiras nas facetas da falsidade, onde revela a sinceridade e a insinceridade desencadeando jogo de mostrar e esconder, construção amparada no discurso da complexidade da verdade e da mentira.
Roberto Pompeu de Toledo, pergunta: “Que é a verdade? Que é a mentira? A mentira é o discurso que começa invocando a verdade a sustentar-se numa mentira.”
Os escritores não podem ter o senso do certo ou errado; inverdades, porque o que pode tornar a mentira uma questão moral é a intenção do mentiroso, e a flexibilidade moral pode ser a chave para o sucesso profissional.
Temos Fernando José Karl que retrata o que os poetas dizem por que não temem o que sentem: “O que é a verdade? Escutar maré de estrelas, // desistir da farsa, vocábulos, pavores / e, nas noites, soprar o carvão, / sabendo que nele o escuro é musical.”