Crítica: O menino do pijama listrado, John Boyne

Este é um dos raros casos em que o filme supera a obra literária, talvez devido ao fato de o autor tê-lo concluído precipitadamente. As ideias, as palavras, a estrutura do texto, poderiam ter sido analisados mais para um melhor desenvolvimento da trama. Apesar disso, a obra é espetacular devido à forma inovadora que apresenta o holocausto, ao impacto causado pelo final surpreendente e à reflexão que proporciona após a leitura.

O menino do pijama listrado nos apresenta uma história emocionante sobre o holocausto do ponto de vista inocente de uma criança de 9 anos, Bruno. E vai além, pois mostra ainda a forma como o adolescente, no caso a irmã mais velha de Bruno, pode ter sua opinião completamente manipulada por um sistema que busca apenas defender os seus próprios interesses. Adolescentes, cheios de ideais, que infelizmente podem se tornar perigosos, violentos, como o tenente Kotler.

Alguns leitores e espectadores dizem se sentir incomodados com a história, principalmente devido ao seu final. Não seria este incômodo benéfico? Ou será que a história da humanidade deve ser disfarçada para não gerar incômodos? A literatura aqui vem nos apresentar o nosso lado cruel e por isso incomoda. Ao denunciar os crimes cometidos durante o holocausto, ela mexe com o nosso 'ser' humano.

Em alguns momentos, percebi no menino inocente, que não entende direito as palavras e associa o uniforme de um campo de concentração a um pijama, desejando mesmo poder ficar todo o dia vestido daquela forma, vivendo junto com os que ali estão como se eles fossem muito mais felizes que ele - uma referência à geração atual, pois nós não compreendemos o que foi o holocausto. Somos como aquela criança, acreditamos no que nos dizem e muitas vezes fantasiamos um mundo que não existe, pois para que ele exista, é necessário o nosso empenho em criá-lo. Só compreende a dimensão do que foi realmente o holocausto quem o viveu em toda a sua extensão. Assim como fez o menino Bruno, é necessário sim entrar num campo de concentração para entender o horror e até mesmo vivenciá-lo. Incomodado? Não quer entrar no campo, prefere ficar do outro lado da cerca, fantasiando que não pode ter sido tão ruim assim? Então não assista ao filme nem leia o livro, a história pode te impressionar demais e talvez você não tenha maturidade o bastante para enfrentar isso, como Schmuel, o menino triste e faminto que encontramos do outro lado da cerca.

Kelly Vyanna. Membro da ACEIB/DF. Disponível em: http://kelly-literatura.blogspot.com/ www.aceib-gremioliterario-df.blogspot.com ou www.recantodasletras.com.br