O Aprendiz - Rizzardo da Camino - Maçonaria

A origem dos Graus Simbólicos é confusa, uma vez que inexiste um documento que a descreva; tudo é suposição, argumento e dedução.

A primeira fonte é a Lenda de Hiram Abif que, seguindo a organização administrativa imposta pelo Rei Salomão, dispunha de três classes de trabalhadores: Aprendizes, Companheiros e Mestres. O próprio Hiram era um Mestre Arquiteto.

O evento trágico envolvendo a morte de Hiram foi protagonizado por três Companheiros. As Sagradas Escrituras no 1° Livro dos Reis informam palidamente sobre a construção do Grande Templo e fala-se em "trabalhadores" e "Chefes Oficiais", sendo o nome "servo" destinado ao próprio Salomão e a Davi, como "Servo de Deus".

Não encontramos classificação hierárquica dos trabalhadores, apesar das diversas tarefas, como os talhadores de pedras, os carregadores e os artesãos. A divisão de Aprendizes, Companheiros e Mestres é notada tão somente na Lenda de Hiram Abif que, como lenda, não satisfaz e não preenche a lacuna; lenda é suposição baseada em algum aspecto histórico.

Augusto Franklin Ribeiro de Magalhães 1 nos relata:

"A primeira organização efetiva que se conhece data do ano 704 a.C. quando Numa Pompílio estabeleceu em Roma um sistema de vários colégios de artesãos, que possuía no ápice o Colégio de Arquitetos e englobava os gregos trazidos da África. Daí vieram os Colégios Romanos, similares às organizações gregas, de acordo com a legislação de Sólon. Tinham um regimento especial e celebravam suas reuniões (Logias) a portas fechadas, em locais próximos ao do trabalho.

Conforme Pompier, “seus componentes estavam divididos em três grupos: aprendizes, companheiros e mestres e se obrigavam por juramento ante as ferramentas e os utensílios de seus ofícios e profissões a ajudar-se mutuamente e a não revelar os segredos de suas agrupações aos estranhos”. Tinham o costume de admitir como membros de honra as pessoas que não pertenciam a seus ofícios, porém que eram consideradas úteis para os agrupamentos e se reconheciam entre si por sinais e palavras secretas. Suas assembléias eram presididas por mestres eleitos para período de cinco anos, assessorados por dois inspetores ou vigilantes. Dedicavam-se à arquitetura religiosa, civil, naval e hidráulica e também dirigiam as construções militares, executadas por soldados.

Esses Colégios perduraram até o ano 1200 (aproximadamente) para dar lugar às "Guildas". Sem maiores explicações, desses Colégios sacerdotes levaram a organização para os conventos, tomando a si o encargo de construção dos conventos e das catedrais. Se assim foi, pode-se afirmar que a incipiente Maçonaria passara a um regime religioso cuja influência e resquícios permanecem até hoje nos Rituais Maçônicos.

Os monges, da Idade Média eram denominados de "Caementerii", "Latomii", e também de "Massonerii".

1. Simbologia Maçônica, 1° volume.

O "sigilo" não dizia respeito à organização em si, mas à profissão (os segredos de cada profissão), em especial dos arquitetos que construíam as cúpulas, arcadas e alicerces suportando o peso da construção, o equilíbrio das traves e a dificultosa ramagem dos telhados. Os monges, movimentando-se, chegaram à Alemanha no século XII fundando a Corporação dos Steinmetzen que reuniu os "talhadores de pedra" com as Guildas. Evidentemente, a origem foram as construções romanas; os monges aperfeiçoaram a organização administrativa e a chefia tinha autoridade eclesiástica sobre os subordinados.

Pertencer a essas organizações constituía um privilégio, tento como meio de subsistência, como de proteção, pois aqueles "artífices" eram respeitados pelas autoridades e pelo povo; todos tinham uma auréola de misticismo formalizada pelo poder do clero.

Prossegue Magalhães: Essa associação, que passou a denominar-se de Confraternidade dos Canteiros de Estrasburgo, alcançou notoriedade. Erwin de Steinbach que a dirigiu, submeteu ao bispo de diocese os planos para a construção da catedral de Estrasburgo e, ao mesmo tempo em que iniciava as obras, deu aos seus operários uma organização que se tornou célebre em toda a Alemanha. Em

1275 foi realizada uma convenção histórica, talvez a primeira da Ordem. As Constituições de Estrasburgo, de 1459, as Ordenações de Torgau, de 1462, e o Livro dos Irmãos, de 1563, tornaram-se as Leis e Fundamentos que serviram de regra a essas corporações, até o aparecimento dos primeiros Sindicatos alemães. A entrada dos franceses em Estrasburgo, em 1681, e o Decreto da Dieta Imperial, de 1731, acabaram com a Fraternidade dos Steinmetzen.

As Corporações foram se ampliando, disseminando-se por toda a Europa, todas já desligadas dos mosteiros e tendo vida própria. As "Lojas" mantinham as tradições recebidas das Guildas anteriores e conservavam um Ritual rústico e simples orientado para manter o agrupamento coeso. Esse Ritual, quiçá, tinha apenas um Grau: o do Aprendiz, mas, na evolução natural, seguiu-se o de "Companheiro" para afinal, estabelecer-se o de "Mestre". Não há documento que registre esse "nascimento". O Ritual não passava de uma

"adaptação" da organização dos monges.

Os rituais atuais do Simbolismo Maçônico dão ao Grau de Aprendiz uma ênfase maior; é o Grau mais complexo e básico, sustentáculo dos Graus posteriores. O Grau de Aprendiz, entre nós, é o mais divulgado de todos, uma vez que nas centenas de Lojas que existem no País, os trabalhos são realizados no 1° Grau.

Praticamente, em cada um dos 27 Estados há uma Grande Loja e, com raras exceções, cada uma possui um Ritual diferenciado. Mesmo que essas diferenças sejam mínimas, não temos no Rito Escocês Antigo e Aceito, uma uniformidade ritualística. Já nos Graus Filosóficos, as diferenças são oriundas dos diversos Supremos Conselhos existentes; quanto às Grandes Lojas, os Rituais são idênticos, vez que, emitidos por um único

poder, o Supremo Conselho. No entanto, apesar das ligeiras diferenças, o cerne é mantido e nenhum Ritual desrespeita os Landmarks.

Nós, afirmamos que essas diferenças caracterizam a Loja e constituem a sua

personalidade. Os maçons mais antigos, como nós, por exemplo, já com cinquenta anos de Loja, enfrentamos algumas dificuldades quando visitamos Lojas (e a nossa própria), pois encontramos "inovações". As alterações que os Grãos-mestres introduzem, aparentemente inócuas, na realidade, às vezes ferem a liturgia e alteram o sentido da frase ritualística.

Frequentemente, os Rituais são renovados e assim perdem o que a tradição deveria conservar. "Eu aprendi assim", "no meu tempo se fazia assim", são afirmações muito comuns; a tendência é conservar a tradição, mesmo que esse contenha erros vernaculares ou interpretações desusadas. No entanto, as Lojas progridem e a Fraternidade cresce; talvez essas alterações sucessivas, porque feitas de boa-fé não prejudiquem tanto o organismo em si; os prejuízos revelam-se na parte

esotérica, que é a menos estudada.

A divisão simbólica em três Graus recorda a tríade: corpo, espírito e alma nas suas distintas fases - nascimento, vida e morte. São fases progressivas visando uma "construção" decorrendo daí que se faz necessário um aprendizado, uma comunicação e um mestrado; esse como garantia de perpetuação da construção; um edifício, após concluído, destina-se a alguma função e essa é permanente, sediada num complexo bem realizado e permanente.

A trilogia representa Deus, a Inteligência e a Virtude e essas fases influenciam a Vida. Um nascimento e um estágio de companheirismo seriam próprios da juventude; todavia, a Maçonaria inicia a jornada com o homem adulto, vendo nele o desenvolvimento completo; temos então, como se fosse um contra-senso, um adulto nascendo novamente. Uma "criança", ao mesmo tempo, adulta, recebendo o alimento próprio para a criança.

O simbolismo esconde sigilos, mistérios e esoterismos. O Iniciado é, simbolicamente, um recém-nascido e a vivência desse recém-nascido é realizada dentro da Loja e não no mundo profano; sai da sessão de dentro de um Templo, para a Sala dos Passos Perdidos, não o recém-nascido, mas um adulto renovado; a sua inteligência compreenderá a transformação e o campo experimental, no mundo profano será numa trajetória virtuosa.

A passagem pelo aprendizado objetiva a "União", o "Aperfeiçoamento" e a "Felicidade" da Humanidade. O "culto" exercitado dentro do Templo redunda em benefício do físico, do intelecto e da moral. Portanto, a ação do Aprendiz materializa-se beneficiando o próprio Corpo (o afastamento dos vícios) robustecendo o intelecto, pelos novos conhecimentos através do estudo e do conteúdo de um catecismo. O catecismo é o resumo da Doutrina, parte compreensível de imediato e parte dependente do raciocínio prolongado. A Maçonaria fornece os "princípios" estáticos; o simbolismo auxilia na interpretação e a prática contribui para a evolução. O mistério maçônico insurgirá das regras contidas nos princípios e se revelará paulatinamente para o indivíduo maçom.

Cada Grau (são 33) possui seus Mistérios; ultrapassado o Grau de Aprendiz, os mistérios dos Graus terão sido assimilados e ao final, chegado o maçom ao ápice da pirâmide, nenhum Mistério existirá. No entanto, as revelações serão individuais porque ficarão dependentes do estudo e da perseverança.

Como a solução dos mistérios é lenta e difícil, cada maçom conservará para si, e isso constituirá o "sigilo". Dentro dos Graus Simbólicos, os "mistérios maiores" exaurem-se vencido o 3° Grau, ou seja, o Mestrado.

O Grau do Aprendiz filosoficamente, vem consagrado ao desenvolvimento dos princípios fundamentais de Sociedade (Maçônica e profana) e ao ensinamento de suas leis e costumes compreendidos nas seguintes expressões: Deus, Beneficência e Fraternidade. Deus, porque constitui um princípio consagrado; o Maçom deve crer na existência de Deus, caracterizado historicamente através das Sagradas Escrituras. Beneficência, porque o coração do Maçom não pode permitir que um Irmão (membro de sociedade) padeça necessidades. Fraternidade, porque todos os homens são filhos de Deus, portanto, simbólica, histórica e filosoficamente, nossos Irmãos.

Ao Aprendiz cumpre esquadrejar a Pedra Bruta com trabalho, capacidade, persistência e fé. Sem preparar a Pedra Bruta, não poderá o Maçom entregar-se à construção do edifício moral, físico e espiritual; essas três fases resultam em construção de um edifício material e espiritual que é o corpo humano compreendendo a razão e a vida.

A saída do estado de imperfeição somente é realizada através do trabalho. Esse trabalho quanto ao Aprendiz é auxiliado pelos seus Irmãos de idade maior (2° e 3° Grau). O Maçom trabalha em um Templo onde se encontra a Loja que por sua vez mantém uma Oficina.

A INICIAÇÃO

Todas as instituições espiritualistas valem-se da Iniciação para o recebimento dos adeptos. Iniciação simbólica em um misto de participação efetiva e física a começar pela proposta. A rigor, em especial na América Latina, o candidato recebe um convite para participar da Instituição. Esse convite é precedido de uma rigorosa sindicância realizada sem o conhecimento do candidato.

Aqui, candidatura não significa "aspiração", mas "indicação" de um Mestre de um candidato que julga digno de participar de Família Maçônica do convívio fraterno. Grande é a responsabilidade do proponente, vez que, há riscos grave na admissão de um estranho. Estranho que ignora tudo a respeito da fraternidade e que se entrega à Iniciação de "olhos vendados"; trata-se de uma dupla aventura: para a Loja e para o candidato.

Quando uma Loja "enfraquece" e há necessidade de uma campanha para a obtenção de prosélitos, o risco é ainda maior, porque se faz necessário admitir quem possa contribuir para o fortalecimento. A seleção deve ser severa; não é difícil, pinçar dentre milhares de profanos, aquele que deva preencher um lugar vago. Não basta que um Mestre proponha um amigo seu ou um parente; ele deve colocar, acima de sentimentos, o interesse da Loja.

Em toda parte nota-se um fenômeno inexplicável: o rodízio de membros que figuram no quadro, mas que não assistem aos trabalhos. Deve-se alertar o proposto, logo após o cerimonial iniciático, que ele "jurou", isto é, "assumiu" o compromisso de assistir a Loja o que vale dizer, "assistir aos seus Irmãos".

Todo aquele que deixa de cumprir os compromissos, na realidade passa a ser um "perjuro", pois, a sua ausência, enfraquecerá a Loja. Todo candidato passa por uma rigorosa sindicância que objetiva o conhecimento da personalidade, seu modo de viver. Aquele que não é cumpridor dos deveres profanos, para com a família, o seu trabalho e a sociedade, é evidente que não será útil à Instituição e resultará em um peso morto. Logo, o segredo do êxito está na sindicância. Essa tem sido "superficial"; trata-se de uma falha gritante do Mestre sindicante que age inconscientemente porque sabe que não sofrerá qualquer punição.

A responsabilidade deveria ser apurada e exigir do proponente e dos sindicantes a tarefa de orientar o Neófito, acompanhar seus passos, incentivá-lo e, sobretudo, instruí-lo. O Neófito passa a ser um "discípulo" do Mestre que o propôs.

Na prática e na realidade, porém, encontramos Lojas que possuem um grande quadro de Mestres, mas... sem discípulos, o que é um contra-senso e uma falha. O nome do proponente é mantido em sigilo; as propostas escritas não são registradas e ninguém sabe quem propõe, o que constitui uma falha grave, vez que, não há possibilidade de exigir do proponente que acompanhe o seu proposto. Na realidade, caso se mantenha em sigilo o nome do proponente, deveria ser dado ao Neófito um Mestre, seja indicado, seja aceito ou voluntário que o deseje ser. Parece um problema simples e superficial; no entanto, constitui a raiz da eficiência de uma Loja. Um Venerável Mestre que se preocupe com a permanência em Loja dos Neófitos poderá exercitar o seu mandato com eficiência.

Durante o aprendizado, poder-se-ia adotar uma "caderneta" onde a Secretaria anotaria a presença, caderneta em poder do Aprendiz e esse só poderia ter acesso ao Companheirismo, provando sua presença em Loja. Apesar de milenar, a Maçonaria, com sua experiência, ainda não possui instrumentos para incutir aos seus membros o dever de frequência.

Concluídas as sindicâncias e aprovado o candidato, esse será procurado e convidado a ingressar na Ordem. Raros são os casos de negativa. E por quê? Toda vez que o nome de um candidato for pronunciado em Loja, o candidato em seu subconsciente é tocado e ele recebe os chamamentos que o despertam interessando-se quanto ao aceitamento do convite. E uma predisposição criada pelas "mensagens" esotéricas.

É sabido que a palavra sonora transmite-se em ondas que ocupam todos os espaços e que se alargam de forma permanente. Os sons permanecem "materialmente" e atingem os visados; é a parte mística da Liturgia

Maçônica. É evidente que o candidato inquirirá a comissão que o visita para o convite a respeito do que seja a Maçonaria. Posto a par, embora, resumidamente, comparece no local e hora designados, onde tem início a cerimônia. O Candidato passa pelo despojamento, dos metais, de tudo o que porta consigo, permanecendo descalço, semi-despojado da vestimenta e calçando grosseiras alpargatas.

"Perde" tudo o que porta, até a visão, pois os olhos lhe são vendados e com essa cegueira momentânea, os outros sentidos lhe são aguçados. É conduzido à Câmara de Reflexão. A venda lhe é retirada e na penumbra, vislumbra o recinto; uma mesa tosca, alguns papéis, caneta e tinteiro, inscrições nas paredes, alguns objetos estranhos, uma ampulheta medindo o tempo; silêncio absoluto; um odor de mofo; um crânio, algumas tíbias, símbolos mortuários. Teias de aranha dão ao ambiente caráter lúgubre.

Qual a reação do candidato? De temor, de curiosidade? A resposta, oportunamente, é solicitada e o candidato, não sabendo exatamente do porquê daquela passagem, titubeia e dá uma resposta vaga.

Na Iniciação, a permanência na Câmara de Reflexão (é denominada também de Câmara de Reflexões, no plural, vez que são sucessivas reflexões que o candidato é chamado a executar) pode ser considerada como a parte principal, pois a preparação psicológica não tem a interferência de qualquer pessoa; trata-se de uma auto-reflexão que ocorre sem qualquer orientação; o candidato é chamado a refletir isoladamente.

Qual a reação para quem se defronta com símbolos mortuários, com inscrições de admoestação severa? Certamente, conduzirá a uma reflexão inusitada. Após uma Iniciação, conversando com o Neófito, esse disse que jamais lhe ocorreria pensar sobre a morte na forma como foi solicitado; é aterrorizante, nos disse. Ao contrário do que se poderia pensar, não é a Loja que prepara o candidato para a Iniciação; é ele que se auto prepara, que psicologicamente espera o pior e somente sua fibra de homem é que consegue vencer o temor crescente. Essas preliminares são relevantes: se não forem bem executadas, quiçá a Iniciação não surta o efeito desejado. Quando assistimos a um funeral de algum amigo e contemplamos na câmara mortuária aquele corpo inerte, rosto amarelecido, traços rígidos, é que nos ocorre que algum dia tocará a nós e isso conduz a uma reflexão mórbida, triste e nervosa; porém, quando a morte é sugerida através de um sem número de símbolos, e nós nos sentimos isolados do mundo, reclusos em um lugar insólito, a reflexão torna-se mais profunda e a antecipação de nossa própria morte nos acabrunha. Com esse sentimento é que compareceremos às "provas".

AS PROVAS

Uma prova (ou provação) é realizada para medir a resistência nervosa, os sentimentos e o destemor do que será provado. Na evidência de que essas provas são meramente simbólicas, é que o candidato as enfrenta, pois, na atualidade, jamais alguém seria agredido e correria riscos maiores. Na Idade Média essas provas, certamente, causavam real temor porque nas tidas "Sociedades Secretas", o simbolismo era duro e o candidato, temendo o pior, atuaria de forma natural para a época. Partindo desse fato, nenhum candidato, mesmo após a estada na Câmara de Reflexões,

temeria que lhe ocorresse um mal real. No entanto, existem casos em que o candidato, nervosamente, pede para "desistir" da Iniciação tão impressionado fica e tão temeroso que lhe falta a coragem para prosseguir.

Uma sindicância bem realizada, porém, pode revelar o estado de espírito do candidato; se é pessoa impressionável, nervosa o proponente deverá ter com o candidato uma reunião onde será esclarecido que a Iniciação é simbólica.

Esses casos são raros, mas podem ocorrer. Precede as provas propriamente ditas, um questionário, ainda, na porta de entrada sobre o nome, a idade, lugar de nascimento, a profissão e o domicílio. É evidente que os presentes sabem esses detalhes, mas como se trata do primeiro contato com o candidato, ele é quem deve prestar as informações solicitadas. Até aqui, o nome do candidato sempre foi pronunciado dentro da Oficina; agora, esse nome é referido de "fora para dentro", ou seja, no Átrio e vale como um consenso. E a primeira oportunidade que o candidato tem de, diante de uma assembleia, confirmar que deseja ingressar na Ordem.

A Oficina deseja saber, não apenas o nome, mas a idade, o lugar de nascimento a profissão e o domicílio para "identificar" o candidato. Por ter sido o candidato declarado livre e de bons costumes, ele responde com toda liberdade e essas respostas lhe dão o direito de adentrar no Templo.

O Guarda do Templo coloca sua Espada sobre o coração do candidato que, apesar de vendado, percebe e reage com um leve tremor respondendo que a impressão que tem é de uma arma apontada em seu peito. O Venerável esclarece que é uma Espada, símbolo sempre pronto a punir os "perjuros", os traidores e inquire: "O que pedis?"

Certos candidatos, mantendo-se tranquilos, respondem que desejam ingressar na Maçonaria, porém, a maioria deixa de responder. O Venerável, pausadamente, pergunta se "É de espontânea vontade, com plena liberdade e sem nenhuma sugestão que pretendeis ingressar na Maçonaria?" E deixado o candidato à vontade aguardando-se a resposta que é afirmativa. Pergunta, ainda, o Venerável: "Tendes alguma noção a respeito da Maçonaria?"

O candidato então responde a respeito do que entende e obviamente, a resposta será omissa e falha, completando-a, então, o Venerável dizendo: "A Maçonaria é uma Instituição que tem o seu princípio na razão sendo, portanto, universal; possui uma origem própria que não se confunde com qualquer religião, porque deixa a cada um a liberdade de crença e de qualquer dogma religioso e não impõe limite algum sobre a procura da liberdade".

Essa primeira prova demonstrará o equilíbrio emocional do candidato que já se acalma, face aos primeiros esclarecimentos obtidos. O candidato é colocado sentado, sobre um banco e é submetido, a outra série de questionamentos:

O Venerável pergunta: "Se vos ocorrer um grave perigo, em quem depositareis vossa confiança?" O candidato responde: "Em Deus." A segunda pergunta: "Que entendeis por liberdade?" Terceira pergunta: "Que entendeis por moral?" Quarta pergunta: "Que entendeis por virtude?" Quinta pergunta: "Que entendeis por vício?" A essas perguntas o candidato responde timidamente e em breves palavras, não totalmente do agrado do Venerável, que as complementa. Sexta pergunta: "Persistis em ingressar na Maçonaria?"

Se a resposta for negativa, o candidato e conduzido, de imediato para fora do Templo e na Sala dos Passos Perdidos lhe é informado que pode retirar-se, sendo-lhe pedido que mantenha discrição sobre aquilo de que participou e que presenciou. Porém, essas desistências são raras. Sétima pergunta: "Estais disposto a submeter-vos a certas provas que reputamos necessárias?"

Com a anuência, é solicitado a prestar um juramento diante da Taça Sagrada.

Esta prova constitui parte sigilosa que não se pode elucidar; o candidato vence a prova e lhe é feita a sétima pergunta: "Persistis a enfrentar provas?" O Experto toma conta do candidato e o submete à primeira prova. A primeira prova é denominada "da terra" e constitui a "primeira viagem". O Venerável inquire o candidato: "Que vos sugeriu essa primeira viagem?" Como a resposta não será satisfatória, o Venerável a complementa: "A viagem que empreendestes simboliza que completastes o emblema da vida humana. O rumor que percebestes representa as paixões que agitam a vida e os obstáculos que encontrastes, as dificuldades que o homem encontra e não pode vencer a não ser, conquistando aquela energia moral que permita lutar contra a má fortuna e graças à ajuda encontrada junto aos seus semelhantes”.

O Venerável determina seja procedida a segunda viagem, denominada "da água". Uma vez concluída, o Venerável esclarece: "Encontrastes nesta segunda viagem menos dificuldades e menos obstáculos; esses desaparecem quando o homem persiste a caminhar sobre o sendeiro da virtude; todavia, ainda não está liberto dos combates."

O Venerável faz ao candidato uma série de perguntas: informai-nos sobre o lado bom de vosso comportamento; deixai de lado a falsa modéstia e respondei: "Durante o curso de vossa existência profana destes alguma prova de dignidade humana? De grandeza de ânimo e de desinteresse? Tendes praticado a justiça? A beneficência? A prudência?" O candidato responde titubeando e com dificuldade. Então, o Venerável ordena que o candidato seja submetido à terceira viagem. Essa é denominada de "prova de fogo". O candidato passa por uma prova de fogo e após, diz o Venerável: "Candidato, as chamas completaram a terceira viagem; possa o vosso coração inflamar-se de amor para com vossos semelhantes, possa a caridade presidir vosso futuro, às vossas palavras, aos vossos atos. Não esqueçais jamais o preceito: 'Não fazer aos outros aquilo que não desejais fosse feito a vós mesmo'; e aprender o outro conceito maçônico 'Faze aos outros todo o bem que desejares que os outros vos fizessem'.

Candidato: a Ordem Maçônica na qual pedis ser admitido poderá, talvez, algum dia pedir-vos que derrameis vosso sangue pela sua defesa e pela dos vossos irmãos; se vos sentis apto a fazer tal sacrifício devereis firmar o juramento que ides prestar, com vosso próprio sangue. Consentis nisso?" A resposta virá afirmativa. O candidato, então, passará pela prova do sangue, obviamente no sentido simbólico. Após, ainda vendado, o candidato presta o juramento maçônico convencional. Enfim, prestado o juramento, é "dada a luz ao candidato" com a retirada da venda. Recebe as primeiras instruções. O Orador pronuncia um discurso de boas-vindas e na Sala dos Passos Perdidos, agora já como Neófito, o candidato é cumprimentado por todos.

As provas compreendem os quatro elementos da Natureza - a terra (estada na Câmara de reflexão), o ar (o combate com espadas), a água e o fogo.

O candidato, agora Neófito, recebe as primeiras instruções. São-lhe ensinados os "passos", as palavras de "passe" e "sagrada"; os sinais, a postura, o "toque" e como deve dirigir-se aos seus Irmãos e Oficiais. Esses ensinamentos constituem parte sigilosa que o Neófito não poderá comunicar a nenhum profano. A princípio, são de difícil execução, mas com a prática passam a ser compreensíveis e até corriqueiros. Essa parte deve ser desempenhada com "perfeição"; nota-se nas Lojas certo desleixo, em especial quanto às posturas - o Maçom não deve ignorar que essa arte contém misticismo e esoterismo. Contudo, observando-se o comportamento posicionai dos Maçons em Loja constata-se que individualmente, essa parte passa a apresentar-se com características individuais; não há aquela uniformidade desejada. A disciplina nesse sentido deveria ser rigorosa, mas infelizmente isso não ocorre.

O Neófito recebe um "nome simbólico" (nem todas as Lojas usam) com o qual assina o Livro de Presença (ne varietur). O novel nome deve ser bem escolhido obedecendo aos preceitos da numerologia, vez que, o nome pode resultar afortunado ou aziago. O valor dos números é considerado, pois, faz parte das Instruções. A idade do Neófito passa a ser de três anos. Esse número é altamente simbólico e aparentemente colide com a Iniciação, vez que o candidato, após a estada na Câmara de Reflexão, surge como sendo recém-nascido; seria incongruente que um recém-nascido passe a ter três anos de idade. A criança com essa idade, cientificamente, já possui formação completa e está apta para o crescimento; o passar dos anos significa frequentar uma escola - a escola da vida, onde surge o aperfeiçoamento.

Esse "disparate" não é considerado, vez que, tudo é simbólico e para o Maçom, tempo e espaço não existem. Essa idade de três anos, o Aprendiz manterá durante o seu aprendizado mesmo que perdure mais de um ano; a idade maçônica dá saltos e o Aprendiz, quando elevado a Companheiro, terá outra idade, ou seja, dois anos a mais; e ao atingir o Mestrado, terá "sete anos e mais". Portanto, a idade madura será de sete anos, evidentemente simbólica; o setenário abre as portas para a velhice.

Os quatro elementos existentes e cultivados pelos antigos maçons são reavivados e representados pela Câmara de Reflexão como sendo a Terra, Câmara onde não penetra o Sol e a escuridão conduz à reflexão, pois a ausência da vida simbolizada pelo ocaso do Sol traz solidão e tristeza; o profano ora candidato e recipiendário sente que é constrangido a viver na Terra, como sendo sua última morada. A mitologia paga tinha a Terra como uma deusa, filha do Caos, esposa de Urano e mãe do Oceano. A prova da Terra desperta na memória do candidato as suas tribulações, os momentos de enfermidade, de crise, de agonia, do peso que suporta para viver; a experiência dessa vivência na Terra, finda com a Iniciação, pois a Iniciação é que lhe trará a Luz. A segunda prova surge da primeira viagem, a do Ar; Galileu Galilei foi o primeiro a descobrir que o ar tinha peso e Evangelista Torricelli comprovou; o ar é elemento indispensável para toda a Natureza. A terceira prova é a viagem da Água, que é o elemento indispensável à vida, da qual os oceanos constituem os depósitos. Na atmosfera está o grande manancial que umedece a Terra com o constante orvalho noturno, bênção dos Céus, como sugere o Salmo 133. A quarta prova, ou seja, a terceira viagem tem como centro o fogo, considerado potência universal e inteligente, fonte de toda criação. Segundo Lavoisier, o fogo não seria apenas um elemento da Natureza, mas o complexo efeito de combinações e de movimentos; o fogo contém dois elementos: o calor e a luz.

O Neófito recebe, após a Iniciação, um Avental e dois pares de Luvas brancas. O Avental é sua insígnia; ele não poderá adentrar em Templo sem o seu Avental que representa o instrumento protetor do trabalhador; o Avental protege da dureza dos elementos trabalhados, em especial das arestas que saltam da Pedra Bruta, para uma proteção total, o Aprendiz ergue a Abeta do Avental; evita que seu corpo se molhe na umidade e com a sujeira deixada pelo manuseio dos materiais de construção.

As Luvas são protetores das mãos; o segundo par recebido é destinado à mulher que o Maçom mais estima, fazendo dela a companheira nas tarefas de construção; essas luvas não podem ser manchadas pelo vício e pelo pecado, mas devem permanecer puras, pois, o trabalho será honesto e destinado ao sustento seu e da Família. Além do Avental e das Luvas e das Instruções, o Aprendiz recebe do Venerável Mestre, dentro do Templo, como complementação, o Tríplice Abraço dado de forma maçônica.

Esse abraço é o sinal público de que a Loja recebe com afeto fraterno o novel membro. No mundo profano, quando um Maçom encontra outro, são trocados esses abraços recordando isso a Iniciação e a união existente e perene.

INSTRUÇÕES DO PRIMEIRO GRAU 1

A Maçonaria é um liame que une; nenhuma instituição humana, laica ou religiosa apresentasse tão propícia para a união universal dos homens, porque ela esforça-se a colocar em evidência os pontos concordantes de todas as opiniões e de superar as divergências que, às vezes, são mais aparentes que reais que geram as divergências e a discórdia.

Adorar a Deus, fazer o bem aos semelhantes, combater tudo o quê prejudica e trabalhar para a própria perfeição, tal é o escopo da Maçonaria. O culto à Divindade concilia-se com todas as opiniões religiosas porque deixa a cada um os próprios dogmas e a própria fé e contenta-se de expressar, no mais simples linguajar, ao Grande Arquiteto do Universo, os próprios sentimentos de amor e respeito. Fazer o bem aos semelhantes, significa empregar todo o esforço para lhes ser útil. O prejudicial que a Maçonaria esforça-se a combater são, sobretudo, aqueles que tendem a separar os homens com as divisões exclusivas vindas da diversidade das suas crenças, crenças que a

Maçonaria respeita, quando professadas de boa-fé. Enfim, trabalhar para a nossa perfeição significa iluminar o nosso Espírito à luz da ciência e fortificar a nossa vontade contra as viciadas paixões.

O Maçom é um homem livre e de bons costumes e é, de modo igual, amigo dos ricos e dos pobres, se esses forem virtuosos. As duas primeiras qualidades estão intimamente ligadas entre si, porque é, precisamente, na própria boa moralidade que o Maçom encontra a verdadeira liberdade, ou seja, a libertação dos danos e dos vícios mundanos que paralisam o pensamento e aprisionam a vontade. O infortúnio da sorte não influencia sobre sua amizade, porque ele a mede, não sobre a riqueza, mas sobre a virtude.

1. Salvadore Farina

Os Maçons reúnem-se em Loja para aprender a vencer as suas paixões, a submeter a sua vontade e a fazer novos progressos na Maçonaria. A Maçonaria não se esforça em sufocar as paixões o que resultaria quase impossível, porém esforça-se em imprimir a isso, uma direção menos danosa e de reter o ímpeto perigoso; é nesse sentido que ela submete a vontade dos seus adeptos e lhe facilita o progresso maçônico. A Loja é o local no qual os Maçons se reúnem para cumprir os seus trabalhos. No sentido literário, a Loja é a Oficina de trabalho dos Maçons, ou seja, o local onde se dá e se recebe a Palavra que os gregos denominavam de "Logos"; hoje, esse "Logos" não é segredo, nem mesmo para os profanos.

A Loja é voltada para o Oriente porque a Maçonaria, como primeiro raio de Sol, surgiu dessa parte. Dionísio da Trácia e Vitrúvio nos informam que os Templos dos antigos eram voltados para o Oriente; também hoje, vários templos cristãos têm a mesma orientação. O comprimento de Loja vai do Oriente para o Ocidente, a sua largura, do meio-dia à meia noite e sua altura do zênite ao nadir, ou seja, da superfície da Terra ao infinito. Essas dimensões indicam que a Maçonaria é universal, não somente por que ela dirige-se a todos os homens, mas, sobretudo pela universalidade dos seus princípios e de suas obras.

A Loja é sustentada por três grandes Colunas: Sabedoria para criar, Força para seguir e Beleza para ornamentar. Esse três termos foram sempre usados para indicar a Perfeição. Essas Colunas que sustentam a Maçonaria são: a Sabedoria que a fundou e preside as suas deliberações; a Força moral que pela só razão conduz os seus adeptos a executar as suas prescrições; a Beleza dos seus resultados que consistem em unir, iluminar e tornar felizes todos os membros de Família Maçônica. O Recipiendário é introduzido na Loja, após ter batido à porta por três vezes; esses três golpes significam; pedi e recebereis, procurai e encontrareis; batei e vos será aberta.

A primeira máxima lembra que o Maçom deve estar sempre pronto a acolher um pedido baseado na Justiça; a segunda, que ele deve usar da maior perseverança na procura de Verdade para conseguir encontrá-la e a terceira, que o seu coração deve estar, sempre, aberto aos Irmãos que peçam. O Neófito (em qualquer Loja de Aprendizes) é denominado membro ativo da Grande Loja de São João. Isso comprova que a denominação de São João é geral e aplicável a todas as Lojas. Porém, de onde vem e qual o significado de tal frase? Segundo a tradição, vem do tempo das Cruzadas, dos Cavaleiros Maçons que se reuniram aos Cavaleiros de São João de Jerusalém, mais conhecidos como Cavaleiros Templários, para combater os infiéis; o nome de São João teria sido uma palavra de ordem proposta pelos Templários e, por esse motivo, toda Loja Maçônica passou a denominar-se de Loja de São João.

Essa narrativa, em certo aspecto histórica, serve para esclarecer o porquê da adoção do nome de São João de parte das Lojas Maçônicas, numa época em que os Maçons perseguidos tinham a necessidade de zelar os seus mistérios sob o manto de religião, na época dominante; no entanto, não seria uma justificativa para mantê-la até nossos dias. A Maçonaria, que admite todas as religiões, não divide os homens em fiéis e infiéis; ela não aceitaria a missão de combater os pretensos infiéis. Mas, quanto à origem etimológica de palavra João, esse significaria: "dia". Em efeito, o substantivo João, junto aos persas Jeha, os hebreus Johan e junto aos gregos Joannes tem por radical o hebreu Jom dia, de onde os romanos extraíram Janus, nome sob o qual adoravam o Sol. Os Maçons em muitas circunstâncias e, particularmente nessa, usaram a palavra João para representara alegoricamente o Sol. Logo, o Aprendiz cria o Neófito membro ativo da Loja do Sol e essa nova fórmula comporta vários significados simbólicos. Porquanto o Sol tem por Loja, o mundo inteiro, o homem não pode vir a ser, realmente membro ativo de tal Loja, ou seja, do Mundo, que através do conhecimento que conquista através de Iniciação. Cada Oficina Maçônica denomina-se Loja do Sol porque constitui como um fulgor da Maçonaria que ilumina o Mundo moral, como o Sol clareia o físico. Por fim, o Maçom, para merecer o título de membro ativo da Loja do Sol, amigo que é de Luz, deve consagrar todos os seus esforços, antes iluminando a si mesmo e após, os seus semelhantes, dissipando com toda a atividade de que é capaz, as trevas acumuladas pela ignorância, a hipocrisia e a ambição.

Os trabalhos dos Aprendizes abrem-se ao "meio-dia" e encerram-se à "meia-noite". Ragon afirma que essa proposição possui referência com os trabalhos de Zoroastro que os exercitava em igual tempo. Porém, sob o aspecto moral esse espaço fictício de doze horas, representando o tempo maior durante o qual o Sol brilha diariamente sobre os diversos pontos do planeta, lembra os Maçons que devem com os seus trabalhos expandir sobre o Mundo a maior Luz moral para serem dignos de merecer o título de "Filhos da Verdadeira Luz".

A palavra sagrada "B..." significa "a minha força está em Deus", que significa que a principal força moral da Maçonaria repousa sobre a crença divina.

O Aprendiz possui três anos. Segundo Ragon, isso teria relação com os antigos mistérios aos quais os aprendizes só eram admitidos três anos após a apresentação. Segundo Vassal, tal frase encontraria a sua origem nos

mistérios egípcios nos quais o iniciado no primeiro Grau, corresponderia ao nosso Aprendiz, ficaria três anos afastado do mundo profano.

No entanto, como isso não ocorre ao Aprendiz moderno, torna-se impossível encontrar uma explicação quanto a sua idade; faz-se necessário encontrar outro significado. No sentido simbólico, a idade de três anos é atribuída ao novo Iniciado para indicar que ele conhece o valor alegórico dos números, sendo o três consagrado ao Aprendiz. Em razão disso nesse Grau, a idade, a marcha, as viagens, os sinais, os toques, os abraços, a bateria e as aclamações contam-se por três. A marcha do Aprendiz é com três passos que formam um ângulo reto.

Cada passo indica a retidão do caminho que o Maçom deve seguir na jornada da vida; e todos os três unidos indicam que essa reta deve ser conduzida até o Terceiro Grau, ou seja, ao "superlativo".

O sinal do Grau compõe-se de três movimentos, sendo que o da "ordem" será o primeiro. Esses três movimentos reunidos oferecem uma forma que lembra todas as imagens simbólicas do Triângulo. O sinal de ordem que por si só representa um ângulo reto, é símbolo da postura que deve presidir o discurso do Maçom. O toque, que possui, também, três movimentos, sendo que dois precipitados e um lento, simbolizam a atividade e a continuidade com os quais deve ser orientado o trabalho. A bateria por três representa a atenção, o zelo e a perseverança necessários para cumprir a obra maçônica. O tríplice abraço é a imagem do afeto fraterno que une todos os Maçons.

Por fim, a aclamação, também essa por três, exprime os votos formulados aos Maçons por cada irmão, por cada Loja em particular e para a prosperidade maçônica em geral. O que devemos entender pelas palavras: "Três governam a Loja"? Se, no sentido literal, esses são o Venerável e os dois vigilantes, devemos recordar que no sentido simbólico, o número três representa em especial a Deus, Inteligência e Virtude. Por conseguinte, essa proposição significa que a loja, ou melhor, a Maçonaria tem por Mestre, somente a Deus, por guia nos trabalhos, a Inteligência e por finalidade de suas ações, a Virtude.

A CADEIA DE UNIÃO

Após o encerramento dos trabalhos, ainda em Templo, forma-se a Cadeia de União; compõe-se colocando todos os presentes em círculo, sendo que os Oficiais defronte aos locais que ocupavam, o Venerável Mestre voltado com as costas para o Oriente e o Mestre de Cerimônias, no lado oposto dando as costas à Porta de Entrada. A formação será em círculo, procurando-se, quando possível, colocar o Altar no centro, como Ponto Central de Loja.

Cada Loja caracteriza a sua Cadeia de União, observadas, porém, certas regras gerais; assim, formado o Círculo, os Irmãos que são os seus Elos, permanecem eretos com os braços caídos. O Venerável Mestre comanda que os pés se unam; cada um une os calcanhares e abre os pés em esquadria, tocando as pontas dos pés dos Irmãos que estão ao lado. Forma-se, assim, um círculo unindo os Elos, dando uma base sólida posta no pavimento: é o

contato com a matéria. O Venerável observa se todos se posicionam corretamente. Assim, as extremidades ficam unidas equilibrando o corpo.

A seguir, cruzam-se os braços, sendo que o braço direito é colocado sob o esquerdo; dão-se as mãos. As segundas extremidades, então, unem-se; a posição obriga o aperto das mãos, bem como, o aperto do plexo solar, controlando assim, a respiração. Depois de observado que os braços estão harmoniosamente cruzados, o Venerável concita os Irmãos a que respirem uniformemente, com rápido exercício de inspiração e expiração; quando a

respiração for uniforme, o ar dentro do círculo, ou seja o Prana (ou, no feminino, a Prana) contido pelas paredes redondas formadas pelos Elos, circula nos pulmões de todos, numa troca constante de energias. Os Elos estarão, então, unidos pelos pés, pelos braços e mãos e pela respiração.

Falta a união das mentes. Há um fundo musical apropriado; um incenso é aceso; silêncio. O Venerável Mestre avisa que circulará a Palavra Semestral transmitida de ouvido a ouvido, sussurrando-a partindo "a direita e da esquerda até chegar correta ao Mestre de Cerimônias que com um aceno dirá que chegou Justa e Perfeita. Caso, pelo caminho, a Palavra resultar errada, então o Mestre de Cerimônias dirá em voz alta que a Palavra chegou incorretamente; o Venerável Mestre repetirá, então, a operação. A Palavra Semestral é distribuída como garantia de frequência, dando a regularidade maçônica.

Essa Palavra une as mentes e assim, todo o organismo humano ficará unido; todo Elo se unirá aos demais Elos; haverá um só pensamento; uma só mecânica. A Palavra Semestral provém da Autoridade Superior, ou seja, do Grão-Mestre. O Grão-Mestre, recolhido ao seu gabinete, em meditação, busca uma Palavra que possa servir de contato entre ele e a sua Jurisdição. Não se trata de uma Palavra comum surgida de um primeiro pensamento, mas uma Palavra gerada pelo Espírito que possa representar a Autoridade do Grão-Mestre e que transmitida pelas diversas Cadeias de União, possa na realidade desempenhar o papel de União.

No passado, a Maçonaria era frágil e restrita a poucas Lojas; com o seu desenvolvimento é que foi criado esse "lia-me". O Grão-Mestre não pode estar presente em todas as Lojas; portanto, a sua presença será realizada através da Palavra Semestral que simboliza a sua presença. Certas Lojas transmitem a Palavra Semestral apenas de seis em seis meses; a rigor, bastaria; no entanto, a Loja deseja permanentemente a presença de seu Grão-Mestre. Essa Palavra Semestral equivale ao "Mantra" hindu; quando distribuída, ela une os

pensamentos, de modo que cada Elo passa a ter um só pensamento que será o pensamento de seu Grão-Mestre.

Uma vez unido dessa forma, o pensamento, durante a formação de Cadeia de União, tudo o que for "pensado", será uniforme e distribuído entre os Elos e assim, surgirá uma Força de Pensamento capaz de fortalecer o Quadro e de distribuir benesses. O Venerável Mestre ordena que os Irmãos cerrem as pálpebras e o acompanhem na prece que elevará a Deus. Essa Prece, então, será uníssona; todos estarão em comunhão com o Criador. Na Prece haverá oportunidade de súplicas, de agradecimentos e de louvor. Não há

necessidade de que seja prolongada; bastam algumas palavras, simples e fervorosas. O campo de energia que se forma oriundo de Cadeia, alcança a todos os Maçons; a palavra é composta de sons e esses, como sabido, extravasam o recinto da Loja e em ondas, alcançam todos aqueles que comungam a mesma Doutrina Maçônica. Sabemos que pelo fenômeno do fuso horário, em cada fração de minutos uma Loja, pelo menos, reúne-se na Terra; assim, a cada Cadeia de União formada, todos os Maçons são alcançados e a "Corrente", gigantesca, portanto, é permanente; todos os Maçons estarão protegidos e serão alcançados pelas vibrações emanadas dessas Cadeias espargidas por toda parte. E os Mantras? As Palavras Semestrais emitidas por todos os Grãos-Mestres da Terra, não causarão confusões? Em absoluto, porque a Palavra Semestral é sussurrada de ouvido a ouvido e o sussurro não forma ondas sonoras. Logo, a Palavra Semestral que atua, será a exclusiva emanada por uma só autoridade, dentro de uma Loja. E frequente e apropriado, que o Venerável peça aos Elos um pensamento positivo em favor de determinado Irmão que se encontra em dificuldades, em especial, de enfermidade. Toda Cadeia, emite a vibração necessária para o restabelecimento do Elo necessitado. Essas vibrações alcançam não só o destinatário, mas a toda Fraternidade Universal. Há uma permuta de vibrações entre as Cadeias de União reunidas; são milhões de pensamentos positivos e benéficos a fortalecer a irmandade. E dito, quando falece um Maçom, que ele seguiu para o Oriente Eterno; a Maçonaria, como princípio, crê em Deus e na Vida Futura. Sabemos que os que vivem neste Mundo, têm uma vida palidamente semelhante à Vida do Além. Trata-se de um mistério que, ainda, permanece oculto sob um denso véu, mas que, pouco, conseguimos penetrar; a Fraternidade Universal abrange a Terra e o Cosmos e - por que não? - nesse Oriente Eterno, os maçons que partiram, não fazem parte de uma Maçonaria Esotérica, onde também são formadas as Cadeias de União?

Esse conhecimento espiritual é acanhado; pouco vislumbramos e pouco sabemos, porém, a nossa ignorância não significa que não haja a possibilidade de uma vida Maçônica do além. São locubrações místicas que ficam na dependência de maior ou menor desenvolvimento espiritual. A Cadeia de União possui uma formação "excêntrica" com a união das extremidades e das mentes; por que essa formação? Por que os pedidos? Por que a súplica?

Todos os presentes Maçons participam da Cadeia de União; é um ato obrigatório; todos os Maçons unem-se e fundem os seus pensamentos em um só. Imaginar que milhões de Maçons assim agem, resulta em aceitarmos que grandes energias são formadas e distribuídas. Alguns Maçons não aceitam esse "Esoterismo", porém, mesmo assim, participam da Cadeia de União; são "arrastados" e queiram ou não, são envolvidos no poder do "Mantra" e participam do "turbilhão" espiritual, contribuindo com a sua, particular, energia; dão de si, creiam ou não na potencialidade da Corrente Fraterna. No término da Cadeia, o Venerável concita ao cumprimento fraternal e cada Elo augura um ao outro, "Muita Saúde, Força e União". Desfaz-se a Cadeia, lentamente; cada Elo toma seu lugar na Loja e depois, são despedidos pelo Venerável Mestre, retirando-se, silenciosamente, em direção ao Atrio e após, à Sala dos Passos Perdidos, onde retomam a atividade profana. Restabelecidos nas suas energias, cada Maçom retorna ao Lar onde os seus familiares o aguardam; recebem o membro da Família, recomposto, apto a prosseguir a sua jornada, do dia de amanhã.

Fonte: Livro “RITO ESCOCÊS ANTIGO E ACEITO, LOJA DE PERFEIÇÃO”

Estudo do Irmão Rizardo de Camino

Por José Pedroso

Frutal 19/09/2010

Josepedroso
Enviado por Josepedroso em 19/09/2010
Reeditado em 08/07/2023
Código do texto: T2507413
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