Palíndromo, Tautologia e Oxímoros

Palíndromo é uma palavra ou numero que se lêem da mesma maneira nos dois sentidos. A palavra vem do grego e significa o que volta sobre seus passos ou o que ocorre no sentido inverso. Ovo, osso, esse, 11 e radar são alguns exemplos. Há também as frases, como “a base do teto desaba”, “após a sopa”,” a droga da gorda”,e o caso mais famoso:” socorram-me, subi no ônibus em Marrocos” . Se for lida a frase com atenção de trás para frente, se vai subir do mesmo jeito e no mesmo lugar. E o pior é que eu subi mesmo. Faz alguns anos. Do porto da famosa Casablanca até a curiosa Marrakesh, atravessando o deserto do Saara.Na praça central da exótica cidade encontrei outro palíndromo: “ a cara rajada da jararaca “, ou uma cobra parecida, no meio de camelos, macacos, encantadores de serpentes, rua labirínticas e gente muito estranha. Bom lugar para se perder e morrer de “ rir “, (outro palíndromo!). Soube de uma turista brasileira que lá se perdeu e foi achada anos depois casada e com filhos. Outro perigo nas vielas é ser atropelado por motocicleta, não muito diferente de São Paulo.

Tautologia é um vício de linguagem onde se repete uma idéia com palavras diferentes, mas de mesmo sentido.Parecida com pleonasmo e redundância, é uma explicação desnecessária, uso abusivo do vernáculo, verbosidade. Se eu houvesse dito que estive em Marrocos há anos atrás estaria cometendo tal vício tão comum entre nós, como acabamento final, certeza absoluta, expressamente proibida, superávit positivo, exceder em muito, subir para cima, descer para baixo, encarar de frente, fato real, empréstimo temporário e outras surpresas inesperados (epa! mais um!).

Finalmente, os oximoros, tão belos e poéticos, não são vícios e nem inversão. A idéia é enfatizar a contradição. Um silêncio ensurdecedor combina tão bem com a obscura claridade, onde palavras de sentidos opostos parecem se excluir, mas acabam por reforçar algo, como o Conselho de Ética do Senado (piada, não?). Neste caso, nada poético. E há outros curiosos e duvidosos como a humildade argentina, organização brasileira, democracia árabe, honestidade política, sinceridade mineira, religião do conhecimento, sabedoria das crenças, liberdade chinesa, indisciplina alemã, cordialidade francesa, claro enigma (salve Drummond!), o burro não é tão burro quanto parece, e por aí a fora.

Por detrás das inversões, dos vícios e dos reforços manifestados através das palavras estão os pensamentos que os animam, que se não forem muito bem expressos através delas, poderão causar muita confusão e perda de tempo.

Mas qual mistério inescrutável (tautologia?) há de comum entre as inversões, o vício e a paradoxidade oximoríaca.

Difícil dizer. Talvez o leitor nos possa ajudar.

De uma coisa se tem certeza: é muito bom economizar as palavras para ser bem entendido.

Nagib Anderáos Neto

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