Oh, Musa dos errantes sonhos!

Oh, Musa dos errante sonhos!

Oh, Musa dos errantes sonhos! Ouvi a voz deste pálido poeta que às beligerantes tempestades da emoção se entrega. Não ignorai as frásicas verdades que o livro da vida delega. Escutai a voz do vento. Apurai das incertezas da alma que tanto vos aflige... Penda aos ganchos de aço este vosso coração... Atinai para os lírios dos campos... Olhai quão lindos são... Atentai para as aves que ao céu de neon às nuvens entrecortado às plumas indeléveis se avivam e se entregam... Desafogai o espírito das inumanas materialidades do ser e deixai que as mazelas da razão se percam somente no campo da concentração...

Desatai das amarras deste condão tradicionalista... Acordai para a vida que lá fora vos espera de braços abertos... Rebelai e afrontai o medo que agora titubeia e serpeia... Rompei com os códigos heréticos da amarga sociologia... Rasgai ao meio a sufocante diretriz coalhada daquela horripilante e despropositada terminologia, quiçá àquela de quem ao muro da intolerância a escreveu, orquestrou, impôs e assim a quis... Afastai de vez desse hieróglifo versado e sobrestado... E coletai somente as alíneas destas metáforas que à vista já estão por sobre este tablado... Ademais, tudo vos é ultrapassado.

Às saturnais verdades, observai o relógio à sombra das entrelinhas: o tempo urge, presenteia e promete... Decodificai-o. Não remai de encontro às ondas dos álgidos decretos, pois os ponteiros acoplados a este tétrico marcador não obedecem às leis das generosidades, mas, sim, sulcam as faces com os seus morteiros decrépitos... Arredai. Não ignorai as sapientes realidades que à frente o horizonte delineia e margeia. Apagai as páginas torvas do ontem e deixai que as pétalas do hoje a impregnem de nostálgicas esperanças, como a névoa ao sol às meladas malícias se dissolve e ao ar borrifa aquelas fragrâncias enoveladas de suaves e puras carícias.

E, quando o sol da existência já tiver se escondido no ocidente, os ornitópteros repousados no breu entrecortado da natura, a lua alcançado os altos céus cerre as vossas retinas e ajoelhai ante ao oráculo e escalai os fios invisíveis da oração em ledice pela tão nobre, inebriante e acertada composição, pois, ao contrário, a onda dessa sociedade alternativa há de vos definhar à inusitada razão de antes e no ato final ser-vos-á consumida pela fogueira da ilusória expectativa... Na tardia loquacidade perceberá como poderia ter sido bom aquele renegado e belo oriente que vos deixara gotejar e refluir pelos desvãos destas pálidas pupilas, hoje ‘per si’ transformadas em negras cinzas pelo insidioso, efêmero, cruel e inexistente conchavo...

Pálido poeta
Enviado por Pálido poeta em 17/08/2010
Reeditado em 04/09/2010
Código do texto: T2443917
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