Vampiros ou não ... eis a questão!

2010 foi o ano dos vampiros, por mais que os anjos estejam querendo aparecer mais um pouquinho (recomendo que leiam Sussurros). A situação atual é a de que os vampiros moderninhos continuam invadindo ainda mais o mercado literário, andando de dia, sendo bonzinhos e éticos, usando roupas da moda, conquistando a mocinha com seu romantismo e saindo a luz do sol. Nem sempre as histórias de vampiros foram assim, cheias de glamour, brilho e “bondade”. Antigamente as histórias de vampiros eram mais sombrias como o Drácula, um homem frio, sanguinário e sedutor que não mediu esforços para conquistar a indefesa Mina (no filme temos a intrigante e picante cena de sexo entre Lucy e um Drácula muito peludo). Por outro lado temos uma Anne Rice que ainda tentou reinventar os vampiros fazendo uma turba de seres sentimentais que com toda certeza gostavam dos dois lados (se me entendem), cada um com um traço de personalidade marcante. Lestat realmente era encantador, destemido, ambicioso e não tinha medo de mostrar o que era (recomendo que leiam Menoch). Do lado oposto tínhamos Louis, um vampiro depressivo, que se sentia um monstro repulsivo (que me lembra o famoso e brilhante Edward) e que era apaixonado pela pequenina Claudia uma jovem vampira mimada. Ainda assim haviam outros vampiros mais pertubadores e as histórias eram sombrias de um sentimentalismo irônico e negro. Atualmente o que vemos é uma febre adolescente (o que me faz lembrar que Anne Rice era febre na minha adolescência) onde vampiros saem a luz do dia (brilhando né) andando felizes da vida, amando loucamente a pobre mocinha, sendo jovens abaixo dos dezoito anos e geralmente virgens. Posso citar três séries de livros que se enquadram perfeitamente nesse “clichê”, Crepúsculo de Stephenie Meyer com o vampiro Edward que tinha um sério complexo de Louis da Anne Rice. A autora que realmente é ótima escritora soube dosar o romantismo em sua série e por mais que algumas coisas sejam completamente tolas, o livro é gostoso de se ler prendendo o leitor a cada página. Parece que suas fórmulas açucaradas para adolescentes em polvorosas por uma dose de sensualidade, sedução, paixão e morte está dando certo. Claro que as jovens espertas olham para o livro e preferem o lobo mal Jacob saboroso que fica andando o tempo todo sem camisa porque sempre estraga suas roupas quando se transforma. Porém, homem não entende essas coisas e o machismo vem a tona com palavras como “esse vampiro, sei não hein” e “esse lobinho ae não tá com nada”. Por algum acaso do destino ela conseguiu escrever um livro muito melhor, chamado A hospedeira que segue a mesma linha de romantismo, porém mais livre e mais audacioso do que seus vampiros. O interessante é ver que ninguém cita essa outra obra que é bem melhor elaborada do que crepúsculo.

Também temos a série de livros Diários de vampiros que foi publicada originalmente em 1991, mas que com a pressão dos leitores, Lisa Jane Smith lançou em 1992 mais um volume, Dark Reunion. O livro fala da jovem Elena que se apaixona por Stephan e tem pelo seu caminho o irmão do seu amor, Damon para atormentá-los, depois uma cópia sua, a vampira Katherine e por ultimo o criador da mesma. Como é de praxe nos livros para adolescentes de hoje, ela é uma jovem estudante que vive um triângulo amoroso. Já a série de TV é completamente diferente, o conteúdo nada tem haver com os livros e a única vantagem são os atores principais Paul Wesley e Ian Somerholder. O que complica o entendimento de nós pobres mortais loucos para saber porque as produtoras destroem os livros quando vão transformá-los em filme ou séries. Enfim, o que não muda é o clichê de mocinha defendida pelo vampiro “bom” que se sente um monstro e não quer mais ser mal. Por fim, a mocinha morre no final e o vampiro depressivo fica ainda mais em depressão, porém, ela volta a vida depois que uma força mística NÃO explicada devolve a menina para o pobre vampiro apaixonado. Aí você se pergunta, é um livro espírita? Não, é um livro de terror paixão adolescente que não explica certos acontecimentos.

Como se não bastasse duas séries de livros que ganharam a mídia, temos agora também uma série chamada House of Night que até agora tem publicado os livros, marcada, traída, escolhida, indomada, caçada e tentada. Nesses livros a jovem donzela é marcada para passar pela transformação e ser uma vampira numa escola para vampiros (eita criatividade ) onde nem todos vão sobreviver para ver a eternidade. Lá ela se apaixona por um rapaz e depois por seu professor com quem se deita (lá vem o triângulo amoroso de novo). A jovem vampira passa por terríveis provações e se apaixona por um terceiro rapaz, sendo assim ela chega a pensar que está virando uma.... (melhor nem comentar) Como nos casos anteriores ela fica dividida entre suas várias paixões, sofre o pão que o cabrunco pisou e luta por seus objetivos, chegar viva no final dos livros e namorar o vampiro bonitão e que anda de dia.

Na nossa literatura temos grandes nomes que escrevem romances vampíricos como André Vianco, Martha Argel, Giulia Moon e Nazarethe Fonseca. Há uma grande diferença da nossa literatura para a americana, um bom exemplo são as obras de André Vianco que são mais testosterona que qualquer romance vampírico. Mostram um Brasil rico em cultura e mitos, confrontando as obras internacionais que enfatizam o romantismo, ele coloca muito sangue, ação e mordidas para todos os gostos. Nossos autores tem tudo para ganharem o mundo, com um novo modo de contar as lendas.

Sei que ainda há outros livros sobre vampiros que estão sendo lançados, comprei alguns, mas estou curiosa quanto as histórias sobre anjos ultimamente, pois ao que parece eles conseguem ser mais sarcárticos, sombrios e maus como os vampiros deveriam ser e não são.

Como ainda não tive contato com as outras histórias do gênero vampirinho emo apaixonado não posso deescrever aqui como são, mas rezo para que não sejam tão ruins. Por vezes releio Drácula e outros livros na esperança de entender a nova geração de escritores. Sabemos que esses gêneros chamam a atenção e fazem a cabeça da garotada, além de mandar dinheiro para os bolsos dos autores. Porém, percebemos um grande declínio nos mitos que são transformados em histórias tornando-os chulos e descartáveis. É como fazer o Hulk parecer fofo com um ursinho nas mãos e um olhar apaixonado e bobo para a menina louca por aventuras.

Amanda Arbex (usa o codinome faye moncryef para escrever) é formada em História e está preparando seu primeiro romance. Possui o blog Relicário das sombras que pode ser visto pelo seguinte link http://www.relicáriosombras.blogspot.com, participa do site Recanto das letras através do link http://www.recantodasletras.com.br/autores/fayemoncryef e seu email de contato fayemoncryef@hotmail.com.