A importância de Rachel de Queiroz para a literatura brasileira
Rachel de Queiroz, em 2010, completaria 100 anos de existência caso estivesse viva. Agora, o que levaria essa mulher oriunda do sertão a ocupar um lugar tão alto e tão prestigiado no ambiente literário brasileiro? Qual a real importância de Rachel de Queiroz para a literatura brasileira? Para responder a essas perguntas, é necessário recorrer à história biográfica e literária dessa escritora.
Rachel de Queiroz nasceu em Fortaleza, Ceará, no dia 17 de novembro de 1910. Filha de Daniel de Queiroz e Clotilde Franklin de Queiroz. Rachel passou boa parte dos primeiros anos da infância na Fazenda Junco no sertão de Quixadá (Ce), mas a outra parte foi vivida no Pará, no Rio de Janeiro e em Guaramiranga (Ce). Em Fortaleza, viveu a adolescência. Contudo, é no sertão em que estão fincadas as raízes existenciais e literárias de Rachel.
Ela estreou na imprensa cearense no jornal O Ceará no final da década de 1920, quando escrevia crônicas e poemas de teor modernista com o pseudônimo Rita de Queluz. Dessa forma, ela começou a se destacar na literatura da terra natal, entretanto, somente aos 20 anos, ficou conhecida nacionalmente ao publicar O Quinze em 1930. Este romance exibe a luta do povo nordestino contra a seca e a miséria. Ao abordar a preocupação com o aspecto social e ao analisar psicologicamente os personagens, Rachel obtém destaque no desenvolvimento do romance regionalista de temática social no Nordeste do Brasil. É importante observar que O Quinze foge à estrutura tradicional do romance social que explana a divisão de personagens entre ricos maus e pobres bons.
Rachel, além de ter atuado no meio literário sendo uma das precursoras do romance regionalista da 2ª fase do Modernismo no Brasil, também influenciou no ambiente político. Ela participou do Bloco Operário Camponês em Fortaleza, em 1928-1929. Já na década de 1930, em São Paulo, ela se filiou ao Sindicato dos Professores de Ensino Livre, que era comandado pelos trotskistas.
Em relação à produção literária de Rachel, é importante observar que ela não se limitou a crônicas, poemas e romances. Ela também escreveu peças teatrais, como Lampião (1953) e A beata Maria do Egito (1958), e foi responsável pela tradução de diversos romances e biografias. Humilhados e ofendidos (1944) de Fiódor Dostoiévski foi um dos romances traduzidos e Vida de Santa Teresa de Jesus (1946) foi uma das biografias traduzidas. É conveniente ressaltar que Rachel também teve um papel de grande relevância na crônica brasileira. Com uma linguagem direta e coloquial e com um olhar aguçado sobre o meio em que habitou, ela chegou a publicar mais de duas mil crônicas. A donzela e a moura torta, 100 Crônicas escolhidas, O brasileiro perplexo e O caçador de tatu são publicações de crônicas de Rachel.
Além disso, a escritora cearense mais uma vez entrou para a história literária no dia 4 de agosto de 1977, quando foi eleita para a cadeira 5 da Academia Brasileira de Letras, tornando-se a primeira mulher a ingressar nessa academia. Na ABL, ela sucedeu Cândido Mota Filho e foi recebida pelo acadêmico Adonias Filho em 4 de novembro de 1977.
A importância de Rachel para o meio literário brasileiro e até mundial foi bastante reconhecida tanto que isso lhe rendeu inúmeros prêmios, dentre eles: o título de Doutor Honoris Causa pela Universidade Federal do Ceará (1981) e pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro (2000); a Medalha Rio Branco, do Itamarati (1985) e o Prêmio Luís de Camões (1993). Ela também ganhou destaque na área televisiva, quando em 1994 a obra Memorial de Maria Moura (1992) foi adaptada numa minissérie apresentada pela Rede Globo.
Rachel de Queiroz faleceu em 4 de novembro de 2003, no Rio de Janeiro, mas permanece viva na obra em que escreveu e nos leitores que conquistou.
Logo, pode-se afirmar que Rachel de Queiroz projetou a alma do sertão e do povo tornando-os estrelas de suas obras literárias e, dessa forma, mudou a concepção de literatura no Brasil no início do século XX, tornando-se uma escritora de extrema importância no âmbito literário brasileiro.