Isabel Allende: seus pensares na Flip!

Veias Abertas

Isabel Allende começou no jornalismo aos 17 anos. É uma peruana naturalizada chilena que teve sua estréia na literatura com "A Casa dos Espíritos", em que utilizou os manuscritos das cartas que escreveu para seu avô para retratar os fantasmas da ditadura de Augusto Pinochet.

A sua fala veio ao encontro do tema da mesa, “Veias Abertas”, referência a um livro do uruguaio Eduardo Galeano, formado por conteúdos densos. A escritora contou de sempre iniciar a escrita dos seus livros num dia 8 de janeiro, numa edícula junto à sua casa, onde acende velas e prepara um cerimonial. Ela disse com naturalidade: “Cada novo livro é como entrar em uma caverna escura, de onde precisarei arrancar os personagens e suas histórias. Penso que eles existem de verdade, há uma coisa que não é minha, que vem dos espíritos”.

Outra coisa interessante da escritora foi o seu encontro com Pablo Neruda na sua casa na “Isla Negra”. Isabel nos remete ao encontro:

“Ele passeou comigo pela casa mostrando todas as suas coleções de porcarias. Depois de horas ele me fala”:

“Você é uma má jornalista mente muito. Penso que você devia escrever romance!”

Isabel mostra uma certeza ao dizer sobre o seu trabalho literário: “Creio que se eu não saísse do Chile por causa do sangrento Golpe Militar não teria partido para a escrita. Eu comecei a escrever por necessidade pela angustia que sofria no momento”.

A autora conta que o seu pai foi embora e nunca mais procurou sua família. Um dia me chamaram para reconhecer o cadáver. Meu padrasto olhou para mim e falou:

“Olhe este é o seu pai!” A sociedade dos anos 40 era muito discriminadora e o único da família que continuou nos vendo depois do sumiço do meu pai foi o meu tio Salvador Allende. Deste modo, pude conhecê-lo um pouco.”

Um ponto penso ser primordial na sua fala alegre e instigante e teve a aclamação do publico presente:

“Nunca entendi o feminino como uma guerra contra os homens, mas eu tenho uma batalha contra o machismo. Vou dar um exemplo: Duas mulheres estão andando por uma rua deserta e se cruzam num certo ponto. Uma passa pela outra e nada acontece. Contudo, se uma mulher estiver andando em uma rua deserta e um homem bem maior que ela vier ao seu encontro, o medo se instala! Precisa acabar com a testosterona! Para termos sexo poderíamos dar uma pílula deste hormônio esteróide para eles com certo tempo de duração! Somos mulheres privilegiadas. Mas 80% das mulheres no mundo não vivem como nós. Nossa obrigação é lutar por elas. Feminismo é uma forma de ajudarmos umas às outras e não como uma guerra contra os homens”, concluiu.

Isabel Allende lançou durante a Flip, o mais recente livro de sua autoria: A ilha sob o mar.

A obra é lançada depois de três anos sem que ela publicasse novos trabalhos. O livro conta a história da escrava Zarifé, que emigra do Haiti para Nova Orleans, nos Estados Unidos da América.

“Minha primeira intenção não era escrever sobre a escravatura. Era escrever sobre Nova Orleans e quando comecei a pesquisa para o livro, descobri que chegaram a Nova Orleans milhares de refugiados que escaparam da revolta dos escravos no Haiti”.

Isabel conta, que esses refugiados eram colonos franceses que trouxeram escravos domésticos e compuseram uma classe social de negros livres em Nova Orleans.

Para a autora, que coleciona entre seus 18 livros publicados em mais de trinta idiomas, obras de história e de ficção, em que as características mais citadas nas histórias, estão à presença de personagens femininos fortes e de enredos envolvendo relações de poder e justiça. Conta Isabel, que esse foco de interesse tem uma justificativa pessoal.

“O interesse pelo poder e abuso do poder começou para mim com o golpe militar do Chile (1973) quando, em 24 horas, eu vi o que era o poder da ditadura militar. Eles podiam fazer o que queriam.

Então, diante de toda essa crueza ela começou a escrever!