ELOGIO DA CHUVA
O dia da chuva é propício à filosofia, ao amor, à rasgação de papéis, à curtição de licor, à preguiça física e mental, a escrever cartas, a ouvir músicas, a telefonar para amigos nos Estados ou no exterior, a cochilar, a beber uma xícara de chocolate bem quente, a jogar cartas ou fazer paciência, a fazer pequenos consertos no banheiro, a lembrar casos de viagem, a não fazer nada.
É extraordinária a relação de coisas que o dia de chuva torna propícias, menos, é claro, sair de casa. O dia de chuva é exatamente o dia oferecido de graça pela natureza para ficarmos em casa, para esquecermos a rua, os negócios as obrigações. Em vão o calendário o assinala com impressão em negro, lembrando que se trata de dia útil. A misericórdia do tempo imprime-o vermelho, como os domingos, feriados e dias santos.
O dia de chuva é propriamente um dia santo, em que devemos guardar a paz interior e a paz com relação aos outros, fugindo de qualquer tentação de agir, influir, concluir. O silêncio ocupa nele um espaço especial, feito de doçura e tranqüilidade. Por isso mesmo não se deve escutar música de sonoridades fortes, sinfonias de largo fôlego heróico ou monumental. A música nesse dia, há de ser de câmara, e pede-se aos familiares que não falem alto. Também não precisam sussurrar. Não há cochichos nem segredos no dia de chuva. Há a atmosfera de quietude que banha todas as coisas, tornando-as mais simples, mais delicadas, sobretudo mais comunicantes com a gente.
A chuva lá fora leva-nos a descobrir a discreta excelência desta mesa, em que acostumáramos a botar tanta coisa que nem víamos mais ou seu tempo antigo e prestimoso. Vamos desembaraçá-lo de livros, lápis, pesos de papel, espátulas, e alisar a madeira camarada, fiel durante tamanha fatia da vida.
É olhar para as paredes também. É hora de redescobrir que os quadros que um dia instalamos, orgulhosos de exibir a tela ou a gravura que encantavam o crítico Florêncio quando ele nos visitou. Não só o crítico, as visitas em geral ficaram encantadas. E nós, com o tempo, nem reparávamos nelas. A ingratidão da pressa e do costume tornou praticamente invisíveis as obras de arte, poucas mas boas, que conseguimos reunir ao longo da vida. E a chuva, essa benfeitora, aponta-as com o dedo molhado, dizendo: “Olha.”
Olhamos e nos sentimos outra vez donos de novo, de primeiro dia, felizes sem arrogância. Tão bom, ressentir a presença de cada objeto que nos acompanha dia após dia e não reclama nada, salvo um pouco de limpeza ou verniz. Um arsenal imenso de coisas que vive à nossa disposição tem a sua utilidade, a sua beleza comprovada, porque a chuva, fustigando as ruas, nos conduz a essa doce contemplação dos objetos caseiros, em que até uma caçarola: serão menos flores do que as de jardim, ou fazem papel de representantes delas?
Bem, o capítulo da leitura de livros tem importância particular no dia de chuva. Todos possuímos um bocado de volumes condenados a jamais serem abertos. Jamais, não. Se a chuva nos deixa em casa, é para eles, os intocados, os virgens, que a mão se dirige. Aí está esse poeta espanhol do século XV, Rodrigo de Cota, comprado em edição de bolso, nunca lida. Abre-se ao acaso, e é o longo diálogo entre o amor e o velho, em que este, vencido por aquele, exclama: “Siento raiva matadora,/plazer ileno de cuydado;/siento fuego muy crescido, siento mal y no lo veo;/sin rotura esto herido:/no quiero ver partido,/ni apartado de deseo”.
Leituras de dia de chuva: um gosto diferente daquele que tem a leitura em dias comuns.
E assim vamos navegando dia afora, sem preocupação de relógio, a ponto de parecer que o tempo acabou como categoria obsessiva de toda a vida. Não há pressa, porque a chuva elimina as providências que devemos tomar. A agenda, com seus deveres irretratáveis, foi derretida sem lástima, direi até com prazer. Porque há prazer na dispensa de uma obrigação, ou no seu adiamento: fraqueza (ou defesa?) da mente humana. Até os maiores trabalhadores, os que tem compromisso moral com a pátria e a consciência, experimentam secreta delícia em frustá-lo por um dia, intervalo destinado à ociosidade angélica.
Acontecimento importante, que ocorre no recolhimento domiciliar da chuva, é a demissão do sol, que de bom grado assinamos. Esquecemos seus benefícios e esplendores, passamos muito bem sem ele. Se voltasse no meio da tarde, seria mal recebido. A chuva ficou sendo para nós uma sóror franciscana, de amada conveniência.
Mas tudo isto, agora me envergonha dizê-lo, são prazeres de classe média relativamente folgada, que se permite faltar ao serviço sem medo de desconto ou cara feia do chefe. Desfrutá-los não é para qualquer mortal. Até a chuva é discriminatória e parcial, injusta para muitos, privilegiada
para uns poucos. Perdoem esta louvação médio-classista da chuva de quinta-feira passada.
Carlos Drummond de Andrade
In: Prosa Seleta Carlos Drummond de Andrade
[Moça Deitada na Grama]
Editora Nova Aguilar, 2003, em um volume,
p. 1138 – 1140
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SEM REFERENCIAL BIBLIOGRÁFICO:
"Desejo(s), Mato e/ou Síntese da Felicidade:
Desejo a você/Fruto do mato/Cheiro de jardim/Namoro no portão/Domingo sem chuva Segunda sem mau humor/Sábado com seu amor/Filme do Carlitos/Chope com amigos/Crônica de Rubem Braga/Viver sem inimigos/Filme antigo na TV/Ter uma pessoa especial/E que ela goste de você/Música de Tom com letra de Chico/Frango caipira em pensão do interior/Ouvir uma palavra amável/Ter uma surpresa agradável/Ver a Banda passar/Noite de lua cheia/Rever uma velha amizade/Ter fé em Deus/Não ter que ouvir a palavra não/Nem nunca, nem jamais e adeus./Rir como criança/Ouvir canto de passarinho./Sarar de resfriado/Escrever um poema de Amor/Que nunca será rasgado/Formar um par ideal/Tomar banho de cachoeira/Pegar um bronzeado legal/Aprender um nova canção/Esperar alguém na estação/Queijo com goiabada/Pôr-do-Sol na roça/Uma festa/Um violão/Uma seresta/Recordar um amor antigo/Ter um ombro sempre amigo/Bater palmas de alegria/Uma tarde amena/Calçar um velho chinelo/Sentar numa velha poltrona/Tocar violão para alguém/ Ouvir a chuva no telhado/Vinho branco/Bolero de Ravel/E muito carinho meu. (Autor Desconhecido) '' (Não consta nos livros: "Antologia Poética" de Carlos Drummond de Andrade, bem como em "CDA - Poesia Completa")
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"Conselhos de um velho apaixonado e/ou Amor Verdadeiro (Não consta no livro: CDA - Prosa Seleta) [carece de fontes, em Artigo etc.]
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Outros textos que SEM FONTES, isto é... até agora não foram encontrados em ARTIGO ou livros:
"FELIZ OLHAR NOVO"
O grande barato da vida é olhar para trás e sentir orgulho da sua história.
O ano que passou foi um ano cheio. Foi cheio de coisas boas e realizações, mas também cheio de problemas e desilusões. Normal.
Às vezes se espera demais das pessoas. Normal. A grana que não veio, o amigo que decepcionou, o amor machucou. Normal.
O próximo ano não vai ser diferente.
muda o século, o milênio muda, mas o homem é cheio de imperfeições, a natureza tem sua personalidade que nem sempre é a que a gente deseja, mas e aí?
O que eu desejo para todos nós é sabedoria!
Que todos consigamos perdoar...
Até porque, a gente, provavelmente, também já decepcionou alguém.
O nosso desejo não se realizou? Beleza, não estava na hora, não deveria ser a melhor coisa pra esse momento.
Chorar de dor, de solidão, de tristeza faz parte do ser humano. Não adianta lutar contra isso. Mas se a gente se entende e permite olhar o outro e o mundo com generosidade, as coisas ficam diferentes.
Desejo para todo mundo esse olhar especial.
O próximo ano pode ser o máximo, maravilhoso, lindo, espetacular... ou... pode ser puro orgulho! Depende de mim, de você!
Pode ser. E que seja!!!
(AD = Autor Desconhecido)
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No momento a mídia vem apresentando inúmeros equívocos... até agora, os membros da comunidade: Afinal, quem é o autor? (orkut) ainda não encontraram ao certo o autor do/s texto/s que vem sendo assinado/s como se fosse/m de Drummond, em:
(CDA) - Carlos Drummond de Andrade - Poesia Completa, RJ: 2007 Editora Nova Aguilar
(CDA) - Carlos Drummond de Andrade – Prosa Seleta, RJ: 2003 Editora Nova Aguilar
Vide outros textos SEM REFERENCIAL BIBLIOGRÁFICO: http://pt.wikiquote.org/wiki/Carlos_Drummond_de_Andrade
...bem como este outro texto está na mesma situação:
"Quem teve a idéia de cortar o tempo em fatias, a
que se deu o nome de ano,
foi um indivíduo genial.
Industrializou a esperança, fazendo-a funcionar no
limite da exaustão.
Doze meses dão para qualquer ser humano se cansar e
entregar os pontos.
Aí entra o milagre da renovação e tudo começa outra
vez, com outro
número e outra vontade de acreditar que daqui pra
diante vai ser diferente"
[nada consta p/ CDA, carece de fontes]
Nota: Vem sendo atribuído a Roberto Pompeu de Toledo,
em busca de dados bibliográficos.
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Uma receita de Ano Novo dada pelo poeta:
Receita de Ano Novo
Para você ganhar belíssimo Ano Novo
cor de arco-íris, ou da cor da sua paz,
Ano Novo sem comparação como todo o tempo já vivido
(mal vivido ou talvez sem sentido)
para você ganhar um ano
não apenas pintado de novo, remendado às carreiras,
mas novo nas sementinhas do vir-a-ser,
novo
até no coração das coisas menos percebidas
(a começar pelo seu interior)
novo espontâneo, que de tão perfeito nem se nota,
mas com ele se come, se passeia,
se ama, se compreende, se trabalha,
você não precisa beber champanha ou qualquer outra birita,
não precisa expedir nem receber mensagens
(planta recebe mensagens?
passa telegramas?).
Não precisa fazer lista de boas intenções
para arquivá-las na gaveta.
Não precisa chorar de arrependido
pelas besteiras consumadas
nem parvamente acreditar
que por decreto da esperança
a partir de janeiro as coisas mudem
e seja tudo claridade, recompensa,
justiça entre os homens e as nações,
liberdade com cheiro e gosto de pão matinal,
direitos respeitados, começando
pelo direito augusto de viver.
Para ganhar um ano-novo
que mereça este nome,
você, meu caro, tem de merecê-lo,
tem de fazê-lo de novo, eu sei que não é fácil,
mas tente, experimente, consciente.
É dentro de você que o Ano Novo
cochila e espera desde sempre.
CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE
Texto extraído do "Jornal do Brasil", Dezembro/1997.
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INCORRETO:"Entre a raiz e a flor há o tempo"
não é de Carlos Drummond de Andrade
CORRETO:
"Entre a raiz e a flor: o tempo [...]"
(Jorge de Lima, in: Livro de Sonetos)
Vide:
Entre a raiz e a flor: o tempo e o espaço,
e qualquer coisa além: a cor dos frutos,
a seiva estuante, as folhas imprecisas
e o ramo verde como um ser colaço.
Com o sol a pino há um súbito cansaço,
e o caule tomba sobre o solo de aço;
sobem formigas pelas hastes lisas,
descem insetos para o solo enxuto.
Então é necessário que as borrascas
venham cedo livrá-la da cobiça
que sobe e desce pelas suas cascas;
que entre raiz e flor há um breve traço:
o silêncio do lenho, ― quieta liça
entre a raiz e a flor, o tempo e o espaço.
Jorge de Lima
Poesia completa, org. Alexei Bueno.
RJ: Nova Fronteira, 2008, p.474
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"Troque uma frase de origem duvidosa por alguma que seja realmente do autor... mas para tanto se faz necessário acompanhar as linhas do autor (vide livros/entrevistas e artigos). REPASSE COM PESQUISA"
(rosangela_aliberti)
~ foto de origem desconhecida Google/O Globo ~