Linguagem Literária: uma análise na obra Tieta do Agreste de Jorge Amado
Linguagem Literária: uma análise na obra Tieta do Agreste de Jorge Amado
Autora: Solange Gomes da Fonseca
Muitos escritores possuem a característica de “misturar” a ficção a história, fazendo com que o leitor se interrogue se aquilo que esta lendo ocorreu de fato ou se é simplesmente a imaginação do escritor. Embora, saibamos que o gênero textual já prepara o leitor para a interpretação. No caso de Jorge Amado, o autor busca fatos reais para (re) contar a proposta de Tieta do Agreste - Pastora de Ovelhas - através do questionamento de verdades estabelecidas. O autor (re) cria uma história socialcultural no Sertão do Agreste.
Os estudos relativos à disciplina de Literatura sempre suscitaram muitas discussões em torno da linguagem literária, recheada por metáforas, para diferenciar da narrativa histórica por sua subjetividade, pela ambigüidade ao compartilhar com seus leitores certos discursos. Na literatura, não há a objetividade dos relatos históricos, muito menos o comportamento com a verdade. Contudo, o leitor estaria preparado para aceitar audácias históricas, ou seja, o leitor deve aceitar que o escritor não deva passar por nenhum teste convencional de realidade. Para isso, o questionamento das “verdades” sobre a linguagem literária constitui o desenvolvimento prático de uma consciência lingüística crítica ou uma prática de intervenção que pode contribuir na educação lingüística de todos os leitores e, fornecer-lhes o conhecimento para iniciar mudanças em suas próprias práticas discursivas e, nas práticas discursivas de sua comunidade. Mas, uma vez, que toda mudança social passa por uma mudança discursiva é preciso desestabilizar os elementos da ordem discursivos para provocar uma reconfiguração na ordem do discurso atual num texto literário.
A literatura e a vida real não são a mesma coisa, mas estão relacionadas. Falar do romance aqui destacado, portanto, significa também falar da vida real.
A projeção das manifestações populares em obras eruditas, literárias, musicais e teatrais constitui um dos aspectos da apropriação da cultura do povo, que dá tom, ainda que de forma incipiente, da introdução do romantismo no Brasil (segunda metade do século XIX), vindo a ter um período de maior incrementação no modernismo (a partir da segunda metade do século XX). Todavia, estas formas modernas convivem com os textos dos romances tradicionais, alguns dos quais tem sido coletado em performances juntamente com as modernas.
A coleta dos romances tem registrado a ocorrência espontânea das performances dos romances tradicionais nas seguintes ocasiões:
__ narrado por mulheres em reuniões familiares ou de vizinhança, com a motivação explicitamente lúdica, embora com o sentido educativo implícito;
__ em rodas de amigos, num sertão do Agreste, onde o pai tinha a figura ríspida do dono e, a filha (Tieta), tinha que o obedecer para o convívio familiar.
Jorge Amado conhecido intencionalmente relata a opressão do negro, do pobre e do trabalhador nas zonas urbanas; sendo, obra de forte apelo social, transformada em novela e filme.
A obra Tieta do Agreste é a forma como um dos poetas mais sensíveis capta o feminino e o exprime traduzindo, com riqueza de estilo, todo o seu romantismo sensual ao enfatizar o amor, a força da carne e do sangue que arrasta seus personagens para um extraordinário clima lírico/dramático. Embora, de forma a aprofundar depois, enfocando as figurações de que a mulher se reveste em “Tieta do Agreste” na tentativa de flagrar o fundamental do feminino e descortinar a presença da mulher no imaginário do autor.
Ao estilo cru, Jorge Amado tempera esse romance com uma das cenidade freqüente tanto na linguagem quanto nos atos dos personagens. (Amado, 1979, p. 581).
Tieta do Agreste foi um romance que documentou problemas reais da sociedade brasileira e que tem como pano de fundo a vida e os costumes de uma cidadezinha do interior da Bahia que ultrapassou, apenas o seu limite cultual por ser a terra natal do ilustre escritor e poeta Jorge Amado.
Essas considerações mostram que não se pode dissociar a cena enunciativa de uma história narrativa, de um ficcionista, de um universo, o qual pé constituído por vários campos político, religioso, filosófico, científico, entre outros. Cada campo é formado de vários espaços que são os chamados interdiscursivos. Portanto, a noção de situação enunciativa na obra não apresenta uma mesma face quando se trata de textos literários e quando se referem a intercambios lingüísticos ordinários (interação comunicativa entre os interlocutores).
Observamos na obra Tieta do Agreste, a importancia da performance dessa literatura, inclusive o fato da obra do ficcionista Jorge Amado ter sido alvo de adaptação em linguagem televisiva, cinematográfica e teatral, e por sua performance ultrapassar fronteiras locais e nacionais ganhando leitores de múltiplas nacionalidades que visitam a região, através do imaginário ficcional e, depois motivados por essa mesma literatura, tornam-se turistas. No entanto, como forma de ampliar as perspectivas do texto, a literatura tem uma inter-relação, através do foco cultural e complementaridade numa perspectiva comunicacional.
A literatura é enfatizada, pelo autor, uma vez esconde, sob a aparência da simplicidade, toda a complexidade humana com suas tragédias e seus romances, em que pontilham passagens de ódio, amor, doença, morte, felicidade, drogas, traição, dinheiro e outros. Todas as obras-primas da literatura foram obras-primas de complexidade: a revelação da condição humana na singularidade do indivíduo. O autor alerta, também para o papel que a metáfora exerce nos contextos literários, a qual fornece precisão que a língua puramente objetiva ou denotativa não pode fornecer.
A historia de Tieta do Agreste surge como revés das narrativas fundadoras de nossa cultura que cristalizavam um centro ocupado pelo pai, homem, o dono, a lei, a ordem; enquanto a mulher/mãe fica a margem, representando o pólo negativo. Por isso, Jorge Amado tomou os devidos cuidados na construção de seu texto, elecando na situação oportuna as marcas lingüísticas para que o interlocutor pudesse se orientar no momento da interpretação do enunciado textual.
As vozes dos personagens não são produzidas ou compreendidas em um vácuo (...) a cada voz corresponde um personagem, um agente social; a voz expressa o modo como esta organizada a posição do personagem na sociedade. Os personagens sociais, juntos, fazem o tecido da sociedade, e o texto societal é o resultado mais ou menos bem sucedido da representação do entendimento do personagem a cerca dessa organização societal. Diante disso, vale lembrar que a construção dos sentidos estará sempre ligada ao modo como o texto se encontra lingüisticamente construído, das sinalizações que lhe oferece, bem como pela mobilização do contexto relevante à interpretação.
A obra de Jorge Amado revelou para o Brasil e o mundo a adequação da língua das classes estigmatizadas pelas elites culturais e sociais, descrevendo o modo de viver de uma gente que ansiava por liberdade.
A linguagem considerada como obscena encontrou aproveitamento no uso da língua, marcado pelos fatores situacionais. Isso foi uma das razões que mais influenciaram para a repercussão das críticas acerca da linguagem amadiana. Eram palavras conhecidas por todos e que apareciam com naturalidade nos textos, reproduzindo o falar das classes menos favorecidas.
Jorge Amado (1981), deu autenticidade à língua, especialmente na modalidade oral, não vacilando em quebrar os preconceitos. Nos tempos de perseguição e opressão à expressão do pensamento, Jorge Amado, munido de ousadia e consciencia política retratou fielmente os costumes, dando expressões literárias ao linguajar do povo.
O reconhecimento da modalidade do signo lingüístico no contexto da enunciação aponta o caráter dialógico da linguagem e a historicidade da língua e dos usos que dela se faz. É nessa perspectiva que entendemos as palavras trabalhadas metaforicamente no romance Tieta do Agreste.
É nesse sentido que a obra literária só faz representar um real exterior define um contexto de prática social. O gênero de discurso aparece como uma atividade social de um tipo particular que se exerce em circunstancias adaptadas, com protagonistas qualificados e de maneira apropriada sobre o momento e o lugar a partir dos quais o autor enuncia os acontecimentos culturais e sociais do interdiscurso, como esta caracterizada na situação enunciativa da obra Tieta do Agreste do romancista Jorge Amado.
A partir o exposto percebe-se uma relação entre a situação enunciativa da literatura com a formação societal na comunicação verbal, predominante na obra literária. Diante de tudo isso, acreditamos que todas essas reflexões feitas só poderão beneficiar a amplitude de compreensão da abordagem literária dentro do romance Tieta do Agreste do romancista Jorge Amado, por sabermos, que a linguagem literária é um fenômeno que agrega muitas teorias, as “problemáticas” de uma interpretação.