A PALAVRA
Ernani Maller
A palavra é a matéria-prima do escritor,
ela é maleável, sujeita-se aos caprichos do criador.
Mas também se impõe,
em sua ampla diversidade de interpretações.
A palavra morre, cai em desuso, mas também ressuscita.
Idiomas se extinguem,
levando consigo não somente palavras, mas formas de pensar.
Palavras que adjetivam o belo, como a flor, a borboleta
e principalmente a mulher.
São obrigatoriamente poéticas, assim como o é,
a palavra que dá nome à “lembrança triste”,
um privilégio do idioma português: saudade.
Ao contrário da fotografia, que é o que se vê,
a palavra, é o que se imaginar ser,
ela dá campo ao pensamento, asas à imaginação.
Na descrição de uma cena, cada leitor,
com suas experiências de vida, imaginará sua própria cena,
isso torna a palavra infinita, sem limites.
Pela palavra passa o conhecimento, a sabedoria, a erudição.
Sem a palavra não seríamos diferentes dos animais.
Ela distingue povos, classes sociais, profissionais liberais,
com seus mais variados discursos,
é o poder das palavras, as palavras do poder.
Quantos livros? Quantos poetas? Quantas religiões?
Filosofia, História, tudo baseado na palavra,
que o ser humano manipula, em um inesgotável quebra-cabeça.
Através da palavra, o ser humano vai se forjando, vai se recriando,
Portanto, não acredite se alguém lhe disser:
“palavras são palavras, nada mais do que palavras”.