O Didi Mocó Da Literatura
"A Literatura está a serviço da liberdade e não da opressão. Liberdade não combina com opressão, combina com amadurecimento. Na maioria das vezes, amadurecimento está associado ao desenvolvimento intelectual. Quando amadurecemos intelectualmente, não permitimos ser controlados por ideologias opressoras."
(Sandra Nunes, ao comentar o artigo
"A Literatura Serve Para Quê?" autoria
de Gislaine Becker.)
Há Coelhos Demais Nessa Cartola!
Não há novidade nenhuma nisso. Sempre foi assim. Dessa forma. A quantidade prevalecendo sobre os objetivos coletivos da Qualidade. No mundo globalizado pela mediocridade de uma cultura voltada para o consumismo, poderia ser diferente? Não. Claro que não. Afinal, esse Cara, "Corre, Coelho, Corre", nasceu há dez mil anos atrás. Ele sabe demais que a humanidade sempre esteve regulada pela lei da minoria que embassa a percepção da maioria. Iludindo-a. Mantendo-a agregada aos ilusionismos de ocasião.
Escrever para usufruir da ignorância elementar dessa maioria não seria uma covardia inominável? Escrever com o objetivo de reafirmar a prostituição como um valor a considerar (Onze Minutos) não será apontar o caminho para milhões de adolescentes em busca de um trabalho em conformidade com a educação escolar e acadêmica que o país fornece a suas crianças e à juventude?
O mundo globalizado pelo fator econômico é o mesmo mundo que corre, de qualquer jeito, ou jeitinho brasileiro, atrás do prejuízo. Do prejuízo como se fosse do lucro. O lucro material, apenas é o que importa. Ele é simplesmente tudo. A considerar. O escritor imortal da almucábala reduziu suas contas literárias às expectativas das massas consumistas. Por que não reduzir a literatura a um procedimento “intelectual”, entre aspas?
A literatura, suponho, deveria contribuir para uma reflexão amadurecida do mundo pessoal. E coletivo. Não para afirmar a corrupção de intenções as mais regressivas. O Coelho correu atrás do excesso de simplificação de uma composição literária voltada para o incremento precoce de vidas comprometidas com a faina impávida do lufa-lufa a bordo do barco trôpego do capitalismo selvagem.
Quanto mais regressivas forem as atitudes “criativas” da literatura, quanto mais simples as fórmulas oferecidas de sobrevivência e de vida, mais que depressa o autor vai arregimentar público para suas tergiversações. Uma literatura que merecesse esse nome nunca poderia apontar o caminho que mais rapidamente conduz ao pasto dos gusanos, como se fosse a única saída existencial para uma adolescente realizar o verbo viver. Educar-se.
Educare e educere significam, respectivamente, a condução ou o transporte de uma pessoa de um lugar em direção a outro, e expor as habilidades dessa pessoa incentivando a manifestação de suas potencialidades. Em Onze Minutos, nosso mais premiado “escritor” transportou sua personagem em direção a um puteiro europeu. E revelou suas altas habilidades e trunfos em abrir as pernas na busca incansável da mufunfa.
A cultura e a civilização da regressividade. Em nome da prevalência do fator econômico. Que pretende o “escritor”? Orientar uma menina em direção à regressão à mais antiga das profissões para fazer um pé-de-meia? E os meninos que leram esse livro não se sentiram tentados a seguir o mesmo caminho? Guardadas as semelhanças? E as diferenças! Afinal, não é o fator econômico o deus onipresente, onisciente e onipotente da sociedade selvagem, capitalista? Cromagnon!
Ora, uma literatura de massa, popular, que orienta as crianças e a juventude no sentido da afirmação deletéria de seus corpos e de suas mentes, apontando o caminho da venda precoce de suas almas ao fator econômico da sociedade capitalista, num sistema econômico organizado unicamente no sentido de fazer qualquer pessoa topar tudo por dinheiro, teve como resultado o sucesso de suas proposições “literárias”.
O que seria supostamente incompreensível e insustentável pelas academias ditas de Letras, é o incenso, o aplauso e a prevaricação dessas academias ditas de Letras, fazendo, de todas elas, instituições regressivas, a incensar um “Alquimista” como se esse fosse ele um legítimo autor literário. Os velhinhos caquéticos, aparentemente cheios de vitalidade, que mantêm a instituição Academia de Letras funcionando, assinaram, ao premiar com uma de suas cadeiras, a esse alquimista medieval, seu atestado globalizado de falência intelectual.
É como se esses medalhões da corrupção anímica coletiva estivessem dizendo claramente: o que interessa agora não é o conceito de literatura enquanto manifestação da inteligência, da criatividade, da sensibilidade literária ensinada pelos clássicos. O que interessa agora, nesse globo globalizado pelas formas as mais variadas de prevaricação da intenção de uma sociedade pervertida, é confirmar a irreversibilidade da condição humana degenerada pelo fator econômico. Pela quantificação (quântica) da negação de qualquer valor observável que não esteja consoante com as características, as mais primitivas, do ter.
Já disseram, muitos críticos dessa Lebre, quero dizer, desse Coelho, que sua “literatura” entre aspas anestesia ou faz adormecer. Ele massageia o ego infantilizado das pessoas, infantilizando-o ainda mais intensamente. Coelho é simplesmente infatigável na tarefa de reverter e contrariar os objetivos literários que fizeram acontecer os clássicos, antigos e modernos da literatura.
Até onde eu sei, ele promove o sentido inverso da literatura que, suponho, faz por merecer essa denominação. Ora, escrever livros-mercadorias não faz de um comerciante de bugigangas um autor de literatura. Mesmo que com o aval lamentável das academias que deveriam ser, realmente, de Letras.
Ora, há uma infinidade de atitudes que poderiam promover a literatura que, novamente suponho, merece esse cognome. Não é tiranizando o conceito de literatura que esses acadêmicos da imortalidade demencial globalizada poderiam contribuir para que os paradigmas do fundamentalismo econômico pudessem ser expostos e desmascarados.
Se um dos últimos suportes de apoio à inteligência crítica da sociedade, põe-se a premiar com sua ridícula imortalidade um escritor de oportunismos literários, então é porque as academias de letras se transformaram, também elas, em instituições regressivas, a premiar seus acadêmicos com uma cadeira imortal que mais faz jus ao trono de Satã. Ao fator econômico quantitativo, da sociedade globalizada pela intenção Cromagnon de obter vantagens tipo “topa tudo por dinheiro”.
Literatura não é comércio de bugiaria. E as academias de letras, ao avalizarem esse escritor lagomorfo, forneceram a si mesmas um atestado de feudalização e vassalagem do intelecto e da criatividade literária ao fator social quantitativo. Econômico.
Suas cadeiras “imortais”, que seriam de acadêmicos dedicados à disseminação da inteligência, da crítica social pertinente à superação das mazelas sociais, agora são sinônimas de reverência à comercialização literária de amenidades. Alquimistas que nasceram há dez mil anos atrás, que se definem eles mesmos, personagens do neolítico, de uma arte literária pré-histórica. Fazendo regredir a intencionalidade da literatura à época em que nem mesmo existia alfabeto.
Por que esses acadêmicos fascistas das academias de letras não se dedicam a fazer “lobby” no Congresso nacional em prol de uma educação fundamental, média e acadêmica que não reverencie autores que sejam apologistas da prostituição em massa? Prostituição de meninas e meninos, garotos e garotas que teriam um futuro, não fossem os salários dos professores semelhantes aos dos garis, quando deveriam ser mais substanciais dos que os salários dos parlamentares dedicados a fazer leis que beneficiam a corrupção, o tráfico, a prostituição e a marginalidade das quais são os principais beneficiários.
Por que esses acadêmicos fascistas das academias de letras não se dedicam a algo de útil à sociedade, ao invés de se reunirem em chás das cinco e outros afazeres de madames? Por que eles não se dedicam a fazer prevalecer as leis de incentivo à cultura, de modo a incentivar a literatura e as artes dos que não possuem o “know-how” de filhinhos de papai engenheiros e quejandos?
Por que esses acadêmicos da formalidade medieval não se dedicam a uma tarefa que seja de utilidade social pertinente à promoção de autores que precisam ter seus livros editados a preço populares? Com um selo de identificação quantitativa em cada exemplar, de modo a garantir que as editoras prestem contas de todos os livros editados e distribuídos?
Por que esses acadêmicos não se dedicam a desmascarar autores de livros e suas firulas literárias e seus virtuosismos de letras mais apropriados à prostituição de adolescentes do que à uma postura que faça justiça às empreitadas do trabalho intelectual e criativo de um escritor? Que mereça esse nome. Ao invés de premiarem com uma cadeira de Satã um autor de receituário de bolos com confeites cor de rosa, a adornarem uma alquimia para além do medieval, mais próxima de uma pessoa que nasceu há dez mil anos atrás. No neolítico. Segundo sua própria definição.
Uma sociedade regressiva se nivela por baixo em todas as suas instâncias jurídicas e instituições literárias e parlamentares. Até mesmo aquelas que deveriam fazer jus ao epíteto: Academia de Letras. É lamentável. Fazer o quê? Por que esses acadêmicos se permitem levar pela onda tsunami da globalização da mediocridade? Do consumismo atávico (neolítico) próprio do senhor Mercado e de suas concubinas dedicadas a fazer prevalecer a qualquer custo o fator econômico? Como diria Edgar Morin: a tarefa dos professores e intelectuais não é a de ganhar o mundo, mas civilizá-lo.
Literatura não é carnaval.