ARTE em MOVIMENTO
“De quantas gotas se farão as águas...” (Ernani Rosas)
Águas são artes em movimento, representam mudanças de rumo na produção literária, como nos poemas de Carmen Presotto:
“Vidráguas // Porque chove / Tudo é água / que empoça
e ambacia / Tudo é lágrima / que sublima, condensa
e lava // Porque choro / Chovo mais que o céu /
Transbordo-me / Parto palavras / Como se ossos
se liquefizessem... “
e de Lindolfo Bell:
“Águas entre águas // Em outras águas. / As chamadas
entreáguas. / Onde a dor liquefaz o homem e o derrama
em lágrima / sobre a própria face. //... Em águas /
vindas de inesperadas vindimas da constatação /
o homem se vê / no espelho das águas / e vê
mais do que o espelho pode ver.”
São poemas em transição, isto é, suas águas têm movimentos que renovam a palavra, não as repetem e têm como característica a descontinuidade, passando pelo processo de transformação, mas sempre conservando sua unidade.
Digo que vão além, o que significa que vão mais fundo, que são levados pelas correntes literárias mais avançadas. No entanto são transparentes ao significante como natureza poética.
Vejo nos poemas de Carmen e Lindolfo o compromisso para com a sensibilidade e, ao mesmo tempo, em textos despojados, revelam uma criação poética com grande questionamento no campo da estética e da linguagem.
A ponte entre eles são as águas pensadas como alvo, que contam através da poesia a trajetória dos momentos marcantes às margens da arte, como jogo de sons em que se pode sentir o desejo da liberdade, provocando modificações expressivas: concordo que há sempre movimentos de correntes subterrâneas – e subjacentes – que mantém o equilíbrio entre a percepção e a beleza das palavras, mesmo que saturadas de significados.
No movimento das águas temos o encontro cultural entre fontes da poesia, capazes de condensarem as aspirações com que as palavras ganham ressonância em nossa memória.
“As águas do tempo refletem as paisagens da alma.”
(Dora Ferreira da Silva)