A lua nao quer nascer agora

A LUA NÃO QUER NASCER AGORA

A lua não quer nascer agora, está esperando eu dormir. Deu-me chances a semana passada e foi indo até desanimar de mim. Está escondida atrás da serra. Tenho até vontade de subir lá e tentar conseguir vê-la, mas não tenho certeza se vai me esperar. Talvez volte e esconda numa serra mais longe ainda. Como uma ex-mulher, fica de picuinha porque não lhe dei o devido valor na hora que se abriu para mim. Coisas da vida.

Não consigo olhar para estrela do sol eternamente porque não gosto da mesmice. Nem para qualquer cheia da lua. Tudo deveria ser espontâneo e natural. Quer coisa mais linda do que ver a lua nascer na serra? Mas nenhum ser humano acharia lindo se fosse obrigado a ver toda vez que ela nascesse. Se tornaria uma mesmice.

Assim nos foi induzida a vida. No casamento, por exemplo, o homem é um bicho sexualmente doente e quer que a mulher lhe faça o desejo seqüencialmente como nasce o sol; em contrapartida, a mulher depois de determinado tempo só tem o desejo numa novidade. Coisa rara na mesmice da vida capitalista. Daí, alguns críticos ou humoristas tem a mania de falar que quem gosta daquilo é veado porque mulher gosta mesmo é de dinheiro. Idiotas, empregados da mídia.

Porque não se faz um estudo sério sobre o assunto? A mídia mais assistida fala de tudo que dá ibope menos sobre assuntos sérios que prejudica tanto as relações. Assisti a um filme infantil junto com meu filho de oito onde o pai tinha um controle universal. Na hora da relação, meu filho tapou o rosto com o travesseiro e quando a mulher pediu um carinho antes, o cara apertou o controle que fez pular essa parte da vida dos dois. Estava com muita pressa.

Bom, estou com sono e amanhã o sol nascerá novamente. Talvez sonhe com alguém nos reeducando; dizendo-me que:

Se a cama de meu rangia todo dia

É porque para minha mãe faltou alegria

Talvez meu pai não sabia

Que quando a luz do sol urgia

Da lua minha mãe não sabia.

Detesto ficar rimando, mas preciso agora. Hoje, 23/08/l0. Noite de lua cheia de um agosto seco como sempre.

Tento rimar ou remar para o futuro:

Aos meus filhos:

Uma reeducação

A minhas filhas

Uma reestruturação

Não se esqueçam dos pais

Nem dos avôs do passado

Mas também não esqueçam

Que nenhum dos dois foi letrado

Aos meus filhos:

Olhem para o sol

A minhas filhas:

Olhem para a lua

Aos dois eu diria:

Nenhuma coisa pode ser só sua.

JOSÉ EDUARDO ANTUNES

Zeduardo
Enviado por Zeduardo em 29/08/2010
Código do texto: T2466285
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