As representações de solidão em contos brasileiros contemporâneos: esboço para um projeto de pesquisa

A noção ou o sentimento de solidão e exílio se apresenta necessariamente como o resultado da contingência diversificada de estar-no-mundo. Diante dessa diversidade existencial o homem se vê delimitado não somente por sua consciência histórica que a todo tempo lhe apresenta a sua mudança física e psicológica, mas também pela sua individualidade fragmentada. Cada vez mais perplexo diante da realidade que se lhe apresenta (o homem) se vê por um lado como multi-identitário, pois diversas são as identidades do seu eu e dos outros, e de outro da relação que se processa entre ele e o meio. Está inserido, por conseguinte, na cotidianidade com valores já não tão valorizados como outrora, com sua complexidade onde o que impera é não mais um discurso abrangente e totalizador, mas o diverso e incerto existir frente a angústia da vacuidade e da “inumanidade” marcada pela herança heideggeriana do nada.

Certamente podemos dizer que o que há de mais fundamental na filosofia de Heidegger (1889 – 1976) é a busca criteriosa e profunda pelo “sentido do ser”. Ao longo da história da filosofia essa questão não parece ter sido tão bem aprofundada até as primeiras indagações ensimesmadas desse filósofo. É evidente que aqui não nos aprofundaremos na filosofia desse pensador. Mas também não se nos afigura criteriosa a busca pela compreensão por algo com características tão existenciais com é o caso da solidão. Dessa forma, podemos compreender o primeiro ponto fundamental dessa investigação. Assim pensamos: para compreendermos o “sentido do ser”, como bem dizia o pensador em questão, primeiro devemos indagarmo-nos como o ser , nesse caso o ser solitário, é representado, sobretudo, em textos (contos) literários contemporâneos.

Assim, é necessário compreender que nesse momento hodierno em que as pessoas se apresentam umas para as outras como uma espécie de “coeficientes habitacionais” o sujeito tem a sua personalidade marcada, inevitavelmente, por essa realidade. De acordo com Salvelina Silva, o que é possível para o sujeito vislumbrar diante de todas essas conjecturas e assertivas que o momento exige? “Apenas a facticidade, a gratuidade de existir, a vacuidade de ser, o vazio circunjacente, o silêncio fantasmagórico”. Para essa autora é nesse ponto que se instala o exílio e as suas formas. “Enquanto ruptura o exílio funda estética e produz arte”.

Posto isso alguém pode questionar com o objetivo de entender o porquê de textos literários (nesse caso contos) apresentarem uma profundidade tão necessária e relevante sobre o ser humano. A essa possível indagação podemos responder sem titubear que a prosa de ficção contemporânea se volta para indagações existenciais que da sua forma angustiam e marcam decisivamente o sujeito.

A prosa de ficção intimista contemporânea está voltada para a indagação do que existe de mais recôndito no ser humano: os dados da consciência (sentimentos, sensações, pensamentos) do presente interagem com os do passado, dando-lhes nova existência. Assim, na narrativa de “tensão interiorizada”, a personagem nuclear não se dispõe a enfrentar a antinomia “eu/mundo” pela ação, porém, subjetivar o conflito num incessante retorno ao passado (Benilde, 2005).

Observamos que na literatura contemporânea esse conjunto de características não se limita exclusivamente apenas a prosa de ficção intimista. Isso pelo fato de que os sujeitos de uma forma geral estão buscando um melhor conhecimento de si próprio, e aqui vemos algo distinguidor e característico. É que os sujeitos contemporâneos estão buscando esse conhecimento não por seu próprio olhar, mas pelo olhar do outro. É por esse motivo que Benilde destaca, na sua observação, a importância do regresso ao passado. Estratégia estilística tão bem explorada por escritores de uma forma geral. Retornar ao passado é buscar a autenticidade de suas vidas não mais encontrada nessa contemporaneidade de apreensão marcada pelo contato com o outro e pela solidão.

Dessa forma, compreendemos ser necessário refletirmos sobre as diversas representações de solidão ligadas, indubitavelmente, a questão do sujeito. De como estes sujeitos são representados e os motivos de a solidão ser característica tão presente nas vidas das pessoas nessa contemporaneidade.

Compreendemos também que diversas imagens surgem na mente das pessoas quando questionadas sobre o que viria a ser de fato solidão. Na mentalidade das pessoas ela (a solidão) está relacionada a reclusão, isolamento, tristeza, melancolia. Posto que a literatura acaba em muitos momentos por espelhar a vida dos seres humanos se faz necessários compreendermos como certas características presentes nela representam estes sujeitos.

Leon Cardoso
Enviado por Leon Cardoso em 31/07/2010
Reeditado em 15/08/2016
Código do texto: T2409973
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