Simplesmente crendo
Simplesmente Crendo
Seria Fé uma emoção? Um estado de êxtase? Um exercício mental que requer concentração ou alguma técnica mística para sustentá-la? Um Fenômeno Psicológico? Afinal, o que vem a ser FÉ?
No texto bíblico considerado nos parágrafos anteriores, um cego de nascença creu nas palavras que ouviu de Cristo. Simplesmente creu. Acreditou nelas e procedeu conforme ouviu. Praticou o que ouviu e deu certo. “ORA, a fé é a certeza das coisas que se esperam, e a prova das coisas que se não vêem.”7 Fé é certeza de que algo é verdadeiro. Fé é a convicção de que tais palavras ditas são verdadeiras e não necessitam de provas para o que crê, pois a prova já é a própria fé. Fé é a aceitação simples de verdades com ou sem a comprovação científica.
Certa vez ouvi um pregador leigo dizer a seguinte frase: “Com a minha mão eu toco neste púlpito. Com os meus olhos eu vejo quem está lá na porta. Com a minha fé eu vejo Deus”. Mas há muitos que só acreditam no que tocam ou no que vêem. A Fé é pessoal.
Louis Berkhof, (1873-1957) um teólogo sistemático reformado, afirma o seguinte: “O vocábulo (fé) não é um termo exclusivamente religioso e teológico. É empregado muitas vezes no sentido geral e não religioso, e mesmo assim tem mais de uma conotação.” 1
Berkhof considera as conotações do vocábulo Fé inicialmente num sentido solto e popular para indicar uma simples opinião. Depois ele considera a Fé como “uma certeza imediata” relacionada com a Ciência e os resultados que podem ser obtidos pela percepção, experiência e dedução lógica, mas admite a certeza intuitiva referindo-se aos axiomas que não podem ser demonstrados. E por último, ele cita a denotação da Fé como convicção de que o testemunho de outro é verdadeiro, a confiança na promessa que o outro fez, com base unicamente no histórico de veracidade e fidelidade do outro. Isto inclui a confiança num amigo, no piloto do avião quando viajamos, no médico quando estamos na sala de cirurgia, etc.
A Fé Religiosa, por sua vez, não difere da fé em geral. no sentido mais abrangente, é a persuasão do homem quanto à veracidade das Escrituras Sagradas, com base na autoridade de Deus.
Teologicamente, Berkhof distingue o4 tipos de Fé:
a. Fé histórica. Trata-se da pura e simples apreensão de fatos históricos vazia de qualquer propósito moral ou espiritual.
b. Fé miraculosa. É a fé em milagres como aparece nos Evangelhos, nos milagres de Cristo e no livro de Atos, a qual podia gerar ou não a Fé Salvadora.
c. Fé temporal. Trata-se da persuasão das verdades religiosas que vem acompanhada de algumas incitações da consciência e de uma agitação dos afetos, mas não tem suas raízes num coração regenerado. O nome é derivado de Mt 13. 20,21.
d. Fé salvadora. “A verdadeira fé salvadora tem sua sede no coração e suas raízes na vida regenerada. Muitas vezes se faz distinção entre o habitus e o actus da fé (entre o hábito e o ato da fé). Contudo, por trás destes acha-se a semen fidei (semente da fé). Esta fé não é primeiramente uma atividade do homem, mas uma potencialidade produzida por Deus no coração do pecador. A semente da fé é implantada no homem quando da regeneração. Alguns teólogos falam disto como habitus da fé, mas outros mais corretamente lhe chamam semen fidei. Somente depois que Deus implantou a semente da fé no coração do homem, é que ele pode exercer a fé. É isto, evidentemente, que Barth tem em mente também, quando, em seu desejo de ressaltar o fato de que a salvação é exclusivamente obra de Deus, afirma que Deus, e não o homem, é o sujeito da fé. O exercício consciente da fé forma gradativamente o habitus, e este adquire uma significação fundamental e determinante para o ulterior exercício da fé. Quando a Bíblia fala da fé, geralmente se refere à fé como uma atividade do homem, mas nascida da obra realizada pelo Espírito Santo. Pode-se definir a fé salvadora como uma certa convicção, produzida pelo Espírito Santo no coração, quanto à veracidade do Evangelho, e uma segurança (confiança) nas promessas de Deus em Cristo. Em última análise, é certo, Cristo é o objeto da fé salvadora, mas Ele nos é oferecido unicamente no Evangelho.”2
Alcimar
Notas
1. Louis Berkhof, Teologia Sistemática, p 500
2. ___________, Teologia Sistemática, p 502