EDUCAÇÃO E LITERATURA VIRTUAL

“O futuro digital promete o entendimento e controle da natureza e, com isso, teríamos a tranquilidade de portarmos nossos problemas mais “orgânicos”, digamos assim, resolvidos de forma rápida e objetiva _ basta, para isso, apertar um botão. A sociedade digital não apresenta fronteiras geográficas e nela convergem diversos assuntos, fronteiras e culturas. Ela é interativa e, teoricamente, não admite autoridades e hierarquias. Por tudo isso se tornou imprescindível, na medida em que tem uma enorme rapidez e autonomia suficiente para a difusão de informações que acabam provocando modificações nas relações sociais, econômicas, institucionais, grupais e individuais. Nosso futuro digital está ancorado no desenvolvimento vertiginoso da eletrônica e das telecomunicações.” _ Andréa M. M Alves Coutinho _ *

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Certa vez li texto de um estudioso que se dizia preocupado em convencer pessoas a desistirem de escrever. Para esse senhor, o mundo vive uma espécie de poluição gráfica. Não se pode dizer que ele retirou conclusões apressadas e simplistas de suas investigações.

Por outro lado, há geralmente vários pontos de vista e contextos que precisam ser analisados em função da coerência de determinadas opiniões e formulações de conceitos. Há um esforço enorme por toda parte, seja em casa, nas salas de aula ou nos debates acadêmicos em torno da preocupação com a situação da leitura e da escrita no Brasil. Para as estatísticas o quadro tem se apresentado grave e chama a atenção do mundo.

O Brasil tem fama de analfabeto. Há quem diga que estudantes e até professores, e outros tidos como intelectuais, pouco leem e menos ainda produzem textos. Existe verdade nessas afirmações.

O advento da Internet e o avanço tecnológico lançam o mundo em uma situação jamais imaginada de acesso à informação e à produção cultural. Não falta espaço para a publicação e nem para a leitura de obras que, durante muito tempo, estiveram tão inalcançáveis quanto a famosa flor edelweiss.

Ser inteligente é diferente de ser informado, de ser culto ou de ser intelectual. Alguém pode não ser alfabetizado, mas é, seguramente, inteligente. Pode ocorrer, inclusive, de alguém ser bastante informado e pouco tenha desenvolvido a sua inteligência. Seria o tipo bitolado, aquele que não busca, que não ousa e se conforma com o trivial. Portanto, um ser dotado naturalmente de inteligência, mas que se acomoda.

Parece, dessa forma, que o ser humano deve esforçar-se para o bom uso da natural inteligência que o diferencia dos irracionais e a isto possa agregar a informação. A cultura, por sua vez, é também algo que todos têm. A ampliação do leque de informações acrescenta ao indivíduo a ilustração, a intelectualidade. Logo, um sujeito civilizado, além de inteligente, é parte integrante da cultura de seu povo, de seu contexto social e, também, informado, ilustrado, intelectualizado.

Ler e escrever são exercícios indispensáveis ao ser humano para que atinja um nível excelente de civilização, de educação. Para que um povo alcance gostar de ler e de escrever há todo um complexo sistema que o envolve histórica e socialmente. Há também a necessidade de alguma orientação, tanto para os que apreciam a leitura e a escrita _ mesmo tendo vivido em ambientes desfavoráveis, em lugares e entre pessoas que não as apreciam ou cultivam _, quanto para outros que, apesar de todas as facilidades, não fazem questão de leituras e nem desejam escrever.

O que se vê a partir da evolução da tecnologia no que diz respeito à produção de textos é um tsunami de publicações. Muitos querem se expressar custe o quanto custar. Querem ter voz e vez, marcar espaço, presença. Querem desabafar suas angústias, querem tantas e tantas outras coisas. Os que se consideram intelectuais se comportam de maneira a demonstrar impaciência, intolerância _ procurando formar guetos onde girem majestosos entre os seus pares. Excluem os indefesos, vulneráveis e tentam fechar as portas, além de humilhá-las e ridicularizá-las publicamente.

O pior é que nas salas de aula existem os professores carrascos. Não só os antigos, mas jovens antiquados, herdeiros do carrancismo e que vivem de caneta em punho para enfeitar de vermelho, de roxo, de verde os textos dos seus alunos. Tais professores sacrificam os mais recônditos sentimentos de jovens e de adultos, jogando na lata do lixo tudo o que estudaram acerca da Psicologia da infância e da adolescência. Situações assim, de constrangimento e injustiça nas escolas deveriam ser levadas aos tribunais de justiça.

Nada há que possa justificar atos de afronta aos sentimentos humanos expressos na escrita. Antes da gramática, da técnica, da ciência e de todos os preceitos da Literatura e da Crítica Literária está o indivíduo, a sua subjetividade.

Comecemos, então, a nossa avaliação de textos pelos aspectos humanos, considerando o conteúdo. Esta é a primeira etapa. A segunda será feita carinhosa e criteriosamente, tendo em vista os outros degraus: a correção gramatical, a técnica, a ciência, a Literatura e a Crítica Literária. Escolas e professores não formam escritores. Por exageros de correção gramatical é que muitos alunos se inibem e desistem de escrever e, consequentemente, de ler. Envergonhados perante os colegas, eles se retraem e carregam para sempre, dentro de si, a marca da rudeza e da insensibilidade de seus professores. Quem sabe até quantos artistas perderam-se por estes motivos.

De que maneira cada um de nós pode contribuir para o bom andamento da leitura e da escrita, especificamente quando nos relacionamos com semelhantes nos sites que pretendem publicar textos literários? Esta é uma questão muito nova e de complexidade inimaginável. As pessoas em geral correm riscos de toda sorte ao se iniciarem no mundo novo da literatura virtual. Nem sequer ainda existe uma legislação específica relativa ao mundo da virtualidade. Não são todos os escritores formados em Direito. Há uma lacuna grandiosa de falta de informação, mesmo que as coordenações dos sites se preparem muito bem para levar o empreendimento adiante.

Acontece que cada site se torna uma réplica da sociedade onde a diversidade impera. Quando um professor adentra uma sala de aula encontra esta mesma realidade e tem que estar preparado pra trabalhar dentro dessa multifacetada paisagem cultural, social. Vez por outra o que se observa é a atitude de educadores que pretendem padronizar o pensamento humano como se isto pudesse ser. Cada estudante é um mundo e precisa ser respeitado em seus limites e individualidade, o que não quer dizer, absolutamente, que se faça indiscriminadamente o que um aluno exija.

Retornando à questão dos escritores iniciantes ou mesmo profissionais que publicam seus textos em sites eletrônicos, estes não estão ali para corrigir ou ironizar os textos dos seus companheiros. Não é objetivo e nem função dessas pessoas. Sequer as direções de sites se ocupam disto. Trata-se de uma atitude de ostensiva deselegância, de falta de coleguismo e de sentido de humanidade.

É fácil não opinar, não comentar textos. Até mesmo, se um assinante começa a ler um texto e não o aprecia, basta suspender a leitura e fazer a retirada. Qualquer obra, boa ou ruim é passível de críticas negativas, mas em circunstâncias específicas e feitas por profissionais do ramo.

O elogio pelo elogio deve ser evitado. E como elogiar? Fácil! Basta ler com atenção para encontrar algo que valha a pena elogiar, incentivar. Neste momento alguém poderá alegar que lê textos em que coisa alguma se aproveita. Aproveita, sim. A força de vontade, o empenho, o encantamento de quem escreve, demonstrando a vontade de acertar mesmo se equivocando. Muitas vezes uma palavra sincera, o carinho e a atenção operam milagres. Vale para o aluno e vale para o colega de publicações nos sites. Seria possível imaginar Drummond de Andrade denegrindo um texto de Cecília Meirelles? Alguém dirá, mas Drummond é Drummond e Cecília é Cecília. Sim, entretanto, tantos renomados autores são malhados, por especialistas e até por quem pouco ou quase nada entende de literatura. Mesmo assim, a elegância no trato está em primeiro lugar. E eu duvido muito que o poeta Drummond fosse capaz de tal atitude. Era um cavalheiro. Cecília, uma pessoa de refinados modos, doce, meiga. Gente assim não se daria a vexames e incomensurável falta de educação.

REFERÊNCIA ELETRÔNICA

*A autora da citação utilizada para a introdução do texto é Doutora em Teoria Literária pela Universidade de Brasília

http://repositorio.bce.unb.br/bitstream/10482/3217/1/2008_AndreaMarciaMACoutinho2.pdf

Acesso em 06/0102011

taniameneses
Enviado por taniameneses em 07/01/2011
Reeditado em 07/01/2011
Código do texto: T2714013
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