L.E.R. – Lendo Escutando e Recontando – Parte Final
Se for a primeira vez que você está lendo sobre esse artigo, convido-o a visitar os artigos anteriores: primeira, segunda e terceira parte, antes do final onde falarei sobre recontar.
“Dá-me a tua mão: Vou agora te contar como entrei no inexpressivo, que sempre foi a minha busca cega e secreta.” Clarice Lispector
A história é viva, a palavra é viva, sempre ouvimos falar sobre isso, mas o que a mantém viva?
Já se perguntou como a história se manteve quando não havia jornais e internet, ou nos lugares onde a verdade foi proibida por certos governantes? Como se aprende algumas das coisas proibidas na China ou se descobre notícias antes de publicadas? E os grandes mestre da antiguidade, alguns pregando livremente, outros ensinando em antigas sociedades secretas ou como Dell Debbio costuma dizer “atualmente sociedades discretas”, como as histórias se mantém circulando por séculos?
Num primeiro pensamento diríamos, porque estão devidamente registradas escritas e guardadas, mas pense em quantos livros foram escritos e talvez nem saiam das gavetas dos seus autores.
Uma história contada pode-se dizer nascida, mas sós as recontadas continuam vivas!
Gostamos muito de falar é óbvio, senão o que é sucesso hoje não passaria do primeiro dia, recontamos o filme, a partida de futebol, notícias dos jornais, histórias que escutamos sejam reais ou imaginárias. O ato de passar uma história a frente mantendo-a viva é muito forte e poderoso, qual de nós não ouviu dizer que uma mentira repetida mil vezes se torna uma verdade, vocês já viram como as fofocas vendem mais que outras notícias?
Acostumamos a falar que contamos histórias, por isso não nos atentamos ao fato de que, na maioria das vezes, estamos recontando a história. Um cantor aprende a música e nos reconta ela cantando, ou melhor, recantando-a lindamente e o que dizermos então dos atores, que nos recontam a história através de suas encenações. Humoristas recontam piadas e se puder dão uma apimentada e a parte que mais gosto, contadores de histórias recontam para alegrar a criançada.
Para o escritor recontar é um dos, senão o principal meio usado para escrever. Em um romance, por exemplo, ao criar a historia ele visualiza o local, os personagens, imagina roupas, cenários, quem morrerá ou viverá, apaixonar-se-á ou não, suas personalidades como herói ou vilão e depois reconta a historia para nós através das linhas no papel.
Quando lemos uma história que vale a pena ser contada, sabemos que o escritor conseguiu nos passar sua visão interior de um modo que afeta a nossa prazerosamente. Uma visão interior mais abrangente do mundo que nos cerca vem do o ato de ler plenamente, assim como qualquer um pode fazer usando os princípios destacados nessa série de artigos sobre a arte de L.E.R.:
Lendo muito e sentindo o texto, absorvendo a essência dele, entendendo o porquê de cada detalhe.
Escutando as palavras do personagem ou do contador da história, sentindo tudo real e além do imaginário.
Recontando a história e acrescentando o seu olhar a ela, seus sentimentos, o que ela lhe passou e ensinou.
Recontar é primeiro passo de uma história viva que dará voltas ao mundo, reconte seus passos, sua vida, o filme, a piada, enfim, todas as histórias que lhe deram prazer, mostre aos outros do que você está sendo formado e depois, através de suas próprias histórias, nos mostre quem é você!
N. do A. - Publicado Originalmente no Blog Descortinamento Mental, quinta-feira, 29 de abril de 2010.
Esse texto é a parte final de um artigo dividido em quatro partes para ser publicado no site Prosa em Verso, você encontrará as três primeiras partes na Coluna Visão Interior.